Especialistas discutem hipertensão arterial em Webinar APM

Na última quarta-feira, 3 de novembro, em seu canal no YouTube, a Associação Paulista de Medicina (APM) transmitiu mais uma edição de seu webinar, desta vez discutindo os diferentes aspectos e abordagens em relação à hipertensão arterial, contando com a participação de especialistas de diferentes áreas. José Luiz Gomes do Amaral, presidente da entidade, apresentou o encontro.

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Na última quarta-feira, 3 de novembro, em seu canal no YouTube, a Associação Paulista de Medicina (APM) transmitiu mais uma edição de seu webinar, desta vez discutindo os diferentes aspectos e abordagens em relação à hipertensão arterial, contando com a participação de especialistas de diferentes áreas. José Luiz Gomes do Amaral, presidente da entidade, apresentou o encontro.

Paulo Manuel Pêgo Fernandes, diretor Científico da Associação e moderador do Webinar APM, foi o responsável por apresentar os convidados: o cardiologista Luiz Aparecido Bortolotto, diretor da Unidade de Hipertensão do InCor, e a nefrologista Andrea Pio Abreu, secretária geral da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

“Hoje, temos um tema de absoluta importância. A hipertensão arterial, como veremos com os palestrantes, é uma doença altamente prevalente e subdiagnosticada. Muitas vezes, é insidiosa e, por isso, tão problemática. Dentro disso, trouxemos visões complementares de alguém da Cardiologia e de alguém da Nefrologia”, disse Fernandes durante a abertura.

Visão do cardiologista
Bortolotto tentou trazer uma abordagem sob um ângulo distinto, questionando: a hipertensão é só um número? Para isso, ele apresentou as diretrizes mais recentes ao redor do globo. No Brasil e na Europa, por exemplo, são considerados hipertensos indivíduos cuja pressão arterial seja igual ou maior a 140/90. Nos Estados Unidos, entretanto, esses valores são de 130/80.

“Essa discussão não vem de hoje. Vendo essas definições numéricas, inclusive da diretriz brasileira publicada em 2020, sempre brinco: se minha pressão estiver em 134/84 nos Estados Unidos, serei hipertenso, mas não no Brasil. Que tipo de doença é essa que muda conforme o país?”, indagou.

Com a anedota, o especialista chamou a atenção para o fato de que, sim, os números são relevantes, mas o conceito da hipertensão vai muito além deles – remetendo, inclusive, a um tempo em que não havia medição da pressão. “Há um tratado de Medicina do Imperador Amarelo, na China de quase 3.000 A.C., que dizia que ao apalpar o pulso prolongado, amplo e vigoroso, o indivíduo estava doente. Uma doença que o deixaria incapaz de falar. Hoje, sabemos que se trata do acidente vascular cerebral (AVC)”, relatou.

Saltando alguns séculos, o palestrante, que é professor livre-docente do Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), lembrou de quando Richard Bright, em 1827, indicou que a rigidez do pulso estava associada à proteína coagulável na urina, edema, cardiomegalia e alterações renais, com risco de AVC e infarto. “Somente depois vieram os números.”

Visão da nefrologista
Segundo Andrea, é comum que os nefrologistas enxerguem tudo com “os rins diante de nossos olhos”. Para a doutora em Nefrologia pela FMUSP, há uma justificativa: é sabido que os mecanismos fisiopatológicos da hipertensão envolvem importantes mecanismos renais, como o da natriurese pressórica, e elementos que atuam, inclusive, dentro do controle da pressão arterial.

“Clinicamente, o nefrologista enxerga a hipertensão dentro de dois contextos. Primeiro, como causa de lesões de órgão-alvo, mas também como hipertensão como consequências de outras doenças”, explicou.

Entre esses grupos, estão muitos pacientes com suspeita de hipertensão secundária que, normalmente, possuem uma hipertensão renovascular ou uma nefropatia parenquimatosa – ou seja, como indicou a especialista, casos em que uma doença renal crônica é causa da hipertensão. “Também encontramos pacientes que têm hipertensão e alteração da função renal – como uma nefroesclerose hipertensiva. Assim, a doença renal crônica atua como consequência”, detalhou.

Ela ressaltou ainda que, além desses contextos principais, há sempre pacientes hipertensos com situações mais específicas. “Vemos muitos com diabetes, a maior causa de doença crônica no mundo (a segunda no Brasil); muitos idosos, considerando a média de idade alta de pacientes com doença renal crônica; e acompanhamos muitas gestantes hipertensas, pacientes com insuficiência cardíaca e com distúrbios metabólicos”, listou.

Discussão
Após as palestras, o moderador convidou os especialistas a falarem um pouco sobre o papel do estilo de vida na equação da hipertensão no Brasil. “Partindo do pressuposto de que não tenho nenhuma causa anatômica e não quero me tornar hipertenso, o que devo fazer? Quanto disso é hereditário e quanto são maus hábitos que poderiam ser evitados?”, indagou Fernandes.

Segundo Bortolotto, é possível começar os cuidados ainda antes do nascimento, com os cuidados em epigenética. Ele explicou que o que acontece na gestação pode afetar o feto e ser um causador futuro da hipertensão. São fatores de risco: a hipertensão da gestante e o diabetes. Por isso, o cuidado deve começar no próprio ambiente gestacional.

“A partir daí, devemos adotar condutas. Vemos que poliformismo e mutações genéticas são responsáveis por poucos casos. Claro que o histórico familiar é importante, mas falamos de um conjunto, da interação genética e ambiente. Aí entra: não ser sedentário, consumir menos sal desde a infância, evitar a obesidade”, exemplificou o cardiologista.

Complementando, a nefrologista ressaltou que, dentro do cenário de hipertensos no Brasil, 20% deles são hipertensos resistentes. “Nessa população, encontramos prevalência de hipertensão secundária maior.” Ela também lamentou o fato de que, mesmo diante de tantas recomendações, o padrão de hipertensão não diminui no Brasil. Soma-se a isso o fato de um crescimento do diabetes e da obesidade no País e no mundo.

“Temos mais de 50% da população com sobrepeso, inclusive na faixa de idade pediátrica. Corretamente, a última diretriz brasileira de hipertensão incorporou a obesidade como causa secundária de hipertensão. Temos que levar isso em consideração. São muitos fatores predisponentes do indivíduo ao mesmo tempo em que temos muitos fatores comportamentais sem controle”, finalizou Andrea Abreu.

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