Na última quarta-feira, 25 de junho, a Associação Paulista de Medicina promoveu o webinar “Asma: O que há de novo?”, com a participação de especialistas que abordaram os mais recentes avanços no entendimento e no tratamento da doença.
Antonio José Gonçalves, presidente da APM, falou da satisfação de debater este tema tão relevante. “Ocorreram muitos avanços ao longo dos anos, como as novas terapias biológicas e os anticorpos monoclonais, que têm mudado a realidade de quem enfrenta, especialmente, os casos mais graves. O foco agora é a personalização do tratamento, com controle rigoroso dos sintomas e acompanhamento contínuo. Essas inovações melhoram muito a qualidade de vida dos pacientes e reduzem as complicações”, destacou.
Os diretores Científicos da entidade, Paulo Pêgo Fernandes e Marianne Nakai, mediaram o encontro. “É uma satisfação falar sobre asma com as colegas Regina Carvalho Pinto e Mariah Prata, especialistas no assunto. Sabemos que o tratamento desta doença passou por mudanças importantes e, por isso, é fundamental atualizar os profissionais – tanto pneumologistas quanto médicos de outras áreas que lidam com pacientes asmáticos em seu dia a dia”, comentou Fernandes.
Novas abordagens
A pneumologista assistente do Grupo de Vias Aéreas do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Regina Carvalho Pinto, iniciou sua apresentação afirmando que, antes de falar de inovações relacionadas à asma, existe um longo caminho que vai perpassar pelo diagnóstico correto, entendimento dos objetivos do tratamento, fatores que dificultam o controle da doença e exames complementares que serão utilizados até chegar no tratamento personalizado.
“A asma é uma doença heterogênea, uma inflamação crônica e ocorre com a interação entre fatores genéticos e ambientais. Isso causa uma hiperresponsividade, responde a diversos estímulos que uma pessoa normal não responderia e pode levar à obstrução das vias aéreas – podendo ser reversível completamente em alguns casos e em outros, não. Essa reversibilidade pode ser espontânea ou com tratamento. Vale alertar que a asma tem uma peculiaridade, uma vez que os sintomas são episódicos”, explicou.
Segundo Regina, o diagnóstico da asma é clínico e, na maioria dos pacientes, a doença começa na infância – com tosse, chiado, dispneia e aperto no peito. “Normalmente, a gente encontra fatores desencadeantes para estes sintomas, geralmente, uma história pregressa. É fundamental uma boa anamnese dirigida para ajudar a classificar este paciente”, explicou.
Os principais exames para diagnosticar são provas funcionais – sendo o mais comum a espirometria –, Raio-X de tórax, hemograma e testes alérgicos. Quanto ao tratamento, a especialista destacou que há dois objetivos principais: manter o controle atual da doença – reduzindo sintomas e o uso de medicações e mantendo a função pulmonar –; e prevenir riscos futuros, como exacerbações, perda de função pulmonar e efeitos adversos do tratamento.
“A base do tratamento de asma é o corticoide inalado (CI), independente da etapa que o paciente esteja, ele terá alguma dose de corticoide inalado. Dependendo da etapa, terá um broncodilatador de longa duração associado. Outro ponto muito importante é nunca usar o broncodilatador de curta duração isoladamente”, orientou.
Sobre os casos mais graves, a médica explicou que apenas 5% a 10% dos pacientes com asma precisam de tratamento com imunobiológicos. “A grande maioria consegue resolver muto bem com medicações inalatórias,” complementou a especialista.
Casos clínicos
Mariah Prata, médica do Ambulatório de Asma Grave do Incor do HCFMUSP, trouxe para a discussão a realidade do cuidado da asma no Brasil, tanto na rede pública quanto privada. “O cenário atual é bastante dramático, muito por conta do paciente exacerbador e sintomático, que busca o hospital frequentemente. Lá, o atendimento primário no Pronto Atendimento é medicamento com corticoide sistêmico e/ou broncodilatador de início imediato. E acaba ficando neste círculo sem ter a oportunidade de ter um diagnóstico apropriado e um tratamento personalizado. Esse círculo acaba evoluindo para a progressão da doença”, esclareceu.
A médica citou alguns casos clínicos, entre eles, um paciente de 72 anos com histórico de bronquite desde a adolescência e sintomas diários de falta de ar. O paciente recorria ao pronto-socorro aproximadamente três vezes por ano e fazia uso excessivo de medicação. No exame clínico, nada chamou a atenção e o resultado foi uma asma não controlada.
Após o término do tratamento, os sintomas voltaram e o paciente foi orientado a retomar em função da cronicidade da doença. “Com a técnica inalatória, ele apresentou melhora completa e passou a ter acompanhamento com especialista trimestralmente.”



Fotos: Reprodução Webinar APM