Como forma de reforçar a importância do elo entre a Associação Paulista de Medicina e as sociedades de especialidades, no último sábado (11), a APM sediou o Fórum de Discussão da Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado, focado no tema “Atendimento ao traumatizado no Brasil”.
Os moderadores do evento se dividiram entre Antonio José Gonçalves, presidente da APM; José Gustavo Parreira, presidente da Sbait; Pedro Eder Portari Filho, presidente nacional do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Luiz Carlos Von Bahten, membro da mesma entidade.
Gonçalves relembrou a sua proximidade pessoal com a área do Trauma, salientando a importância de a Associação Paulista de Medicina ser palco de eventos das sociedades e, assim, reforçar a relação de parceria. “A APM tem uma ampla estrutura que precisa ser mais utilizada. Já tive diversas reuniões com sociedades de especialidades e a ideia é usar todo esse arcabouço que temos aqui em benefício da sociedade, do médico e, obviamente, da população.”
Pedro Portari manifestou a necessidade de fóruns de discussão serem organizados anualmente, já que representam um importante legado para a capacitação médica. “Todas as sociedades lidam com trauma, então é muito importante o que está acontecendo aqui hoje. Espero que coloquemos isso dentro da nossa agenda de uma forma contínua.”
Panorama brasileiro
José Gustavo Parreira falou sobre “Atendimento ao traumatizado no Brasil: a solução e o problema” e elencou que o atendimento integrado do paciente é indispensável para ter sucesso no tratamento. “Precisamos de força política para nos sentarmos à mesa e todos colocarmos as nossas dificuldades. Jogo o desafio de tentarmos juntar as outras especialidades para fazermos essa discussão.”
O especialista relembrou que pacientes traumatizados possuem uma série de complicações e que o trauma é ocasionado por uma série de causas e consequências. Segundo o médico, ao redor do mundo, mortes traumáticas somam mais vítimas que óbitos por HIV, tuberculose e malária, totalizando aproximadamente 5 milhões anualmente. No Brasil a situação é endêmica, de modo que, em 2022 – último ano em que os dados estão disponibilizados no Data SUS – houve 152 mil mortes por trauma no País.
“O que dá, mais ou menos, 420 mortes por dia, que acontece, principalmente, em adultos jovens economicamente ativos. Isso é algo contínuo, que vemos desde o começo dos anos 2000. É como se caísse um avião de grande porte todos os dias no Brasil, só que os corpos ficam espalhados pelo país inteiro e acabamos não percebendo”, explicou.
Para Parreira, os óbitos são apenas uma parte dentro de um problema muito mais complexo, já que, em sua opinião, as sequelas permanentes são ainda piores e trazem sofrimento pessoal, familiar e social. O médico fomentou que para o Brasil ter um atendimento de trauma que apresente resultados positivos, são necessários programas de qualidade, com cirurgiões treinados e hospitais certificados dentro de um sistema eficiente. “Qualidade é o trilho para tudo isso”, complementou.
Sistemas
Em seguida, Danilo Stanzani assumiu as apresentações, abordando o tema “Sistemas de trauma: como implantar este modelo no Brasil?”. Apresentando estudos que demonstram a efetividade do tratamento, o especialista ressaltou que não é possível ter sistemas de trauma se não há pesquisas, da mesma forma que não é viável realizar pesquisas se não houver informação. “Não dá para implementar um grande sistema de trauma se eu não tenho educação no tema. Nós precisamos de um plano nacional para efetivar este sistema no País”, disse.
Para que o atendimento seja frutífero e o sistema de trauma traga resultados promissores, é fundamental que haja organização. “Com protocolos de atendimento e triagem, planos de acionamento, informações e melhoria do sistema como um programa de qualidade. O paciente tem que ter uma admissão adequada, plantonistas especializados e reabilitação. A reinserção dele na sociedade também é uma coisa importante a se pensar, tudo isso na busca de qualidade e melhoria constante.”
Stanzani completou a fala relembrando que sistemas de trauma reduzem a mortalidade e os custos, indicando que, quanto mais maduros, mais eficientes serão. “Temos que ter dados brasileiros de trauma para que a população veja o problema que temos na área para, assim, trabalharmos sistematicamente tanto na prevenção quanto na reabilitação.”