Boxe traz benefícios para quem sofre da doença de Parkinson

O diagnóstico de Parkinson veio em 2020 para Cheryl Karian, médica assistente aposentada de 72 anos, desde então a prática de boxe se tornou um verdadeiro remédio. A aposentada não compete, mas toda terça e quinta ela treina por uma hora na Main Street Boxing e Muay Thai no centro de Houston.

O que diz a mídia

O diagnóstico de Parkinson veio em 2020 para Cheryl Karian, médica assistente aposentada de 72 anos, desde então a prática de boxe se tornou um verdadeiro remédio. A aposentada não compete, mas toda terça e quinta ela treina por uma hora na Main Street Boxing e Muay Thai no centro de Houston.

Antes de seu diagnóstico, Karian corria, jogava tênis e tinha um trabalho exigente cuidando de pacientes no Centro de Câncer MD Anderson da Universidade do Texas. Tudo isso mudou nos anos anteriores ao seu diagnóstico, quando ela começou a apresentar dificuldades cognitivas e quedas frequentes. “Não consigo fazer o que costumava fazer”, disse Karian um dia depois de uma aula de boxe.

O treinamento de boxe sem contato se tornou mais popular na última década, com o surgimento de 4.000 novas academias antes da pandemia e mais de cinco milhões de americanos usando luvas em 2020, mesmo enquanto o país perde o interesse pelo boxe profissional. Os treinos variados e de alta intensidade oferecem uma mistura de força e condicionamento cardiovascular que auxilia na melhora da agilidade, coordenação e equilíbrio, e que pode ser especialmente benéfico para pessoas com distúrbios neurológicos, como a doença de Parkinson.

A doença de Parkinson é causada por uma deficiência crônica de dopamina, que desencadeia aumento da rigidez muscular, tremores, dificuldades para falar, fadiga, tontura e perda de coordenação e equilíbrio. Os movimentos dos pacientes geralmente ficam muito lentos e curtos. A queda é um grande problema, especialmente quando os sintomas avançam. E embora não haja cura, ou mesmo uma maneira de interromper os sintomas, o treinamento de boxe parece oferecer uma maneira de diminuir os efeitos e melhorar a confiança dos pacientes.

— Se você treinar boxe, verá que sua coordenação é melhor, sua agilidade é melhor, seu equilíbrio é melhor — diz Trout, ex-campeão mundial dos pesos médios leves que dá aulas de Rock Steady há quatro anos — Esta é uma maneira de lutar fisicamente contra o Parkinson — acrescentou.

O Rock Steady Boxing foi fundado em 2006 por Scott Newman, um promotor em Marion County, Indiana, que descobriu que os treinos de boxe sem contato físico o ajudaram a controlar seus sintomas de doença de Parkinson de início precoce. No início, era apenas ele e outros cinco pacientes treinando com uma ex-boxeadora profissional, Kristy Follmar.

A desconfiança na terapia de boxe não passou despercebida para eles – o esporte tem uma das maiores taxas de choque e lesão cerebral. Embora não esteja claro que uma vida inteira de pancadas leves na cabeça possa causar Parkinson, pode aumentar o risco de desenvolver a doença. Muhammad Ali, uma das figuras mais icônicas do esporte, desenvolveu a condição após uma carreira profissional na qual ele enfrentou os atletas da modalidade de pesos pesados mais fortes de seu tempo, levando soco após soco.

Nas aulas do Rock Steady, os participantes não levam socos; eles apenas simulam o movimento. Ryan Cotton, diretor científico da Rock Steady Boxing, diz que nos primeiros dias Newman e Follmar estavam trabalhando com possibilidades. Na época, os especialistas em Parkinson recomendavam focar na mobilidade e no equilíbrio, evitando o esforço excessivo.

— Havia uma teoria de que isso deveria funcionar, mas não havia evidências científicas — disse Cotton — Realmente, a ciência avançou e agora apoia muitas das coisas que estávamos pesquisando.

Nos anos seguintes, a pesquisa mostrou que muitas formas de exercício de alta intensidade, e particularmente o boxe, podem retardar a progressão dos sintomas de Parkinson. O boxe também parece ajudar com outros distúrbios neurológicos, como esclerose múltipla e acidente vascular cerebral.

Quando a doença de Karian foi diagnosticada, ela sabia como seria o seu futuro se não procurasse alternativas para lidar da melhor maneira com a sua condição. Ela observou sua mãe, que também sofria de doença de Parkinson, durante anos, enquanto sua qualidade de vida declinava. Mas ela descobriu que o boxe ajuda seu equilíbrio, coordenação e funcionamento mental. “Vou fazer o máximo que puder, enquanto puder”, disse Karian.

Encontrando o equilíbrio

Cerca de metade de todos os pacientes de Parkinson irão sofrer com quedas, a maioria deles mais de uma vez. O treinador Trout, treina seus alunos para manter uma postura estável, mantendo as mãos no rosto e os braços dobrados para proteger o corpo e o rosto como maneira de proteger.

— Este é um treinamento excepcional para prevenção de quedas — disse Ben Fung, fisioterapeuta de San Diego especializado em ajudar pacientes, incluindo aqueles com Parkinson, a evitar quedas e tem experiência em diversas artes marciais.

Muitas quedas acontecem quando uma pessoa está alcançando algo, mudando de direção ou velocidade. Aprender a postura de um boxeador pode ajudar a manter o equilíbrio, enquanto manter as mãos em posição pode proteger o corpo e o rosto de lesões em caso de queda.

Os participantes praticam a queda como parte dos treinamentos de Rock Steady.

— Acabar no chão é mais comum do que não com pessoas com Parkinson — disse Cotton, que teve o pai diagnosticado com doença de Parkinson alguns anos depois de começar a trabalhar com a Rock Steady — Nossos boxeadores ainda caem, só não estão paralisados pelo medo —

Menos medo pode significar menos quedas. “Um dos maiores fatores para saber se alguém está ou não em risco de cair é se tem medo de cair”, disse Rebecca Martin, professora de fisioterapia do Hanover College. Martin não é afiliada ao Rock Steady Boxing, mas ver sua eficácia a levou a incorporar técnicas de boxe em seu trabalho, que inclui liderar aulas semanais de exercícios para pessoas com doença de Parkinson.

Um estudo recente da terapia de boxe descobriu que os pacientes de Parkinson que passaram por treinamento duas vezes por semana relataram menos quedas, com o número de quedas subindo durante os bloqueios do Covid-19 e voltando a diminuir quando as restrições foram suspensas e eles puderam retomar o treinamento.

Fora do Ringue

A doença de Parkinson também tem efeitos psicológicos. À medida que os pacientes perdem a coordenação e o equilíbrio, muitos começam a duvidar de suas habilidades e se encolhem, se afastando de amigos e familiares, até mesmo se privando de sair de casa, por causa do medo de cair.

— Parkinson tira sua confiança — diz Karian — Você tem que trabalhar para mantê-lo — aconselha.

Em uma pesquisa recente com mais de 1.700 pessoas com doença de Parkinson, quase três quartos dos participantes relataram que o programa melhorou suas vidas sociais e mais da metade disse que ajudou com fadiga, medo de cair, depressão e ansiedade.

— A doença de Parkinson não é apenas uma condição que afeta os sintomas motores, como você se move, anda e fala. O Parkinson também pode afetar o humor das pessoas, fazendo com que se sintam solitárias ou isoladas — explixa Danielle Larson, neurologista da Northwestern University e uma das pesquisadoras que conduziram o estudo. Ela também não é afiliada à Rock Steady, mas disse que agora muitas vezes recomenda boxe para seus pacientes.

Para alguns dos lutadores do Sr. Trout, a aula de boxe costuma ser a única vez que eles saem de casa na semana. Kathy Smith, uma professora aposentada, disse que muitas vezes se sentia constrangida sobre suas habilidades nas aulas de ginástica, já no Rock Steady Boxing, sente que compreendem mais suas limitações e ajudam a se ajustar às suas habilidades.

Quando a aula do Sr. Trout chegou ao fim, terminando com uma rodada de exercícios básicos, a aposentada Karian e os outros ficaram quietos, concentrando-se em fazer o máximo que pudessem, enquanto o treinador os encorajava. Ele diz que lidar com os efeitos do Parkinson pode ser avassalador, mas que eles têm a chance de melhorar toda vez que vão a aula.

Fonte: O Globo