Especialistas debatem inovações na Medicina em Webinar APM

Na noite da última quarta-feira (31), a Associação Paulista de Medicina promoveu mais uma edição de seus webinars, reunindo palestrantes para debate do tema “Inovação em Medicina: Quais os caminhos?”.

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Na noite da última quarta-feira (31), a Associação Paulista de Medicina promoveu mais uma edição de seus webinars, reunindo palestrantes para debate do tema “Inovação em Medicina: Quais os caminhos?”. O evento foi apresentado por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, e teve como moderadores os diretores Paulo Manuel Pêgo Fernandes (Científico) e Álvaro Atallah (Economia Média e Saúde Baseada em Evidências).

InovaInCor

O primeiro palestrante foi Fábio Biscegli Jatene, professor Titular da Disciplina de Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Irei expor as ações de inovação realizadas pela iniciativa InovaInCor, um projeto do Instituto do Coração que coordena a inovação da Saúde em todos os âmbitos.”

Jatene comentou sobre algumas evoluções observadas na Cardiologia ao longo dos anos, entre elas o tratamento do infarto do miocárdio – processo que anteriormente levava muito tempo para ser resolvido e, hoje, a corrida contra o tempo por parte dos médicos é essencial para a segurança e bem-estar do paciente. “Buscamos na forma mais ágil possível a melhora da área infartada, portanto, foi uma grande inovação que mudou o prognóstico dos doentes e a mortalidade pela doença, tudo graças a estudos e novas tecnologias.”

Também relembrou sobre os princípios de dissecção da veia safena, procedimento realizado em cortes invasivos até poucos anos atrás, e que atualmente pode ser resolvido por meio de uma incisão mínima, sem maiores riscos aos pacientes. “Historiadores costumam dizer que o ser humano é alérgico a mudanças, que sempre gosta de dizer que as coisas são como são, e que incorporar mudanças não é tão simples quanto possa parecer. De fato, é bonito, é interessantíssimo quando conhecemos uma nova tecnologia e todo seu processo de mudança, mas na prática, não é tão simples.”

O professor da FMUSP salientou, ainda, a diferença entre a evolução da Saúde desde seus primórdios até o seu patamar 4.0, ao qual o mundo está se preparando para aderir. Ele ressaltou que a Saúde 4.0 é basicamente o âmbito de saúde digital conectado em sistemas 4G e 5G, envolvendo padrões de Medicina personalizada, inteligência artificial e realidade virtual. “Entendemos que houve uma progressão para podermos chegar aonde estamos hoje, e para exemplificar, considero quatro importantes aspectos, que certamente são pontos que merecem atenção, sendo eles inteligência artificial, sensores vestíveis, novos biomarcadores e tecnologias móveis e conectividade digital”, explicou.

De acordo com o especialista, são áreas que certamente teremos a oportunidade de estudar, nas quais a Saúde terá um papel extraordinário: “Até mesmo na Cardiologia, vemos que a procura e os artigos publicados sobre o tema vêm crescendo de forma geométrica e, sem dúvida, isso está sendo vivido diariamente por outras áreas e especialidades”.

Entre as tecnologias recentemente criadas para monitorar a Saúde e ajudar na prevenção de doenças, Jatene citou os smartwearables, dispositivos integrados a aplicativos e sensores que visam simplificar ao usuário suas interfaces de controle da Saúde. “Existem vários modelos e formas de aplicação, sendo capazes de gravar, por exemplo, bons registros gráficos por meio de pequenos dispositivos. Isso vem avançando, são pouco perceptíveis e têm um potencial de registro muito grande.”

Concluindo, o cardiologista salientou que olhar para o passado é perder o futuro, tornando-se necessário estar atento e adaptar-se às inovações que vêm constantemente surgindo. “A Saúde Digital está acelerada, e precisamos navegar em seus diversos ecossistemas”, finalizou.

Inovação em startups

Apresentando a segunda palestra da noite, Giovanni Guido Cerri, professor Titular de Radiologia da FMUSP, ficou responsável pelo tema “A importância da incorporação da cultura da inovação dentro das universidades e hospitais”. O especialista introduziu a discussão salientando os caminhos trilhados pelo instituto InovaHC, pioneiro em inovação e um dos maiores hospitais da América Latina.

“O InovaHC é um catalisador da inovação em Saúde, conectando recursos e empreendedores a fim de gerar soluções que tornem a jornada do atendimento mais intuitiva e eficiente. Somos um grande facilitador para as inovações em Saúde, pois quase todos os ciclos da área podem ser testados no Hospital das Clínicas, por ser um complexo de alta complexidade. Nosso foco sempre foi assistência, educação e pesquisa e, alguns anos atrás, resolvemos posicionar a inovação como quarto pilar, algo que considero um fundamento essencial, não só para fomentar o empreendedorismo, mas também para verter valores”, enfatizou.

Cerri contou que a visão do conselho interno da instituição é o da inovação, que coordena todo o processo de evolução realizado em diversos institutos, tendo como principal intuito estimular cada um dos hospitais filiados a criar soluções inovativas para o setor da Saúde. “A área de inovação está ligada à Faculdade de Medicina, nossas fundações de apoio e laboratórios, que são centros de inovação.” Por outro lado, o especialista enfatizou que o ecossistema externo envolve a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e instituições de negócios e soluções em Saúde.

O professor pontuou ainda que houve exponencial avanço no complexo ao longo dos anos, em que foram estabelecidas parcerias com a sociedade civil, sendo o projeto idealizado em três pilares fundamentais: inovação aberta, empreendedorismo e projetos estruturantes. “Todas essas ações são realizadas por meio de suporte dos laboratórios de inovação, centros de ciências para desenvolvimento e núcleo de apoio à pesquisa, em que diversos projetos podem se estruturar em startups e produtos.”

Ele destacou também que as temáticas abordadas com as organizações são as mais diversas e variam entre biotecnologia, saúde digital, medicina genômica, modelos de doenças e inteligência artificial, entre outras. E disse que o HC/FMUSP continua construindo uma rede de apoio à inovação, trabalhando na estruturação de laboratórios de pesquisa, evidências e usabilidade, considerando a conectividade como um fator essencial para a próxima década para a Saúde, para constituir e alavancar novos projetos.

“Outro ponto importante que levamos em consideração são os indicadores, sendo fundamentais para a avaliação da eficiência de projetos, em questões econômicas e de sustentabilidade. Observamos que o desenho da Saúde Digital passa por todas essas questões e, com isso, estruturamos uma ideia de comunicação humanizada e simples, baseada no uso da linguagem clínica, foco na mensagem e criação de um ambiente seguro e agradável”, complementou.

Debate

Questionado por Pêgo sobre a evolução da Telecirurgia, Jatene respondeu que uma das principais ideias da área robótica na Saúde é a realização de cirurgias a distância. “Alguns problemas fizeram com que isso não avançasse, e muitos deles foram reconhecidos, sendo um deles um fraco sistema de transmissão e conexão. Talvez com a chegada do 5G isso melhore, mas só vamos conseguir concluir esta prática com as novas tecnologias que estão surgindo, algo inevitável.”

Respondendo sobre investimentos e segurança na Saúde Digital, Cerri ressaltou que a cibersegurança se tornou um dos maiores negócios no mundo. “Especialistas são disputados, pois a questão da Saúde é crítica, são muitos dados sensíveis de pacientes e a ideia é deixar essas informações cada vez mais conectadas e armazenadas no mesmo local, para ter praticidade de verificá-las. Entretanto, isso torna os locais mais vulneráveis a ataques, então é preciso medir o que trará mais benefício.”

Finalizando a sessão, Amaral parabenizou os participantes e fez suas considerações sobre tudo o que foi apresentado. “Somos privilegiados por viver este momento de transformação. A informação identificada só é de interesse do médico e do paciente, já a informação anonimizada é essencial e se refere a toda a sociedade, por isso, precisamos garantir que tenhamos o máximo possível de informações para trabalharmos com mais acessibilidade no que tange às construções de políticas de Saúde.”

Fotos: Reprodução Webinar APM