Educação Médica é foco de reunião da Frente Parlamentar do Empreendedorismo

José Eduardo Lutaif Dolci, diretor Científico da AMB e delegado da APM, foi um dos palestrantes presentes

Últimas notícias

A Frente Parlamentar do Empreendedorismo realizou nesta terça-feira, 24 de junho, uma reunião sobre Educação Médica. O encontro ocorreu na sede da entidade, em Brasília – DF, no intuito de discutir a qualidade do ensino e as perspectivas para o futuro, e recebeu apresentações de José Eduardo Lutaif Dolci, diretor Científico da Associação Médica Brasileira (AMB) e delegado da Associação Paulista de Medicina, e José Antonio Maluf de Carvalho, diretor Técnico da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fesaúde/SP).

A ocasião também contou com a presença do diretor adjunto de Defesa Profissional da APM, Marun David Cury, do assessor parlamentar da instituição, Napoleão Puente Salles, além do deputado Joaquim Passarinho (PL) e do vice-presidente do Instituto Unidos Brasil, Antonio Castilho.

Dolci relembrou que desde a criação do Programa Mais Médicos, em 2013, vem ocorrendo um completo descontrole na abertura de escolas de Medicina ao redor do Brasil. Por meio da Demografia Médica, o médico demonstrou que de 2004 a 2013 houve a criação de 92 cursos, número que passou para 225 no período de 2014 a 2024.

“A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) recomenda que haja 3,7 médicos a cada mil habitantes. No Brasil, a expectativa é que, para 2035, tenhamos 5,2 mil médicos a cada mil habitantes. Isso passa para a população a ideia equivocada de que se tem médico então está tudo certo, mas no contexto atual, não existem recursos e nem estrutura para avaliar essas escolas e ninguém sabe a qualidade [desses profissionais]”, pontuou.

Segundo o especialista, um anuário lançado pelo IESS (Instituto de Estudos da Saúde Suplementar) aponta que o País registra mais de 19 milhões de interações por ano e mais de 36 mil óbitos, um montante que chega a quatro óbitos evitáveis por hora e que são ocasionados pela má formação. Além disso, o número de processos éticos contra médicos no Conselho Federal de Medicina aumentou 55% nos últimos anos.

“A proliferação indiscriminada e sem critérios vai mostrando agravamentos da formação e os impactos na segurança do paciente, que cada vez mais está em risco por causa da qualidade. Diante deste quadro de precariedade, o Exame de Proficiência, modelo que já é adotado pela Ordem dos Advogados do Brasil, se torna fundamental na Medicina. É imprescindível que façamos algo para avaliar a formação do médico que está se graduando”, argumentou.

Para Dolci, a melhor forma de as sociedades médicas agirem é conversando com parlamentares e demonstrando que o que buscam é um consenso em relação à qualidade do atendimento e à segurança do paciente. “Todos vocês sabem o quão valioso era um diploma de médico há 30 anos e hoje estamos vendo barbáries que colocam à prova este certificado. A qualidade e a competência jamais podem ser presumidas, elas, obrigatoriamente, devem ser comprovadas e isso só poderá ser feito por meio do exame que estamos solicitando.”

Futuro

Em seguida, José Maluf salientou que os preceitos da formação médica visam garantir o melhor diagnóstico, tratamento, recuperação e reabilitação do indivíduo para que, assim, ele volte à comunidade nas melhores condições possíveis. Para o palestrante, os médicos devem atuar de acordo com as melhores práticas definidas pela Ciência, aderindo aos protocolos institucionais de cuidado centrado no paciente.

Maluf indicou que atualmente os professores de Medicina não têm o preparo pedagógico adequado para o papel que ocupam e têm dificuldades de construir no aluno a visão de assistência. Ele também demonstrou que o sistema de Saúde do futuro deve contar com a participação de todos os atores – inclusive dos próprios pacientes – sendo sustentável e igualitário, com foco nas expectativas e com ótimos desfechos. É um sistema que precisa privilegiar a educação do paciente, a Saúde e a prevenção, com uma cultura de aprendizado constante e engajamento dos profissionais, focando em um serviço cada vez melhor.

“Nós ainda temos muitos desafios a cumprir. Incorporar médicos com uma formação frágil é inaceitável. Temos que preferir por médicos mais bem formados, senão o impacto será o empobrecimento dos tratamentos, a normalização da insegurança dos pacientes e, por fim, significará retroceder na Saúde, tanto no ambiente público quanto no privado”, complementou.

Corroborando com o posicionamento dos palestrantes, Marun David Cury demonstrou que programas partidários, como o Mais Médicos, colocam profissionais despreparados no mercado de trabalho e não trazem resultados efetivos à população. “Na prática médica, não se aceita nada que agrida a segurança do paciente, ele tem que receber toda a atenção e acolhimento necessários antes de ir para casa, isso é inegociável. Esses programas só causam gastos extremamente excessivos e nenhum retorno para a sociedade.”

Durante o encontro, foi anunciado que a Frente Parlamentar do Empreendedorismo criou uma diretoria focada em assuntos de Saúde, que será comandada pelo deputado federal Zacharias Calil (União Brasil). “Eu acho que nós temos que atuar na preservação da qualidade e na segurança do paciente, por meio da experiência e da formação. Temos que tomar muito cuidado para que possamos dar a melhor Saúde possível à população”, disse o parlamentar.

Fotos: Frente Parlamentar do Empreendedorismo