Acelerar a transformação digital é prioridade

O diretor da Bireme entende ser necessário incorporar e desenvolver soluções que permitam tornar a informação de Saúde cada vez mais próxima e tangível para as pessoas

Entrevistas

Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e Medicina Intensiva pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), João Paulo Souza é diretor do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, conhecido como Bireme – centro especializado da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) que se concentra em promover o acesso e a utilização de informação científica e técnica para a ação na Saúde.

Ao longo de sua carreira, o médico desenvolveu estudos de pós-graduação na intersecção de epidemiologia e saúde materna, trabalhando principalmente as questões de saúde global com um grande interesse em mortalidade materna. Atuou, também, como médico intensivista e coordenador médico da Unidade de Terapia Intensiva de Adultos do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2015, se tornou professor Titular de Medicina Social na Universidade de São Paulo, tendo publicado mais de 250 artigos científicos ao longo de sua carreira. Ocupando várias posições na OMS desde 2008, se mudou para a OPAS em 2022.

Quais são os principais serviços e recursos oferecidos pela Bireme para profissionais de Saúde, pesquisadores e público em geral?

A Bireme oferece mais de 40 produtos e serviços de informação que podem interessar aos profissionais de Saúde, aos pesquisadores e ao público em geral. Existe, por exemplo, a Lilacs (Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciência da Saúde), que é a maior base da dados da produção científica e técnica em Saúde da América Latina e do Caribe – excelente recurso para os pesquisadores, por exemplo. É importante destacar que, por diversas razões, apenas uma pequena parte da produção científica da região consegue ser indexada nas bases globais, como o Medline. A Lilacs realiza o controle bibliográfico e disponibiliza a maior parte desta produção. O conjunto de Bibliotecas Virtuais da Saúde disponibiliza uma série de recursos e produtos de informação para profissionais de Saúde e pesquisadores, como materiais técnicos, mapas de evidência e cursos, entre outros recursos. Por fim, é importante destacar a “Segunda Opinião Formativa”, que é um importante recurso de Telessaúde que pode apoiar profissionais e o público no processo de tomada de decisão, em relação a tratamentos e práticas de Saúde.   

Como funciona o Programa de Segunda Opinião Formativa e qual é o seu objetivo principal?

O Programa de Segunda Opinião Formativa é operado pela Bireme em colaboração com o Ministério da Saúde e os Núcleos de Telessaúde que integram o Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes. A partir das perguntas apresentadas pelos profissionais de Saúde aos Núcleos de Telessaúde, as questões mais frequentes e interessantes passam por um processo de curadoria e são respondidas com base nas evidências mais relevantes para o contexto brasileiro, em particular dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, cerca de 1.700 perguntas compõem a Segunda Opinião Formativa, sendo este um dos serviços mais acessados pelos profissionais e o público em geral.

Quais são os planos futuros do Centro para expandir e melhorar seus serviços e recursos?

Incorporação de tecnologia e transformação digital dos produtos e serviços. O Programa de Segunda Opinião Formativa está sendo remodelado com expansão e adaptação do produto para a linguagem leiga, por exemplo. Além disso, apresentação da informação em múltiplos formatos, como áudios e vídeos e, também, integração em plataformas móveis, como o WhatsApp.

Quais são as principais estratégias da Bireme para o período de 2023 a 2025?

A Bireme opera uma gama de serviços e produtos de informação, incluindo as Bibliotecas Virtuais de Saúde e a Lilacs, por exemplo. Entre 2023 e 2025, a prioridade é acelerar a transformação digital, com a incorporação de tecnologias digitais que permitam aproximar os produtos de informação dos usuários finais e aumentar o potencial de impacto da informação em Saúde na vida das pessoas e comunidades.

Como o Centro planeja fortalecer sua missão de melhorar o acesso à informação em Saúde na América Latina e no Caribe neste período?

Por meio da incorporação de tecnologias avançadas de informação, incluindo aquelas que utilizam a chamada inteligência artificial, para aproximar os produtos de informação em Saúde dos profissionais e do público em geral.

Como a Bireme e as organizações de Saúde estão colaborando para promover a transformação digital?

A transformação digital é uma megatendência global e a transição para o estágio atual ocorre a passos largos. A Bireme e outras organizações de Saúde têm à frente o desafio de acompanhar a transformação digital, incorporando e desenvolvendo soluções que permitam tornar a informação de Saúde cada vez mais próxima e tangível para as pessoas. Em particular, a Bireme persegue o contínuo desenvolvimento de seus produtos e serviços, visando a incorporação de atributos de produtos de informação da indústria 4.0 – como a personalização, mobilidade e integração de plataformas, colaboração, interatividade, informações vivas e em atualização contínua, além do uso de soluções inteligentes que alavanquem a capacidade dos profissionais e pessoas em geral na tomada de decisão de Saúde.  

Como o Centro avalia o impacto de suas atividades e serviços na comunidade de Saúde?

Em um mundo saturado de informação, com graus variáveis de confiabilidade e desinformação, produtos de informação confiáveis e com procedência completa são fundamentais para a boa tomada de decisões. Profissionais de Saúde, gestores e o público em geral necessitam de informação de qualidade. Promover o acesso e o uso de informação de qualidade é a missão da Bireme há quase 57 anos. A avaliação é de que a tomada consciente de decisão, com base em informações de qualidade, é algo essencial para a produção de Saúde da população e para colocar profissionais e o público em uma posição ativa no processo de tomada de decisão, e não em uma posição passiva ou sujeita a vieses de diversos tipos.

Foto: Boletim Bireme

Publicada na edição 740 – Outubro/Novembro de 2023 da Revista da APM