Durante os dias 19 e 21 de junho, foi realizada a 45ª edição do Congresso da Sociedade de Cardiologia de São Paulo. O evento aconteceu no Transamérica Expo Center e reuniu uma série de temas de amplo interesse para os especialistas, entre eles, o “Panorama da Educação Médica”, apresentado por Gabriel Senise, médico perito e diretor Geral da Comissão Especial de Médicos Jovens da Associação Paulista de Medicina.
Durante a apresentação, Senise relembrou dados da Demografia Médica, demonstrando que no período de dez anos (de 2014 a 2024), o número de escolas médicas saltou de 252 para 448. A maior parte dessas instituições de ensino são particulares e demonstram que a educação médica se consolidou como um mercado lucrativo para grupos empresariais.
“No atual cenário, isso é um problema, pois a grande maioria dos cursos não conta com hospital de ensino e tem a distribuição dos graduandos em uma terceirização de estágios, em que são alocados em redes de Saúde sem qualificação e sem a estrutura suficiente para real formação”, explicou.
Especialização
Para Senise, educação médica é um tema completamente desafiador. Exemplo disso, é o que vem ocorrendo com as pós-graduações lato sensu, modalidade em que 41,2% dos cursos são aplicados a distância, com carga horária média de 507,63 horas e número de vagas que se aproximam de uma média de 31 – com dados limitados.
Tais cursos têm a duração consideravelmente reduzida quando comparados com a Residência Médica e costumam levar 13 meses para serem concluídos. Além disso, a maioria das instituições que oferecem esta modalidade, assim como acontece na graduação, também são privadas (somente 9,6% dos cursos são gratuitos), com valores elevados. Em algumas delas, a mensalidade pode ultrapassar os R$ 15 mil. Ademais, 72,5% das instituições estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste.
“Na formação médica, a qualidade do ensino é tão importante na graduação quanto na pós-graduação. A Residência Médica é um programa de treinamento em serviço com duração e carga horária integrais e variáveis conforme a especialidade médica, respeitando padrões rígidos pré-determinados por comissões e órgãos regulamentadores compostos pela sociedade Científica, conselhos profissionais e ministérios da Saúde e Educação.”
Na área da Cardiologia, o total de médicos residentes atualmente é de 1.324; o número de residentes no primeiro ano está em 691; e a taxa de crescimento da especialidade, de 2018 a 2024, foi de 14.2%.
Neste sentido, Senise acrescentou a importância da regionalização da Medicina para um País de dimensões continentais como o Brasil. “Não se trata de regionalizar apenas e somente a distribuição de médicos, mas também a Saúde com infraestrutura e outros profissionais da área para ofertar qualidade. Os serviços de ensino precisam contar com uma equipe treinada, preceptores e professores distribuídos com dedicação, além de um número suficiente de procedimentos e pacientes para formar um bom especialista.”
Desafios
Para Senise, a educação médica enfrenta notáveis desafios que se dividem entre a interiorização e a qualidade do ensino, formação dos docentes e preceptores, fixação dos médicos em territórios remotos, precarização de vínculos e da gestão do Sistema Único de Saúde, modelo federativo, participação da sociedade médica e desenvolvimento da Ciência, tecnologia e ensino.
“Não há caminho fácil e, apesar disso, a Medicina brasileira é uma das mais qualificadas do mundo. A única maneira possível custa caro, demanda um alto rigor fiscalizatório e regulamentar irá desagradar muitos setores da sociedade. É o caminho do fortalecimento do próprio SUS como programa de Estado e das carreiras de Estado docentes e médicas, como foi feito outrora para distribuir o Judiciário pelo País”, demonstrou.
O especialista colocou os trabalhos da Comissão Especial de Médicos Jovens e da Associação Paulista de Medicina à disposição da Socesp. “Sempre será um prazer e uma honra construir qualquer alternativa no caminho da formação de uma sociedade com mais ensino e mais Ciência. Os brasileiros merecem uma sociedade melhor e fazem parte do sacerdócio médico organizado, a fim de tornar o sistema mais justo, equalitário e saudável.”
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