Frank Ulrich Montgomery – Saúde mundial em prol da população

O radiologista alemão Frank Ulrich Montgomery esteve em São Paulo, no mês de julho, e visitou as sedes da Associação Médica Brasileira e da Associação Paulista de Medicina.

Entrevistas

O radiologista alemão Frank Ulrich Montgomery esteve em São Paulo, no mês de julho, e visitou as sedes da Associação Médica Brasileira e da Associação Paulista de Medicina. Montgomery, que atualmente exerce o cargo de presidente do Conselho da Associação Médica Mundial (WMA), é um expoente fundamental na luta pela vacinação. Em entrevista exclusiva à Revista da APM, ele destaca a importância de a Medicina ao redor de todo o Planeta caminhar no mesmo ritmo, a fim de proporcionar uma Saúde de qualidade para as diferentes nações, além de indicar os principais desafios encontrados ao exercer sua função.

Qual a importância de as associações médicas ao redor do mundo estarem em constante trabalho e atuando em conjunto?

Temos algumas problemáticas que envolvem médicos de todas as partes do mundo. Há algumas perguntas éticas, como “De que forma tratamos os nossos pacientes que estão em situações de dificuldade no fim ou no começo da vida?”, que estão voltadas para a Medicina reprodutiva e a eutanásia, por exemplo. Assim, temos que trabalhar juntos para termos pontos de vista morais semelhantes e plataformas disponíveis para médicos de todo o Planeta. O mesmo se aplica às pesquisas científicas em seres humanos, e há também outras questões, tal qual o fato de existir uma grande desigualdade nos serviços médicos ao redor do mundo. Se lutarmos juntos, teremos cobertura suficiente para que todas as pessoas tenham acesso à Medicina, aos medicamentos, hospitais e operações, entre outros. Sendo assim, as 120 organizações que são membros da WMA podem trabalhar juntas a fim de proporcionar uma Medicina de qualidade às nações. 

Como vê as principais diferenças entre a Medicina no Brasil, na Alemanha e na Europa em geral? 

As técnicas padrões da Medicina no Brasil, na Alemanha e na maioria dos países da Europa são muito semelhantes. Vocês têm uma Medicina altamente sofisticada aqui e, até onde eu sei, há uma desigualdade um pouco maior no sistema de saúde brasileiro. Há algumas pessoas que não são tão bem cuidadas quanto outras, mas isso está ligado a problemas e estruturas sociais.

Quais os maiores desafios em ser um dos representantes da Associação Médica Mundial? 

Na realidade, essa é uma pergunta que tem resposta semelhante à primeira. A cobertura universal de Saúde é o tema principal das nossas discussões. Acredito que essa seja a parte mais desafiadora. É claro que nós, enquanto organização mundial, sempre tentamos nos comunicar não apenas com os nossos membros, mas também com líderes políticos e constantemente tentamos os convencer do quão importante é que existam bons sistemas de Saúde na realidade, e não apenas no papel. 

Como podemos pensar em uma Medicina mais inclusiva para as populações de áreas remotas? 

Primeiramente, nós temos a Organização Mundial da Saúde que, com certeza, nos ajuda a resolver esses problemas. A sede da OMS está localizada em Genebra, na Suíça, e é por isso que o escritório da WMA também está nessa cidade. Mas a questão, na verdade, tange às áreas mais inabitadas do Planeta, como algumas regiões da África, em que você nunca terá os mesmos padrões de Medicina que existem em determinadas regiões populosas, como na Europa Ocidental. Mas, se o paciente não pode ir ao médico, o médico e os serviços de Saúde devem ir ao paciente. Além disso, é muito importante o investimento em educação na área da Saúde, para formarmos profissionais capacitados a realizar atendimentos desafiadores. Sabemos que é um direito humano básico ter acesso não apenas à Medicina, mas a um médico de qualidade, que consiga solucionar os problemas. Isso é um grande problema, que não é possível de se resolver em um curto espaço de tempo, mas temos que enfrentar as adversidades e nos certificar de que não há soluções melhores além de proporcionar acesso a médicos competentes para todas as pessoas deste mundo. 

Durante a pandemia, vimos a ascensão de diversos grupos antivacinas, normalmente baseados em informações falsas ou distorcidas. Como minimizar a existência de tais grupos e parar a desinformação?

Temos evidências científicas muito esclarecedoras a respeito das vacinas, demonstrando que são eficazes. No caso da vacina contra o coronavírus, ela não impede que aconteçam novas infecções, no entanto, atua prevenindo que os pacientes fiquem muito doentes, desenvolvam casos graves e, o mais importante, impedindo que as pessoas morram em decorrência do vírus. Fui para Brasília e lá pude conversar com algumas pessoas, e discutimos sobre de que maneira podemos lidar com médicos ou cientistas que espalham fake news, às vezes até mesmo sabendo que são falsas, simplesmente para influenciar as pessoas a ficarem longe da vacina. Atualmente, este problema no meu país, a Alemanha, é tão importante quanto aqui no Brasil. Lá, temos cerca de 75% da população completamente vacinada, mas ainda há 25%, o que equivale a 18 milhões de pessoas, que não se vacinaram e, dessas, há uma porcentagem de mais ou menos 5% que nunca irão se vacinar, porque são ideologicamente antivacinas. Infelizmente, ainda temos esse número alto de pessoas que estão confusas, desinformadas, ansiosas, e temos que lhes dar confiança de que a vacina é a única solução.  

Como se consolidou esta visita à AMB e APM?

A Associação Médica Brasileira, como a organização nacional que representa os profissionais deste País, é membro da Associação Médica Mundial, e eu visito todas as associações médicas dos países importantes. A Associação Paulista de Medicina, por sua vez, ocupa um espaço muito especial nos nossos corações, por conta de seu atual presidente [José Luiz Gomes do Amaral] já ter presidido também a WMA há algum tempo, exercendo um papel muito importante. Então, como eu vim a São Paulo para visitar a AMB, era natural que eu conhecesse também a APM.