Maria Cristina de Oliveira Izar: trajetória de excelência na Cardiologia brasileira

Reconhecida pela dedicação à pesquisa e formação de novas gerações de cardiologistas

Últimas notícias

A cardiologista Maria Cristina de Oliveira Izar, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), biênio 2024-2025, construiu uma sólida e influente trajetória na Medicina brasileira, sendo uma das principais especialistas do País em dislipidemia, incluindo a genética, bem como doenças cardiometabólicas e, principalmente, na área genética, nos avanços em terapias baseadas em RNA e anticorpos monoclonais. É reconhecida nacional e internacionalmente não apenas pelo seu trabalho e conhecimento técnico, mas pela dedicação à pesquisa e formação de novas gerações de cardiologistas.

Filha de engenheiro – e a mais velha de quatro irmãs –, Maria Cristina desde cedo demonstrou interesse pelas disciplinas de química e matemática e, segundo ela, seguir na carreira de Engenharia ou Física seria a escolha mais adequada e natural. Aos 13 anos, durante uma Feira de Ciências no colégio, apresentou um trabalho sobre câncer e se encantou pelas Ciências Biológicas. “Inicialmente, gostei tanto que pensei em atuar nesta área, mas acabei optando por Medicina e escolhi a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo que, na minha opinião, era uma das melhores do País na época – e acredito que ainda seja hoje em dia”, relembra.

Depois de formada, em 1981, fez residência em Clínica Médica e em Cardiologia no Hospital das Clínicas da mesma faculdade. E ao retornar para a capital paulista, integrou uma renomada equipe de Cardiologia da Beneficência Portuguesa. “Foi uma experiência fantástica na minha vida. Foi lá, inclusive, que conheci meu marido Francisco Antônio Helfenstein Fonseca, também cardiologista.”

Anos depois, seu marido decidiu retomar a vida acadêmica e iniciou doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em 1995, ele recebeu um convite para um pós-doutoramento em uma universidade de Nova York e ela decidiu acompanhá-lo. Nesta época, a médica chegou a fazer uma especialização em Cardiologia experimental na New York University, trabalhando com angioplastia coronária de porcos, experiência marcante para sua carreira. “Não entrei imediatamente na carreira acadêmica e fiz várias coisas tentando me encontrar. Só me encontrei na pesquisa depois da minha temporada nos Estados Unidos e isso realmente mudou meu horizonte”, relata.

Paixão pela Cardiologia
“Apesar de gostar de Fisiologia, Endocrinologia, Nefrologia e Imunologia, foi pela Cardiologia que me apaixonei”, afirma a presidente da Socesp. Em 2001, fez doutorado em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com foco em polimorfismos genéticos relacionados a doenças coronarianas prematuras. Desde então, tem se dedicado ao estudo da dislipidemia, cardiologia preventiva e doenças ligadas à genética.

Ao longo de sua formação, contou com o apoio e a influência de mentores importantes, como José Antonio Marin-Neto, Valentim Fuster, Juan Badimon e Antonio Carlos de Camargo Carvalho, além do constante incentivo do marido, Francisco Fonseca.

De acordo com ela, o futuro da Cardiologia reside na edição gênica, uma vez que será possível modificar o código genético de uma pessoa que tem uma doença relacionada a alguma alteração genética. “Isso é o grande futuro da Cardiologia na minha área específica e, sem dúvida, essas terapias inovadoras estão presentes em diversas outras doenças que afetam, por exemplo, o miocárdio”, complementa.

Liderança médica
Após seu doutorado, Maria Cristina fez livre-docência e concurso para docente. Atualmente, é professora livre-docente de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina/Unifesp, tendo feito história ao se tornar a primeira mulher docente desta disciplina na instituição. “Hoje, somos duas mulheres, eu e a professora Celia Maria Camelo Silva, da disciplina de Cardiologia Pediátrica.”

A trajetória da cardiologista também é marcada por posições de liderança em entidades médicas. Presidiu o Departamento da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2018-2019) e, antes de assumir a Presidência da Socesp, atuou nas diretorias do Científico, Publicações, Promoção e Pesquisa, além do cargo de 1ª secretária.

“Estou na minha quinta gestão na Socesp. A sociedade já teve 23 presidentes e eu sou a 24ª – a terceira mulher”, comenta. Hoje, também integra a Sociedade Internacional de Aterosclerose (IAS) e foi membro da Federação das Américas.

Com uma carreira admirável, ela enfrentou desafios comuns a muitas mulheres na Medicina. “Apesar do crescimento expressivo do número de médicas, ainda persiste a desigualdade salarial, menor acesso a cargos de liderança e baixa representatividade em pesquisas clínicas, isso porque há muito preconceito. Além disso, algumas especialidades são historicamente masculinas e outras mais femininas, só que isso está mudando, inclusive na Cardiologia”, analisa.

Maria Cristina Izar aproveita a oportunidade para reforçar que ser médico vai além do conhecimento técnico. “A Medicina exige estudo, escuta e acolhimento. Não se trata apenas de diagnosticar e tratar, mas de estar presente. O paciente é o objetivo principal e precisa ser ouvido”, conclui.

Fotos: Divulgação

Matéria publicada na edição 750 (mai/jun) da Revista da APM