Global Summit: Painel da APM debate interoperabilidade em Saúde

Na última quarta-feira, 5 de outubro, o Painel da APM no Global Summit Telemedicine & Digital Health debateu a interoperabilidade na Saúde. O responsável pela mediação da conferência foi o diretor adjunto de Tecnologia de Informação da APM, Antônio Carlos Endrigo. Paulo Salomão, CEO e fundador da DTO Sistemas, Bruno Toldo, Chief Medical Information Officer na Infor, e Leandro Sanches, sócio líder na Ernst Young, foram os palestrantes.

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Na última quarta-feira, 5 de outubro, o Painel da APM no Global Summit Telemedicine & Digital Health debateu a interoperabilidade na Saúde. O responsável pela mediação da conferência foi o diretor adjunto de Tecnologia de Informação da APM, Antônio Carlos Endrigo. Paulo Salomão, CEO e fundador da DTO Sistemas, Bruno Toldo, Chief Medical Information Officer na Infor, e Leandro Sanches, sócio líder na Ernst Young, foram os palestrantes.

Paulo Salomão iniciou sua apresentação definindo o conceito de interoperabilidade, que é a capacidade de diferentes sistemas se comunicarem, trocarem dados e usarem as informações trocadas. O objetivo da interoperabilidade, de acordo com o palestrante, é que esses dados sejam identificados e que sejam líquidos para a troca de informações.

Existem diversas maneiras de classificar a interoperabilidade. A primeira forma, a interoperabilidade fundamental, desenvolve blocos de construção de informações entre sistemas diferentes. Já a interoperabilidade estrutural define formato, sintaxe e organização da troca de dados. Em outras palavras, “não é só mandar dados, mas mandar dados de uma forma estruturada”.

O terceiro tipo, a interoperabilidade semântica, fornece modelos subjacentes comuns e codificação de dados. De acordo com Salomão, na interoperabilidade semântica, “eu não só estou passando a informação de forma estruturada, mas estou passando de um jeito que todos os outros sistemas vão entender. Eu tenho que usar um linguajar ou uma codificação que sejam reconhecidos por todos os sistemas que participam desse contexto”.

Por último, a interoperabilidade organizacional. Ainda pouco falada e incipiente, ela se preocupa “não só com a troca das informações de forma compreensível entre todos os sistemas”, ou seja, considera mais do que aspectos técnicos: “As empresas estão envolvidas, as pessoas estão envolvidas e há uma regulamentação e normas”, afirma o palestrante.

De acordo com Salomão, o número de informações geradas na área da Saúde cresce cerca de 36% ao ano. Entretanto, apenas 20% dessas informações estão disponíveis. As outras 80% são informações que existem ou que não se consegue fazer uso delas.

No Brasil, o caminho da normatização da interoperabilidade vem sendo trilhado desde 2011, quando a Portaria n° 2.073/2011 foi lançada, definindo os padrões que devem ser adotados. Em 2017, surge um conjunto mínimo de dados; em 2018, a LGPD; em 2020, a rede nacional de dados em Saúde; e, a partir de 2021, começa o trâmite de um projeto de lei de interoperabilidade. Salomão finaliza afirmando que, nesse processo de normatização, dois fatores são fundamentais: padrão e segurança.

Open health

Na sequência, Bruno Toldo apresentou algumas considerações sobre Open Health e interoperabilidade, e o que esse novo conceito – Open Health – impacta no paciente e na gestão do ecossistema de Saúde. De acordo com o palestrante, existem diversos desafios tecnológicos na área da Saúde, que podem ser divididos pelo setor público e privado.

No setor público, o maior desafio é a interoperabilidade entre os sistemas nos níveis de Saúde, ou seja, a atenção primária, o médico de família, a atenção básica de Saúde e os agentes comunitários estarem integrados com hospitais, clínicas, laboratórios e especialistas, por exemplo. O segundo desafio é o prontuário eletrônico único do paciente. Hoje, de acordo com Toldo, o sistema de saúde é fragmentado, de modo que não há interlocuções entre os sistemas. Por fim, o último desafio é a história clínica digital.

No setor privado, os maiores desafios são o acesso à informação em tempo real e a aceleração da transformação digital dos serviços de Saúde. Outro desafio é a consolidação da automatização de processo e a Telemedicina, que ganhou um espaço enorme com a pandemia de Covid-19.

A Open Health relaciona-se diretamente com esses desafios. O especialista define o conceito como o “pix” da Saúde, ou seja, significa mandar informações de um lado e receber de outro. Em outras palavras: “É o compartilhamento de dados com o objetivo de alcançar melhores resultados e o equilíbrio de todo o sistema”, afirma.

Nesse sentido, assim como o Open Bank mudou a relação das pessoas com o sistema financeiro, a expectativas é que a Open Health proporcione maior eficiência operacional, ou seja, permita uma integração total entre o sistema público e privado, além de gerar melhor experiência para pacientes e profissionais da Saúde.

A Open Health pode impactar na gestão, de acordo com Toldo, proporcionando melhor comunicação do ecossistema de Saúde – entregar mais eficiência, com menor custo e melhor desfecho e mais transparência, considerando um cenário em que é possível analisar indicadores de toda a jornada do paciente.

Desafios e soluções

Na última fala do Painel APM, Leandro Sanches abordou os desafios e soluções para a implantação da interoperabilidade em empresas de Saúde. De acordo com o palestrante, a Saúde é um dos últimos segmentos de mercado que ainda está em um processo de maturidade de gestão e melhoria da tecnologia, o que torna mais complexo o processo de interoperabilidade.

Para ele, a Saúde é um setor que tem uma peculiaridade específica, de ser bastante fragmentado. “Quando falamos de interoperabilidade, não estamos falando somente dentro do hospital. É preciso ter no mínimo uma relação com a operadora, com a empresa que faz todo o processo de diagnóstico e com todas as startups que estão surgindo, com foco no processo ou na jornada do paciente ou do médico.”

Para estruturar seu processo de interoperabilidade, uma empresa deve, portanto, criar seu barramento, fazer as conexões necessárias e analisar como vai utilizar essa interoperabilidade e porquê.

A partir de um levantamento realizado com clientes, Sanches analisou cinco hospitais que fizeram seu planejamento estratégico no último ano e meio. Todo os planejamentos tinham como pilar estratégico e necessário a tecnologia. Neste sentido, afirma o palestrante, para que se desenvolva a tecnologia dos hospitais, é necessária a interoperabilidade.

Cada vez mais as empresas estão trabalhando em conjunto para melhorar a jornada do paciente e do médico. “Entretanto, não tem como aprimorar essa jornada, como tratar melhor meu paciente, como ter um cuidado melhor com meu paciente se eu não tiver dados”, acrescenta. Portanto, a interoperabilidade é fundamental para que se consiga evoluir no desenvolvimento do ecossistema de Saúde.

Para que as empresas possam se preparar para ter um processo de interoperabilidade mais saudável e claro, de acordo com o especialista, é preciso, em primeiro lugar, que isso esteja no planejamento estratégico. Além disso, é necessário que se tenha um diagnóstico correto do que há de ser feito e, principalmente, que existam profissionais técnicos, mas com conhecimento em Saúde, atuando no processo.

Sanches afirma, por fim, que a tecnologia hoje em dia não é o problema. O que se precisa é ter o conhecimento e as estratégias por trás dela e, fundamentalmente, pessoas que conheçam bem o setor de Saúde. “Caso contrário, não vamos conseguir evoluir com interoperabilidade, será uma jornada difícil”, finaliza.

Fotos: Ricardo Dangelo / Global Summit Telemedicine & Health