Ultraprocessados prejudicam saúde do cérebro

Estudo da USP mostrou que pessoas com alto consumo de alimentos como refrigerantes e salgadinhos têm queda cognitiva 28% maior que aquelas com baixa ingestão. Danos vasculares explicam risco de demência.

O que diz a mídia

Estudo da USP mostrou que pessoas com alto consumo de alimentos como refrigerantes e salgadinhos têm queda cognitiva 28% maior que aquelas com baixa ingestão. Danos vasculares explicam risco de demência.

Uma dieta rica em alimentos ultraprocessados — como refrigerantes, salgadinhos e macarrão instantâneo — pode não apenas aumentar o risco para obesidade e doenças cardiovasculares, como também acelerar o declínio cognitivo. Éoque mostra um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), apresentado ontem na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, nos Estados Unidos. Segundo o trabalho, o impacto nacogni- çào é quase 30% maior entre aqueles que consomem mais de 20% das calorias diárias em produtos do gênero.

Os pesquisadores analisaram dados de 10.775 brasileiros entre 35 e 74 anos, durante um período de até dez anos. As informações dos participantes foram colhidas no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Bra- sil), um trabalho epidemio- lógico de âmbito nacional que acompanha cerca de 15 mil pessoas e envolve a USP. a Fundação OswaldoCruz (Fi- ocruz) e outras universidades federais desde 2008.

Os participantes foram divididos em quatrogrupos de acordo com a ingestão diária de ultraprocessados. Aqueles que mais consumiam os alimentos —com um volume superior a 20% do total de calorias no dia — apresentaram uma queda cognitiva 28% maior quando comparados aos que ingeriram quantidades menores. Foi constatado ainda um declínio das funções executivas (a habilidade de planejar e executar uma ação) 25% maior no grupo com alto consumo. O estudo ainda não foi publicado.

— É um achado muito importante. O estudo acompanhou um número muito grande de pessoas por muito tempo. Essa relação entre os alimentos e os impactos no cérebro vai na linha das últimas descobertas sobre o tema. mas traz evidencias fortes que foram encontradas no contexto brasileiro, o que é muito importante. Porque a dieta com muitos ultraprocessados acaba sendo de mais fácil acesso, então esse dado é importante no contexto financeiro e social do país —avalia a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do Departamento Científico de Cognição da Academia Brasileira de Neurologia.

Ela explica que a relação entre alimentação e o declí- nio cognitivo pode ser explicada porque o comprometimento que se entende como demência pode ter múltiplas causas. Grande parte dos casos é consequência de danos sofridos pelos vasos sanguíneos do cérebro.

Segundo jerusa. esses alimentos de baixa nutrição, que são nocivos à saúde do coração, também prejudicam o bem-estar cerebral. Ela explica que pensar em medidas voltadas à saúde car- diovascular também ajuda na prevenção de desfechos negativos para a cognição.

— Todo mundo pensa no coração, mas todos esses alimentos ruins também estão associados à saúde cerebral. Tudo que dez anos atrás sabíamos que era bom para o coração hoje sabemos que é bom também para o cérebro. Então, controlar esses fatores é muito importante, mantendo em nível adequado a taxa de açúcar no sangue, monitorando a pressão arterial, ev itando a obesidade —aponta a neurologista.

ALTO CONSUMO

O impacto observado no estudo acende um alerta, uma vez que os alimentos do tipo representam cerca de 19,7% das calorias diárias consumidas pelos brasileiros com idade de 10anos ou mais. Segundo os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, divulgados em 2020, a maior prevalência dos ultraprocessados na dieta é entre os adolescentes (26,7%), e a menor é entre os idosos (15,1%). Os autores do estudo estimam que hoje o percentual na população geral pode estar entre 25% e 30%.

Fonte: O Globo