Durante o terceiro e último dia do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM 2023, no dia 22 de novembro, o público pôde participar de discussão sobre “Como engajar os profissionais de Saúde na Interoperabilidade”. O tema, que se constitui como um grande desafio para o setor, trouxe a visão de diferentes especialistas e foi moderado por Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia de Informação da Associação Paulista de Medicina e copresidente do GS.
De acordo com a médica e especialista de projetos do Hospital Sírio Libanês, Beatriz de Faria Leão, a interoperabilidade semântica é um processo que garante que cada sistema possa entender as informações recebidas por terceiros, sendo utilizadas e interpretadas sem ambiguidades. Já a interoperabilidade organizacional abrange a troca de informação entre organizações, requerendo definições de processos de trabalho e fluxo de trabalho comuns.
“Como as diferentes partes na área da Saúde têm interesses distintos, que nem sempre visam maximizar a interoperabilidade, é necessário que existam políticas que forneçam incentivos para a troca de informação em Saúde”, explicou Beatriz, destacando a existência do Sumário Internacional do Paciente, uma iniciativa colaborativa que se constitui em um documento clínico totalmente alinhado aos eixos de estratégia de melhoria à atenção, aperfeiçoando a experiência do paciente e a conectividade.
A especialista também evidenciou que uma forma de possibilitar o engajamento é a existência do projeto Proadi, em que hospitais de excelência, em vez de pagarem impostos, fazem projetos de assistência para o SUS, demandados pelo Ministério da Saúde. Ela destacou que o Sumário do Paciente é um guia de implementação com todas as terminologias e perfis, congregando mais de 70 traduções, já que alguns mapeamentos não são reconhecidos internacionalmente, o que demonstra a necessidade de atenção às Américas do Sul e Central.
Mudança de Cultura
Posteriormente, o diretor da Rede Sênior Amil Saúde, Paulo Cesar Prado Junior, fomentou que tudo o que é feito voltado para o tema da interoperabilidade deve ter o olhar de quem vai usar o sistema, caso contrário, o trabalho não está sendo feito corretamente. Desta forma, para ele, entre alguns aspectos que podem ser necessários para gerar valor e estimular o profissional da Saúde está o tempo, visto que, ao gerar agilidade, há mais engajamento.
“O profissional de Saúde adoraria ter uma visão integral do paciente. Quando a interoperabilidade estiver funcionando, isso vai ocorrer super bem. Mas, precisamos demonstrar para o profissional que estamos trabalhando em algo que vai ser fundamental para a sua prática, que o que estamos construindo gera segurança – e esta é uma outra forma de trazê-los para o nosso lado, pois faz com que ele sinta amparado pelo que está fazendo”, expressou.
Para Prado, os dados e a assistência são fragmentados, sendo fundamental identificar uma solução para, assim, tudo estar alinhado à jornada integral do paciente. Além disso, o especialista destaca que o assunto da interoperabilidade está muito voltado para gestores e não aos profissionais da Saúde como um todo, que deveriam ser parte ativa desta discussão.
“O que estamos falando aqui tem a ver com uma mudança de cultura. Os profissionais da Saúde não foram formados nisso que está sendo proposto e são poucas as faculdades do Brasil que abordam o que estamos trazendo aqui. Quando se fala em mudança de cultura, os nossos esforços têm que ser muito maiores. O que estamos trazendo melhora a assistência do paciente e a experiência do nosso trabalho. Comunicar esses dois novos mundos vai trazer aliados para nós”, complementou.
Inteligência Artificial e Interoperabilidade
Finalizando as apresentações, o CEO da DTO, Paulo Salomão, ressaltou que a diferença entre interoperabilidade e integração consiste, principalmente, na quantidade de atores necessários para a comunicação. Na interoperabilidade, os pacientes registrados em uma instituição aceitam os termos de consentimento e a solução busca suas informações clínicas em sistemas parceiros. Esses dados são padronizados, anonimizados e armazenados.
“Isso não é tão simples, existem outras camadas. Aqui, estamos falando de uma camada de segurança e um termo de consentimento que pode ser revogado. Neste sentido, criamos o DataHal, uma orquestração de dados. Na verdade, queríamos usar a tecnologia de Inteligência Artificial generativa para gerar resumos de prontuários – a fim de deixá-los mais simples para o médico. Fizemos parceria com o Instituto Cochrane, o maior dispositivo de Medicina baseada em evidências, e com a Associação Médica Brasileira, que tem o Projeto Diretrizes. Assim, eu faço uma base controlada de pesquisa no meu chat, buscando em artigos confiáveis as informações”, disse.
Salomão exemplificou como o DataHal funciona na prática e definiu as próximas expectativas. “A Inteligência Artificial será adotada e é necessário tomar cuidado. Um artigo de setembro deste ano revela que experiência feita em um hospital da Holanda demonstra que 11% das decisões médica já têm apoio na utilização de IA. Outra coisa importante são marcos regulatórios, as coisas não andam se não houver. Na fronteira entre códigos e consciência, a IA generativa nos desafia a redefinir o que significa ser humano.”
Confira os principais destaques do terceiro dia do GS APM 2023 neste link e as fotos aqui.
Texto: Julia Rohrer
Fotos: Marcos Mesquita Fotografia