Anvisa aprova nova vacina contra dengue

Imunizante da farmacêutica Takeda tem alta eficácia contra os quatro sorotipos e pode ser usado por quem já teve ou não a doença. Para especialista da SBI, ‘cenário é otimista' para incorporação pelo SUS

O que diz a mídia

Imunizante da farmacêutica Takeda tem alta eficácia contra os quatro sorotipos e pode ser usado por quem já teve ou não a doença. Para especialista da SBI, ‘cenário é otimista’ para incorporação pelo SUS.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, na noite de ontem, o registro de uma nova vacina para a prevenção da dengue. O imunizante Qdenga da empresa Takeda Pharma é composto por uatro diferentes sorotipos o vírus causador da doença, conferindo assim uma ampla proteção para quem teve ou não a enfermidade.
Essaé a segunda vacinacon- tra a dengue aprovada no Bra- sil. A primeira — Dengvaxia, da Sanofi — está disponível apenas em clínicas privadas, é indicada somente para evitar reinfecções, que costumam ser mais graves, e tem o públi- co-alvo restrito: pessoas de 9 a 45 anos que foram contaminadas anteriormente. Por isso, não é a principal estratégia de combate ao vírus.
O novo imunizante pode ser aplicado em crianças acima de 4 anos, adolescentes e adultos até 60 anos de idade, inclusive aqueles que nunca foram infectados.
Seu esquema de aplicação será com duas doses e intervalo de três meses entre elas. A administração é subcutânea.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de In- fectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), há grande chance da nova vacina ser incorporada ao SUS.
—Agente [da SBI ] conversou no fim do ano com o governo de transição e, o que posso dizer, é que com essa equipe do Ministério da Saúde, Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec)ecomanova configuração do Programa Nacional de Imunizações, existe um cenário muito mais otimista para que seja implementada no SUS. E lógico ue depende de negociação e valores, mas é altamente desejável que seja feito, especialmente para pessoas de maior risco.
ALTA EFICÁCIA Na avaliação clínica da vacina foi demonstrada uma eficácia geral de 80,2% contra a dengue causada por qualquer so- rotipo e independente de situação sorológica de base para dengue (quem teve ou não a doença) em 12 meses após administração da vacina. De acordo com Naime Barbosa, essa eficácia de 80% é contra casos leves, passando para cerca de 95% em relação a casos graves e mortes.
— [Essa aprovação] E uma das estratégias de prevenção mais esperadas, visto que no passado batemos o recorde de óbitos, com mais de mil mortes. Isso era extremamente aguardado porque a gravidade só está aumentando. Esse começo de ano também está horrível. É uma ferramenta fantástica — afirma o vice-presi- dentedaSBl.
A demonstração da eficácia da vacina Qdenga tem suporte principalmente nos resultados de um estudo de larga escala, de fase 3 (final), randomizado e controlado por placebo, conduzido em países endêmicos para dengue com o objetivo de avaliar a eficácia, segurança e imunoge- nicidade da vacina.
Segundo a pediatra Vivian Lee, diretora de Medicai Af- fairs da Takeda no Brasil, os estudos foram feitos ao longo de quatro anos e meio, em mais de 20 mil crianças e adultos em 13 países endêmicos da Ásia e Ámérica Latina.
— Há grande potencial de proteção da população a longo prazo, ao lado do combate ao mosquito —disse Lee.
A vacina Qdenga também foi avaliada pela agência sanitária europeia (EMA), tendo recebido uma recomendação positiva para ser utilizada em países de baixa e média renda fora do bloco, e tendo sua comercialização aprovada na União Européia em dezembro de 2022.
“Duranteaanálisetécnica realizada pela Anvisa, realizou-se um painel para a discussão de alguns pontos do processo de registro com especialistas do país que têm notório saber sobre a doença”, afirmou a agência regu- lamentadora, em nota. “Essa discussão ocorreu em 10/ 01/2023 e em seguida os especialistas apresentaram um parecer opinativo sobre o produto e sobre as condições de uso pleiteadas pela empresa, com o objetivo de subsidiar a análise realizada pelos técnicos da Agência.” A concessão do registro pela Anvisa permite a comercialização do produto no país. A vacina segue sujeita ao monitoramento de eventos adversos por meio de ações de farmacovigiláncia.
RECORDE Em 2022, o Brasil bateu não apenas o recorde histórico de maior número de mortes durante um ano, como também ultrapassou pela primeira vez a marca de mil óbitos no período de 12 meses. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 1.016 vítimas da doença, 313% a mais que as 246 registradas no ano anterior, e 3% superior às 986 em 2015, ano mais letal até então. Outras 109 mortes ainda estão em análise.

Fonte: O Globo