Estima-se que um milhão de pessoas vivam com o HIV no Brasil, de acordo com o Unaids. Líder global na resposta ao vírus, o País foi o primeiro a oferecer tratamento antirretroviral gratuito a quem vive com HIV, direito assegurado pela Lei 9.313, de 1996, resultado também da força dos movimentos sociais.
Hoje, há diferentes métodos gratuitos de prevenção, diagnóstico e tratamento para todos os brasileiros. Na primeira frente da guerra contra o HIV, está o Sistema Único de Saúde (SUS), que disponibiliza insumos como preservativos (311 milhões foram distribuídos no ano passado), testagem (mais de nove milhões de autotestes no ano), exames de carga viral e medicamentos antirretrovirais, além de ofertar serviços de saúde abrangentes para pessoas que vivem com o HIV.
Desde 2018, o SUS também disponibiliza a profilaxia pré-exposição (PrEP), medicamento que previne o HIV. Trata-se de um avanço significativo na meta de reduzir o índice de novas infecções, em especial para populações-chave como pessoas trans, pessoas que fazem uso de drogas e profissionais do sexo. Outras conquistas históricas foram a descentralização das ações de prevenção para a Atenção Básica, o que reduz o deslocamento das pessoas, e a lei que obriga a preservação do sigilo sobre a condição de quem vive com HIV nos serviços de saúde, estabelecimentos de ensino, locais de trabalho, instituições públicas, processos judiciais e mídia.
Acesso desigual
As estatísticas e projeções do Unaids indicam que, no ano passado, o Brasil alcançou dois dos três objetivos da chamada “meta 95-95-95”: 96% das pessoas que vivem com HIV conhecem o diagnóstico e 95% das que passam por tratamento estão com a carga viral indetectável. Há, no entanto, um objetivo que ainda permanece distante do ideal: hoje, não mais que 82% das pessoas que sabem que vivem com HIV estão em tratamento antirretroviral.
“Celebramos esses resultados, que são muito valiosos para a resposta ao HIV, mas precisamos lembrar que existem populações que estão mais para trás e precisam ser consideradas para que a resposta seja equitativa e considere todas as pessoas em sua diversidade”, diz Andrea Boccardi Vidarte, diretora e representante do Unaids no Brasil. Para ela, o maior desafio do País em relação ao HIV está em reduzir as lacunas decorrentes das desigualdades sociais. “Os serviços existem, as ferramentas estão à disposição, mas precisamos que tudo isso chegue às pessoas”, observa, citando as populações LGBTQIA+, quilombola e indígena como alvos de preocupações específicas para a garantia de acesso a ferramentas de prevenção e tratamento.
“Ninguém deveria morrer de aids hoje no Brasil, mas isso continua acontecendo pela combinação entre demora do diagnóstico e falta de tratamento adequado”, diz Karen Arruda, diretora da Casa Miga, centro de acolhimento para o público LGBTQIA+ em Manaus, que tem seis internos e outros 48 pacientes em acompanhamento. “A adesão ao tratamento não é simples para boa parte das pessoas com HIV, principalmente pelo receio do estigma e da discriminação.” Por tudo isso, ela enfatiza, dispor de acompanhamento psicológico também é muito importante.
Para incentivar a adesão ao tratamento, o grupo Paravidda, que atua há 33 anos na assistência a pessoas de baixa renda vivendo com HIV em Belém, oferece uma cesta básica àquelas que cumprem a programação de consultas e tratamento, incluindo exigências como manter a vacinação em dia e participar de algumas palestras. “Percebemos que a segurança alimentar era a prioridade para as 1.500 pessoas que a instituição atende. Só quando esse problema está resolvido é possível pensar na própria saúde”, conta o presidente do grupo, Jair Santos. Como as cestas não têm patrocinadores fixos, o grupo conta com a solidariedade da população para viabilizar o benefício a cada mês.
Prevenção combinada
O que é?
• Associa diferentes ações de prevenção ao HIV
• Considera contextos individuais e momentos de vida das pessoas
• Alternativa ao uso exclusivo do preservativo
Por que é importante?
• Os relatos e dados mostram que o uso do preservativo nem sempre ocorre em todas as relações por causa de barreiras impostas pelo(a) parceiro(a)
As áreas de intervenção biomédica
• Métodos de barreira física (preservativos e gel lubrificante)
• Uso de antirretrovirais:
– Tratamento para pessoas vivendo com HIV
– Profilaxia Pós-Exposição (PEP)
– Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)
• Testes para diagnóstico oportuno (rápidos e autotestes)
Comportamental
• Educação sexual e campanhas de conscientização
• Redução de comportamentos de risco
Políticas públicas
• Acesso a serviços de saúde.
• Redução do estigma e discriminação.
Alguns resultados
• Ao atuar em populações-chave — profissionais do sexo e homens que fazem sexo com outros homens (HSH) —, os profissionais de saúde do Estado São Paulo conseguiram uma redução de 55% dos casos de contaminação em sete anos. O maior impacto está sendo registrado entre jovens de 15 e 29 anos.
Avanços mais recentes na pesquisa sobre HIV
São etapas que destacam a natureza dinâmica da pesquisa sobre HIV e o compromisso contínuo com a melhoria da prevenção, do tratamento e, eventualmente, da cura
Avanços rumo a uma cura para a aids
Pesquisadores fizeram progressos em estratégias para erradicar o HIV do corpo. Um estudo de 2024 introduziu uma partícula semelhante a um vírus capaz de ativar e eliminar eficazmente os reservatórios latentes do HIV em indivíduos com infecção crônica. Essa abordagem de “choque e eliminação” representa um passo significativo no desenvolvimento de uma possível cura.
Inovações no tratamento do HIV
Estudos recentes exploraram novas abordagens terapêuticas, como o uso de anticorpos amplamente neutralizantes (bNAbs). Pesquisas indicam que uma combinação cuidadosamente projetada de bNAbs pode suprimir o HIV-1 de forma eficaz, proporcionando uma alternativa à terapia antirretroviral tradicional. Essa estratégia busca reduzir a capacidade do vírus de escapar do tratamento e melhorar os resultados terapêuticos.
Transplantes de órgãos entre pessoas vivendo com HIV
Um estudo nos EUA em 2024 demonstrou que os transplantes de rins entre doadores e receptores HIV-positivos são seguros, com taxas de sucesso comparáveis aos transplantes de doadores HIV-negativos. Essa descoberta pode ampliar o número de doadores e reduzir o tempo de espera para transplantes de órgãos em pessoas vivendo com HIV.
Fonte: Estadão – confira aqui