Webinar APM: Especialistas debatem cirurgia robótica no Brasil e no mundo

A Associação Paulista de Medicina (APM) promoveu, na noite da última quarta-feira, 26 de outubro, mais uma edição de sua série de webinars.

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A Associação Paulista de Medicina (APM) promoveu, na noite da última quarta-feira, 26 de outubro, mais uma edição de sua série de webinars. Como de costume, a sessão foi apresentada por José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, e moderada pelos diretores da entidade, Paulo Pêgo (Científico) e Álvaro Atallah (Economia Médica e Saúde Baseada em Evidências).

Debatendo o tema “Robótica em Cirurgia – Evolução e Panorama no Brasil e no Mundo”, os especialistas convidados da edição foram Paulo Zugaib Abdalla, professor livre docente do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP; e Rafael Maganete, diretor de Relacionamento com o Mercado do Hospital Sírio Libanês.

Onde estamos?

A palestra inicial foi ministrada por Abdalla, que ficou responsável por abordar “onde estamos?”. Ele contou que viveu a história de implementação da robótica no Brasil, tendo também a oportunidade de conhecer a prática junto aos demais países do mundo, já que não existia treinamento específico. “Acredito que iremos ter que nos acostumar com a ideia de que seremos recebidos em nossas cirurgias por um robô, e que esta cirurgia será segura, factível e terá um resultado efetivo para paciente e entidades de Saúde”, enfatizou.

De acordo com o especialista, a tecnologia na Medicina começou a ser implementada a partir do momento em que a Ciência entendeu que não era profanação invadir o corpo humano, muito antes da modernidade e evolução da Medicina. “Começamos a colocar um vídeo entre o cirurgião e o paciente (laparoscopia). O sistema começou a crescer, progredir e receber uma série de valores tecnológicos, que trouxeram novos procedimentos, sendo a grande maioria mais do mesmo em relação a técnicas cirúrgicas.”

Abdalla explicou que os cirurgiões tiveram que enfrentar o vídeo e algoritmos de tratamentos de produto ou de movimento, que é a robótica: “O robô chega em uma caixa, mas recebe um algoritmo binário para que possa fazer os movimentos necessários. Por mais difícil que seja a cirurgia, o robô é quem fica mal posicionado e permite que o cirurgião fique mais longínquo, trazendo benefícios à prática cirúrgica”.

Para ele, o ponto de partida, e talvez a coisa mais importante que tenha acontecido na área de aquisição de produtos, tenha sido o uso de braços robóticos. A principal característica encontrada nas ferramentas foi a possibilidade de começar a realizar movimentos delicados ou mais grosseiros com a força dos dedos. “Foi o que aconteceu há pouco tempo, entre os anos de 1996 e 1998. Considerando os números de 2021, existem quase sete mil equipamentos robóticos deste sistema específico no mundo, com crescimento financeiro de até 12% ao ano.”

Apesar de ser um mercado de alta constante, o crescimento diminuiu significativamente durante a pandemia de Covid-19, indo de 12% para índices entre 7 e 8%. “Considerando o último ano de crescimento, voltou para mais de 12% ao ano e, com um único sistema robótico, vários outros surgiram.”

Sobre as limitações e desafios da prática, o especialista ressaltou que muitas são conhecidas pelas operadoras de saúde, entre elas a dificuldade de implementação e os custos. “As limitações são conhecidas por nós. Começamos do zero com instrumental bem difícil de utilizar, o que melhorou muito nos últimos anos, e primeiro fomos entender o sistema e as junções de tecnologia do Brasil e demais países.”

Concluindo, Abdalla enfatizou que novas plataformas, robôs, profissionais e procedimentos estão surgindo, máquinas dedicadas a fazer um único tipo de procedimento e, diante disso, é importante treinar intensamente. “Nossa intenção é dominar a imagem para poder crescer e fazer com que essas ferramentas possam virar um sistema binário, que possibilitem a criação de novos produtos e seguranças em cirurgias a distância. Queremos difundir de fato informação, qualificar boas práticas e popularizar o atendimento.”

Para onde vamos?

Em continuidade à sessão, Rafael Maganete expôs evoluções e dados sobre o futuro da prática.”Sempre brinco que precisamos ter um pouco do olhar do outro, ao longo do tempo vamos ver as grandes evoluções da Medicina e seus grandes impactos. Temos um histórico positivo no Sírio-Libanês, tivemos a primeira cirurgia robótica assistida no ano de 2000. Me intriga o pensamento por parte de algumas pessoas que acreditam de forma veemente que a máquina substituirá o médico, mas o que acontece é o contrário, sendo apenas um auxílio.”

Ele ressaltou que, quando se pensa na área robótica, é preciso estabelecer custos de implementação, marketing, monopólio e exigência de tratamento por parte das empresas. “Também precisamos entender os pontos que geram as grandes polêmicas, que são questões de competitividade e o prejuízo causado pelos equipamentos.”

Em relação aos sistemas de segurança, salienta que é preciso lembrar que as cirurgias são robóticas assistidas, a máquina não faz nada, é o médico quem trabalha, realizando funções quando lhe é solicitado e podendo ser controlado a distância. “Infelizmente, hoje, o retorno não chega a ser positivo. No EUA, um em cada três hospitais tem plataformas robóticas com crescimento de uso e, ainda assim, nove em cada 10 são deficitários, causando grandes prejuízos.”

Outro ponto importante citado pelo palestrante foi em relação ao desfecho e em quais casos a cirurgia robótica pode ser essencial. Para ele, é perceptível que algumas intervenções garantem melhores resultados com o uso da robótica, por outro lado, em outras é totalmente desnecessário. Para a aquisição de equipamentos e novas tecnologias, é preciso levar em consideração quatro pilares, sendo eles avaliação, eficácia, eficiência e efetividade.

“Sabemos que diante das inovações da Saúde, o aumento de custo também é crescente. Nos EUA, aumentou cerca de 307%, e no Brasil estamos no mesmo patamar, segundo dados de 2021. Quando olhamos a inflação normal, é quase um terço da inflação em Saúde. Por outro lado, o prejuízo vai diminuindo com a quantidade de cirurgias exitosas”, complementou.

Finalizando, Maganete comentou sobre valor em Saúde, enfatizando ser superimportante falar sobre desfecho, pois em conversas com operadoras e fontes pagadoras é preciso mostrar porque o resultado é superior. Por isso, nem todas as cirurgias necessitam de robôs, apenas aquelas que favorecem extremamente o paciente e, consequentemente, a empresa. “A partir deste ponto e da avaliação, vale a discussão de para onde e como nós iremos utilizar os robôs, tipos de cirurgias, melhores desfechos e qual será a melhor forma de trabalho com essas tecnologias, no intuito de gerar comodidade aos pacientes, lucro para as instituições e, principalmente, compreensão dos processos.”

Percepções

Após as apresentações iniciais, os especialistas debateram suas percepções sobre o tema. “Acredito que ainda nesta década daremos outro grande salto, que é a incorporação da inteligência artificial, que grande parte das coisas possam ser feitas por ‘piloto-automático’, e não mais piloto dependente. Ressalto que a tecnologia não irá substituir o médico, mas a prática irá evoluir muito, no ponto de vista de incorporação de imagem, tomografia, ressonância e diversos outros exames, o que irá permitir a realização de um plano cirúrgico”, enfatizou Paulo Pêgo.

Complementando, Álvaro Atallah comentou que por se tratar de uma nova tecnologia, é interessante saber sobre evidências de eficácia, efetividade e eficiência de custo. “É importante falarmos destas vertentes, pois implicam diretamente na segurança do médico e do paciente. Faz pouco tempo que aceitamos a cirurgia laparoscópica e as que são menos invasivas e, pouco tempo depois de serem aceitas, a robótica surgiu com outras novidades. Diante disso, me solidarizo com os especialistas que explicam sobre as vantagens, riscos e que garantem que a prática seja feita de maneira segura.”

Finalizando a sessão, José Luiz Gomes do Amaral ressaltou que o webinar possibilitou a oportunidade de aprender sobre um tema muito interessante. “Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi a explicação sobre a implementação de novas tecnologias e os seus constantes desafios. Neste caso, é fazer com que a robótica se estenda para um número maior de pessoas e traga benefícios para a Saúde. Acredito que um dos desafios para tornar a

robótica mais sustentável e uma das alternativas seria alugar a sobrevida destes equipamentos, tanto para a questão da sustentabilidade quanto para o setor econômico destas inovações”, concluiu.

Fotos: Reprodução Webinar APM