Global Summit: palestra internacional aborda atendimento remoto em Psiquiatria

Dando início às palestras internacionais do primeiro dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health, 4 de outubro, o psiquiatra americano Peter Yellowlees apresentou o tema “O novo normal no cuidado híbrido da saúde mental e Telepsiquiatria”

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Dando início às palestras internacionais do primeiro dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health, 4 de outubro, o psiquiatra americano Peter Yellowlees apresentou o tema “O novo normal no cuidado híbrido da saúde mental e Telepsiquiatria” – com moderação do presidente do evento, Jefferson Fernandes.

Yellowlees relembrou que quando começou a trabalhar com Telemedicina, estava morando na Austrália e utilizava instrumentos que atualmente não estão mais disponíveis no mercado. Naquela época, o custo para realizar uma videoconferência era completamente elevado, chegando a totalizar cerca de 400 mil dólares. Todavia, todas as mudanças ocorridas do mundo possibilitaram que, hoje, os profissionais realizem seus trabalhos diretamente de seus smartphones, fundamentais para a entrega de um serviço de qualidade no cenário de pós pandemia.

O psiquiatra ressaltou a existência de modelos híbridos de assistência médica, com foco nas abordagens de apoio, podendo ser utilizados não apenas pelo Brasil, mas por todos os países da América do Sul. Neste sentido, os modelos de Telepsiquiatria utilizam textos, chats e consultas através de prontuários médicos eletrônicos mais simples e acessíveis, permitindo que o médico saiba como o paciente está se alimentando, se movimentando e dormindo. Desta maneira, é possível combinar o cuidado presencial e o virtual.

“Podemos pensar na Covid-19 como um experimento forçado no que se entende como sistema de Saúde Digital, já que tivemos que mudar tudo da noite para o dia. Os pacientes ficavam com receio de ir ao consultório, fazendo com que houvesse um crescimento expansivo da Telemedicina, principalmente na Psiquiatria e na saúde mental, que foi a área mais utilizada. Nos Estados Unidos, por exemplo, 45% dos pacientes idosos receberam tratamento on-line”, explicou o palestrante.

Progressos

A ascensão da tecnologia e a sua incorporação à Medicina colaboraram para diversos avanços na área da saúde mental. De acordo com Yellowlees, um estudo com cerca de 30 autores buscou examinar regulamentações que permitiram o uso da Telemedicina durante a pandemia. O objetivo era mostrar de que maneira as regras sobre o assunto mudaram ao redor do mundo, propiciando que mesmo durante o isolamento social, os médicos continuassem trabalhando e provendo a melhor assistência possível.

Frente a tal cenário, é válido mencionar que nos Estados Unidos foram reportadas mais de 26 milhões de visitas on-line em consultas relacionadas à saúde mental, o que representa uma considerável proporção para um único país. “Durante a pandemia, a Psiquiatria mudou drasticamente. Passei os últimos 30 anos tentando convencer os meus colegas de que estava tudo bem em atender os pacientes de forma remota. Então, estamos vendo uma mudança extraordinária, que está sendo incorporada aos psiquiatras americanos, além de possibilitar que o paciente escolha como quer ser atendido, respeitando a sua autonomia”, descreveu.

No que diz respeito aos diagnósticos de saúde mental, os profissionais da área concordam em grande escala que podem ser feitos através da consulta por vídeo. Há um leque de possibilidades, com muitas abordagens e diferentes formas de oferecer o atendimento, que vem funcionando de forma muito ampla nos Estados Unidos, tendo em vista que é muito difícil encontrar um terapeuta que não utilize a tecnologia com seus pacientes.

Das pessoas que receberam atendimento psiquiátrico, 90% concordam que as consultas por vídeo auxiliam na comunicação, pois desta forma se sentem mais confortáveis de tocar em assuntos sensíveis e terem conversas muito delicadas. No entanto, para proporcionar maior satisfação dos pacientes e obter eficiência nas consultas à distância, é necessário que autoridades possibilitem banda larga de qualidade para o acesso da população.

Otimização

“A Telemedicina tem uma grande influência na redução do impacto ambiental, além de ser um fator que poupa o tempo de deslocamento das pessoas. Descobrimos que, desta forma, podemos impedir muitos acidentes de trânsito, por exemplo. E é fundamental salientar que somente através do atendimento remoto primário, economizamos mais de 21 mil toneladas métricas em termos de emissão de carbono. Portanto, passem para os sistemas eletrônicos para ajudar o Planeta, as mudanças climáticas já são uma realidade e uma simples mudança poderá ser muito eficiente”, destacou o especialista.

Além disso, há maior otimização do tempo e grande economia para os profissionais. O trabalho se torna menos estressante, pois possui muito mais intervalos entre consultas, contribuindo para a qualidade de vida e o tempo em família ou lazer. Por meio das consultas on-line, inclusive, os médicos passam a descobrir muito mais sobre seus pacientes, sendo uma forma mais segura de trabalhar e organizar a agenda, uma grande vantagem para os profissionais.

Durante a apresentação, o palestrante apontou que a Saúde Digital é uma realidade que veio para ficar, e será utilizada de agora em diante tanto quanto foi utilizada durante a pandemia. O futuro já está sendo pensado, moldado em três diferentes aspectos fundamentais para o Brasil. O primeiro deles aborda o atendimento híbrido; o segundo, o atendimento em casa, criando um ambiente mais confortável; e o atendimento assíncrono, mudando a maneira que pacientes recebem o tratamento e como os médicos o fornecem.

“A Saúde móvel é o motivo para estar havendo todas essas mudanças. Talvez vocês não saibam, mas há mais de 60 bilhões de celulares ao redor do mundo. No Brasil, 93% das casas têm acesso a um smartphone. Em nível mundial, a internet alcança 90% da população, sendo este número de 99% na China e de 97% nos Estados Unidos. Isso nos mostra que as interações estão mudando e precisamos fazer isso de maneira que as novas tecnologias não interfiram negativamente em nossas vidas”, manifestou o psiquiatra.

Ao finalizar a apresentação, Peter Yellowlees relembrou que, dentre todos os benefícios que o atendimento remoto traz está o fato de que pacientes ficam menos ansiosos por estarem em seu ambiente de conforto, normalmente seus lares, pois é mais conveniente e seguro – já que as casas são extensões de diferentes estados mentais, refletindo o que os seres humanos são. “Temos que aprender com os varejistas. Hoje tudo se compra on-line, e o varejo fez isso desenvolvendo segurança em seus sistemas. Por isso, temos que gerar confiança no sistema de Saúde para, assim, reproduzir resultados muito mais amplos”, complementou.

Fotos: BBustos Fotografia