Ministério apresenta dados sobre microrganismos resistentes a carbapenêmicos

Em nova atualização, o Boletim Epidemiológico elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, fornece relevantes informações acerca de microrganismos resistentes aos carbapenêmicos e sua distribuição no Brasil entre os anos de 2015 e 2022

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Em nova atualização, o Boletim Epidemiológico elaborado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, fornece relevantes informações acerca de microrganismos resistentes aos carbapenêmicos e sua distribuição no Brasil entre os anos de 2015 e 2022.

De acordo com o documento, a resistência aos antimicrobianos (RAM) é uma ameaça à saúde pública. É um fenômeno conjecturado por conta da variabilidade genética e da interação bacteriana no meio-ambiente, processo que acaba sendo acelerado por consequência do uso descontrolado de antimicrobianos na saúde humana, animal e também na produção de alimentos.

Outros fatores contribuem para o aumento na resistência dos microrganismos, como contaminação do solo e da água, mudanças climáticas e diminuição de pesquisas. Impactos econômicos e sociais também possuem relação direta com este episódio, uma vez que têm ligação com o tempo de internação, custos, complexidade dos tratamentos e os óbitos ocasionados por infecções bacterianas. Não obstante, a pandemia de Covid-19 contribuiu para a acentuação deste cenário.

Segundo um estudo de 2022 realizado pela revista científica The Lancet, a resistência aos antimicrobianos se tornou uma das principais causas de morte ao redor do mundo. A análise, que apresentou dados de 204 países em 2019, estima que, mundialmente, foram 4,95 milhões de mortes atribuídas à RAM e 1,27 milhão de mortes associadas a infecções por microrganismos resistentes a medicamentos. Um em cada cinco óbitos por RAM foram registrados em crianças menores de cinco anos, acometidas, na maior parte das vezes, por infecções previamente tratáveis.

Resultados

A pesquisa do Ministério da Saúde estudou 85.718 casos de isolados bacterianos dos grupos Enterobacterales, Complexo A. baumannii e P. aeruginosa. Dos genes analisados, foi observado que o blaKPC (83.282) e o blaNDM (86.038) foram os mais testados ao redor de todos os estados do Brasil.

As informações do Boletim indicam que três quartos das amostras coletadas nas unidades federativas foram provenientes dos estados de Minas Gerais, Paraná, Bahia, Santa Catarina e São Paulo. Além disso, salienta que os casos foram provenientes de todos os estados e do Distrito Federal, totalizando 2.185 municípios com registros.

A distribuição de isolados é mais recorrente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, tendo um volume menor no Norte e Nordeste, com destaque para Roraima, Alagoas, Paraíba e Amapá, estados que possuíram número menor ou igual que dez isolados durante os sete anos de estudo. Apesar disso, a representação de baixo volume de casos por estado não necessariamente demonstra que há menor incidência de resistência aos carbapenêmicos.

Ações de enfrentamento

Drogas que fazem parte do grupo de carbapenêmicos são, frequentemente, mais utilizadas para o tratamento de infecções graves ocasionadas por bacilos Gram-negativos (BGN) em hospitais e, na maior parte dos casos, em pacientes graves internados nas Unidades de Terapia Intensiva para tratamento de BGNs multirresistentes.

Ao comparar o período pré-pandemia e a pandemia de Covid-19 em si, foi indicado que o aumento das bactérias produtoras de carbapenemases é ainda mais evidente. Neste cenário, se destaca o aumento quantitativo de isolados de Enterobacterales carreadores de blaKPC (> 1.300 isolados) e Complexo A. baumannii carreando blaOXA-23 (> 2 mil isolados), além do considerável aumento qualitativo e quantitativo de blaNDM em Enterobacterales (10% aumento, > 1.500 isolados) e P. aeruginosa (5,7% aumento, de 22 para 222 isolados).

Em 2015, após a publicação do Plano de Ação Global, diferentes países foram convidados pela Organização Mundial da Saúde a elaborar e publicar os planos de ação para combate e prevenção à resistência aos antimicrobianos. O Brasil foi um dos participantes, assumindo o acordo com a Aliança Tripartite – na qual estão inseridas OMS, Organização Mundial da Saúde Animal e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Assim, passou a desenvolver a elaboração do Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única (PAN-BR), publicação fundamental para impulsionar diferentes ações de prevenção, contemplando objetivos e ações estratégicas que englobam diferentes áreas de Saúde humana e animal, como ambiente, educação, saneamento, higiene e desenvolvimento tecnológico.

O País também faz parte do Sistema Global de Vigilância da Resistência Antimicrobiana da OMS, ampliando seus esforços em relação à estratégia nacional de vigilância da RAM hospitalar e comunitária. Não obstante, o País desenvolve diferentes ações de estruturação e vigilância em Saúde para enfrentamento à resistência aos antimicrobianos, englobando investimentos em infraestrutura de laboratórios de saúde pública e em pesquisas, qualificação profissional, engajamento social e uso consciente de medicamentos, entre outros.

A Secretaria de Vigilância em Saúde e o Ministério da Saúde destacam que, para o combate à resistência aos antimicrobianos ser efetivo, é preciso uma ampla vigilância laboratorial que contribua para implementar ações assertivas nos âmbitos federal, estadual e municipal.