
João Sobreira de Moura Neto
1º vice-presidente da APM
Publicado na edição 730 – jan/fev de 2022 da Revista da APM
Foto: Arquivo APM
Estamos acompanhando perplexos os acontecimentos recentes na saúde suplementar brasileira, que trazem transtorno e insegurança a todos os envolvidos, pacientes, médicos e demais profissionais do setor.
Por um lado, vemos quase que diariamente notícias dos clientes da Amil enfrentando os mais diversos contratempos por conta da transferência de 330 mil usuários para a Assistência Personalizada à Saúde (APS) – empresa que o United Health Group Brasil tenta comercializar para investidores da Fiord Capital, ao mesmo tempo em que desampara os consumidores.
Insegurança, descredenciamentos, negativas de coberturas e dificuldades para a marcação de consultas e procedimentos são apenas alguns exemplos dos prejuízos que os usuários têm enfrentado. Do nosso lado, os colegas ficam impedidos de acompanhar e prover o melhor tratamento a seus pacientes.
Há alguns anos, também acompanhamos o crescimento da verticalização na saúde suplementar e de grandes grupos que operam desta forma. A Hapvida, que incorporou dezenas de empresas no interior de São Paulo, agora se funde à Notredame/Intermédica, em operação aprovada recentemente pelo Cade e que envolve 14 milhões de vidas e 18% do mercado de planos de saúde e odontológicos.
O objetivo de transações como essas nos é muito claro: reduzir custos e aumentar a lucratividade das empresas. Os médicos que trabalham em serviços verticalizados são obrigados a atender muitos pacientes por hora, muitas vezes sem a autonomia de prescrever os tratamentos que julgam mais adequados, em detrimento de soluções mais baratas. A interferência chega até ao ponto de reduzir tempo de internações, sem levar o bem-estar do paciente em consideração.
Em meio a tudo isso, todos os dias ainda somos bombardeados com tentativas de reduzir as coberturas obrigatórias dos planos de saúde, seja por meio de projetos de lei ou de demandas judiciais. O rol de procedimentos da ANS, que já não atende plenamente as necessidades dos médicos e pacientes, e não acompanha os avanços da Saúde, corre o risco de ficar ainda menor.
Os médicos não podem se calar e ficar alheios à situação! A Associação Paulista de Medicina, a Associação Médica Brasileira, as sociedades de especialidades e outras entidades médicas e de defesa do consumidor estão atentas e atuando para evitar problemas ainda maiores para a sociedade.