O imponderável e a incerteza

Estamos em um momento complexo da humanidade, em que estamos sendo surpreendidos quase diariamente com uma série de informações que, em outros tempos, ocorriam algumas vezes em cada década.

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Estamos em um momento complexo da humanidade, em que estamos sendo surpreendidos quase diariamente com uma série de informações que, em outros tempos, ocorriam algumas vezes em cada década. Mas, por que estas informações estão chegando cada vez mais rápido? Por que as mudanças estão acontecendo cada vez com mais frequência? Devemos resistir a essas mudanças ou nos adaptar a elas? 

Muitos de nós crescemos em um ambiente sem internet, no qual ter telefone em casa era um luxo. As viagens aéreas eram igualmente para poucos e requeriam, dentre outros detalhes, de vestimentas mais formais, e esperávamos ansiosamente pela refeição que seria servida. 

No entanto, todos esses diferenciais estão em profunda mutação, devido principalmente à “transformação digital” – que não necessariamente significa a adoção de tecnologia, mas sim o direcionamento para coleta e processamento de dados, criando informação e, posteriormente, inteligência. 

A tecnologia se tornou uma forma de coletar dados com mais frequência, entregando como recompensa, a quem cede os dados, a conveniência. Por exemplo, usamos o Waze sem custos, mas, por outro lado, entregamos diversas informações de nossos hábitos para a empresa, que as vende, não nominalmente, mas em forma de tendências. Podemos dizer o mesmo de várias outras empresas digitais e inovadoras.

A telefonia, da mesma forma, se tornou necessidade básica para todos os cidadãos, e associado a ela temos internet, banco, entretenimento, comunicação de texto, redes sociais e até telefone. Tudo entregando muita conveniência. A tecnologia de telefonia, ou digamos, de comunicação, vem também ampliando muito a aproximação das pessoas. Não precisamos mais sair de casa para conhecer pessoas diferentes, basta navegar nas redes sociais. 

O que isso nos traz de impactos? Eles são muitos, e crescentes. Considere que um influenciador de outro país comece a mostrar novas formas de se entreter. Podemos passar a adotar essa nova tendência, modificando a forma que consumimos muitos produtos e serviços. Estes mesmos influenciadores também podem mudar as nossas opiniões a respeito de política, hábitos, cultura, saúde ou das mais amplas possibilidades de agir, consumir e pensar. 

Essa é a realidade do nosso mundo. Quanto maior a comunicação, mais informações e maior a probabilidade de mudanças. E como estamos lidando com essa realidade? Estamos acompanhando ou resistindo? Queremos ser coadjuvantes ou protagonistas nessa crescente mudança?

Em muitos momentos da história, as civilizações buscaram impedir algumas mudanças, como na revolução industrial. Mais recentemente, houve muitos movimentos para barrar o Uber e as fintechs, entre outros. Porém, quase nenhum teve êxito, pois a inovação que traz valor é implacável, e entregando conveniência, é praticamente impossível de ser impedida.

A inovação tem duas consequências, sendo um bônus, que são todos os benefícios pelos quais é responsável, e um ônus, que são todos os problemas, a exemplo da substituição de produtos e serviços que algo novo pode impactar.

Devemos nos perguntar quando, e não se seremos impactados. As mudanças são a única certeza que temos. Temos que ficar atentos a tudo que está acontecendo ao nosso redor, pois quando a inovação chega, de forma sorrateira e transformadora, temos um único caminho, NOS ADAPTAR. E como já dito, temos que nos perguntar: Queremos ser COADJUVANTES ou PROTAGONISTAS? 

Fernando Arbache
Consultor independente de Educação pelo MIT e professor da FGV, HSM Educação, IBMEC e FATEC

Publicado na edição 734 – set/out de 2022 da Revista da APM