Projetos claros e definidos

É surpreendente a indefinição acerca do futuro de tantos médicos. Razoável seria distribuir as vagas de residência entre as especialidades que correspondam às ações de Saúde pretendidas. Impõe-se tê-las planejadas em cronograma definido, de sorte a otimizar a força de trabalho que se pretende qualificar.

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É surpreendente a indefinição acerca do futuro de tantos médicos. Razoável seria distribuir as vagas de residência entre as especialidades que correspondam às ações de Saúde pretendidas. Impõe-se tê-las planejadas em cronograma definido, de sorte a otimizar a força de trabalho que se pretende qualificar.

Em outras palavras, poderia ser definido o que fazer com os tantos médicos disponíveis, mas não há projetos consistentes à espera deles. As políticas de Saúde brasileira têm priorizado ações no provimento de formação em especialidades em vez de atentar para a criação de redes de atenção.

Na lógica atual de descentralização do sistema de Saúde, não há como antecipar intervenções com consistência e, consequentemente, não se pode definir política de formação dos recursos humanos necessários para executá-las.

Há que se ter em mente a limitadíssima capacidade da maioria dos municípios brasileiros em fazer face ao custo da atenção à saúde. Impões e urgente flexibilização do Sistema Único de Saúde (SUS) e revisão de sua descentralização.

Assim, a redistribuição de médicos e especialistas no País terá êxito se condicionada à implementação de projetos claros e definidos, que contemplem otimização dos recursos humanos e valorização dos profissionais e suas carreiras.

Em razoável extensão, é possível antecipar os problemas de saúde prevalentes nas próximas décadas, priorizá-los conforme sua relevância e traçar estratégias de enfrentamento, estimando o montante de recursos envolvidos e sua alocação.

Entre os elementos a considerar nesse contexto têm-se: a redução da taxa de fecundidade, o aumento da expectativa de vida, as mudanças rápidas da conformação da pirâmide etária, o deslocamento da atenção da saúde para doenças crônicas, o adensamento de núcleos populacionais e a acelerada mobilidade – trazendo oportunidades exponenciais de contatos e disseminação de enfermidades contagiosas -, as alterações climáticas e a sustentabilidade ambiental, os desastres naturais e aqueles associados ao incompleto domínio da tecnologia e a ameaça constante de conflitos militares e civis. Ao lado destes, têm-se: a universalização da informação, o progresso da ciência e a ampliação do acesso ao tratamento e da esperança de cura.

A avaliação dos perfis epidemiológicos nas diversas regiões do Planeta e em diferentes estágios de desenvolvimento social e econômico descortina possíveis realidades. O contato permanente dos especialistas brasileiros com seus correspondentes internacionais propicia conhecer intervenções fracassadas e exitosas e bem poderá orientar ações futuras.

Serão esses projetos os determinantes do dimensionamento de recursos financeiros e humanos a se mobilizar.

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina

Palavra do presidente publicada na Revista da APM – edição 702 – agosto 2018