Jose O. Costa Auler Jr – Muitas instituições de ensino não oferecem prática

Jose Otavio Costa Auler Junior é diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), para o período de 2014 a 2018, e professor titular da mesma instituição. Foi diretor clínico do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Entrevistas

Jose Otavio Costa Auler Junior é diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), para o período de 2014 a 2018, e professor titular da mesma instituição. Foi diretor clínico do Hospital das Clínicas da FMUSP. Especialista em Anestesiologia e Terapia intensiva, avalia que o número excessivo de escolas médicas sem supervisão adequada pode afetar a formação médica. Além disso, preocupasse com a qualificação dos preceptores, sendo muitos deles jovens, “mas sem capacitação para ensinar e supervisionar”. Reforça ainda que a avaliação médica contribui para o aprimoramento do estudante de Medicina.

ESCOLAS MÉDICAS

Na opinião dos médicos e educadores da FMUSP, o principal diagnóstico [do panorama geral da qualidade do ensino] é um excesso de instituições, que não oferecem os citados cenários de prática ou os oferecem por meio de convênios com outras instituições. Embora possa garantir a prática supervisionada, é provável que a supervisão não tenha harmonia com o curso médico, ou seja, continuamente avaliada. Essa dissociação entre docentes e instrutores pode comprometer a formação do médico, notadamente quando as habilidades e competências necessárias para o exercício seguro da Medicina não são garantidas por conta dessa ausência de cenários e instrutores qualificados.

CONCENTRAÇÃO DE PROFISSIONAIS

Estudos sugerem que, até o presente, ainda há falta de médicos, mas o crescimento do número desses profissionais entraria em equilíbrio entre os anos 2025 e 2030. Com a grande quantidade de novos cursos médicos, esse equilíbrio será adiantado e logo causará um excesso de profissionais. Além do mais, em praticamente todos os países se observa que médicos tendem a se concentrar próximo de grandes centros urbanos – como em qualquer outra profissão especializada. Esse quadro não será sanado pelo maior número de médicos. Provavelmente, essa concentração será ainda mais densa e preocupante. O Programa de Saúde da Família, por sua vez, deve ser apoiado pela sociedade brasileira e, principalmente, receber sustentação pela qualidade dos profissionais que nele atuam. Acredita-se que o melhor gerenciamento do programa não ocorrerá somente pela maior oferta de médicos, mas pela qualificação, por carreiras bem estabelecidas e por hierarquia de apoio e suporte às decisões clínicas, seja em locais isolados ou em periferias de grandes centros urbanos.

NOVOS PRECEPTORES

Entre os melhores modelos de aprendizado está o que vem sendo oferecido na residência médica, em que o jovem médico pratica a Medicina sob estrita supervisão e com complexidade crescente. Entretanto, pelo atual modelo do Mais Médicos, muitos preceptores de Medicina de Família e Comunidade são jovens profissionais já com qualificação em sua área de atuação, mas sem capacitação para ensinar e supervisionar estudantes de Medicina, cujo foco de aprendizado é a formação geral, e não a especializada.

A FMUSP acredita que o modelo de um preceptor pode ser bem empregado se houver garantia de que ambas qualificações sejam oferecidas e avaliadas: como médico especialista em sua área de atuação e como instrutor que domina estratégias e métodos de ensino e supervisão. Sem essas qualificações, o ensino da Medicina e, consequentemente, o atendimento médico no PSF, terá sua eficácia reduzida, com menor segurança à população assistida.

AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO MÉDICA

Deve ser vista como um processo de aprimoramento da formação do estudante em todos os níveis. Uma cultura de avaliação é sempre positiva, porque direciona os esforços dos aprendizes para sanar eventuais deficiências, documentadas pelas provas e outras formas de exame. Porém, há necessidade de adquirir competências e demonstrar que elas fazem parte do domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes do médico. Dessa forma, as avaliações devem auxiliar o estudante de Medicina em sua melhor formação, mas principalmente devem certificar o médico perante a sociedade de que sua esperada competência é plena, atual e segura. O exame do Cremesp pode também oferecer meios de revisão para jovens médicos ultrapassarem as lacunas. Também sinaliza as possíveis deficiências das instituições de ensino para que estas realizem as correções de rumo.

ANASEM

As expectativas são muito boas. Espera-se que estas avaliações possam auxiliar na construção de uma série de indicadores; de um núcleo de conhecimentos tanto científicos quanto clínicos como fundamentos da formação geral em Medicina – e quais fatores podem influenciar para sua melhor aquisição e retenção; de competências embasadas em habilidades e atitudes e os melhores meios de instrução e aferição das mesmas; e de dados e correlações que possam apontar para os melhores modelos de instrução e supervisão para a formação em Medicina.

ANÁLISE CRÍTICA DO ESTUDANTE

A FMUSP tem um corpo docente de aproximadamente 400 professores, todos com doutorado. O curso é gerido pela Comissão de Graduação por meio de reuniões mensais e por uma Comissão Coordenadora de Cursos (CoC), que faz reuniões semanais. Em ambas, há representação dos estudantes. A preocupação maior da faculdade é oferecer não só um ensino qualificado, embasado nas melhores evidências da prática clínica, mas também qualificar seus estudantes para análise crítica do conhecimento atual. Isso implica em oferecer oportunidades de pesquisa em laboratórios próprios, internacionalmente conceituados, bem como supervisionar o estudante em cenários de prática diversificados. Para isso, oferece atividades práticas com responsabilidades crescentes, desde a atenção primária em Unidades Básicas de Saúde da região do Butantã até os hospitais que compõem o complexo do Hospital das Clínicas de São Paulo, sendo todas essas instituições geridas pela FMUSP.