No ano em que completou quatro décadas de carreira e foi nomeado integrante da equipe da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, o diretor Científico da Associação Paulista de Medicina (APM) e chefe da Divisão de Cirurgia Torácica do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor – HCFMUSP), Paulo Manuel Pêgo Fernandes, participou do 500º transplante de pulmão no InCor, realizado em dezembro de 2022.
O procedimento – denominado “transplante pulmonar bilateral” – foi feito em uma paciente de 57 anos com bronquiectasia pulmonar, doença que causa a dilatação anormal e distorção irreversível dos brônquios. Desses 500 transplantes realizados no InCor, o médico esteve à frente de 400 e desde então, muitos avanços ocorreram na Medicina e na Tecnologia, a fim de melhorar a eficiência desses procedimentos no Brasil.
Entre eles, vale destacar que a preservação do pulmão aumentou a possibilidade do tempo de isquemia de 4 para 12 horas; os imunossupressores aumentaram a eficácia e diminuíram os efeitos colaterais; os fios cirúrgicos utilizados são melhores; as drogas anestésicas evoluíram, as UTIs foram aprimoradas e a monitorização do paciente é muito mais completa, além dos cuidados multiprofissionais, que são mais integrados.
O transplante de pulmão é uma intervenção cirúrgica que substitui um pulmão doente por outro saudável. De acordo com Paulo Pêgo, a principal indicação de transplante é para pacientes que têm expectativa de vida menor que dois anos. Após o procedimento, há uma grande melhora na qualidade de vida e um substancial aumento na expectativa. E com a pandemia de Covid-19, pacientes com lesão pulmonar irreversível passaram a fazer parte desta indicação.”
Os critérios de inclusão em lista de espera, segundo o diretor Científico, são muito técnicos e complexos. Os principais grupos de doença pulmonares são infecciosas/ supurativas (bronquiectasias e fibrose cística), restritivas (fibrose pulmonar), vasculares (hipertensão pulmonar) e obstrutivas crônicas (como o enfisema pulmonar).
Todos os pacientes passam por uma avaliação com uma equipe multidisciplinar. “Em média, a fila de transplante de pulmão dura aproximadamente 2 anos”, explica.
No Brasil, o primeiro transplante pulmonar foi realizado em 16 de maio de 1989, na Santa Casa de Porto Alegre/RS, referência na realização de transplantes no País e responsável por mais da metade dos procedimentos no estado, comandada pelo cirurgião torácico José Camargo. Pouco mais de um ano depois, no dia 16 de outubro de 1990, o InCor fez seu primeiro transplante de pulmão. O procedimento foi realizado em uma paciente de 26 anos, que na época tinha um quadro de fibrose pulmonar severa, além de hipertensão pulmonar secundária, provocando aumento da pressão na circulação pulmonar.
Conforme apresenta o médico, nos últimos anos, o InCor realizou entre 35 e 40 transplantes de pulmão por ano, sendo que em 2020 esse número foi reduzido para 23 devido à pandemia do coronavírus. “Em 2022, o InCor foi o centro que mais realizou transplantes de pulmão no País. No Brasil, existem muitos centros transplantadores que poderiam ser mais utilizados, mas acabam não sendo por falta de doações”, comenta.
Pêgo, que é também presidente Consultivo da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), citou que até 31 de dezembro do ano passado foram realizados 1.552 transplantes de pulmão no Brasil. “Em 2022, segundo a ABTO, o InCor foi responsável por 34,9% transplantes de pulmão realizados no País, equivalente a 36 procedimentos.”
Transplantes no mundo
O primeiro transplante pulmonar ocorreu em 1963, na Universidade de Mississippi, nos Estados Unidos, realizado pelas mãos do médico James D. Hardy em uma cirurgia que moveu o pulmão de um corpo para outro. Em todo o mundo, são 260 centros transplantadores cadastrados na International Society of Heart and Lung Transplantation (ISHLT).
Segundo os registros da ISHLT, foram 69.200 transplantes realizados no mundo. A ISHLT é uma organização profissional multidisciplinar, sem fins lucrativos, dedicada a melhorar o atendimento de pacientes com doenças cardíacas ou pulmonares avançadas, por meio de transplante, suporte mecânico e terapias inovadoras envolvendo pesquisa, educação e defesa.
40 anos de carreira
Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1982, Paulo Manuel Pêgo Fernandes fez residência de Cirurgia no Hospital das Clínicas da FMUSP, em 1983 e 1984, e em Cirurgia Cardiovascular no InCor no período de 1985 a 1988. Preceptor de Cirurgia Cardiovascular da instituição, no período de 1988 a 1990, concluiu o doutorado em Medicina (Clínica Cirúrgica) pela Universidade de São Paulo, em 1997.
É coordenador da Liga de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da FMUSP desde 1998. Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Torácica desde 2013. Foi coordenador do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Torácica e Cardiovascular de 2017 a 2021. Secretário Geral da Academia de Medicina de São Paulo e membro do corpo editorial da Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e do Jornal de Brasileiro de Pneumologia. É editor-chefe da São Paulo Medical Journal e da Revista Diagnóstico & Tratamento e vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP (2022-2026). Atua na área de Medicina, com ênfase em Cirurgia Torácica e Cardiovascular e é pesquisador CNPQ Nível 1C.