Repórter Diário do ABC entrevista diretor da APM sobre bebê reborn

Para o psiquiatra David Souza Lima, a maioria dos casos difundidos em redes sociais e no noticiário é efeito de uma moda que deve passar em alguns dias

APM na imprensa

Tratar bebê reborn como ser humano revela traço de psicose, diz psiquiatra

Os incidentes relacionados a pessoas que tratam os bonecos super-realistas, os bebês reborn, como ser humano e que ocorrem em locais públicos e até hospitais, podem revelar que o dono do boneco pode sofrer de alguma doença psíquica, como psicose. Para o psiquiatra e diretor da APM (Associação Paulista de Medicina), David Souza Lima, a maioria dos casos difundidos em redes sociais e no noticiário, é efeito de uma moda que deve passar em alguns dias, mas situações que extrapolam o modismo e em que as pessoas realmente acreditam que o boneco está vivo e tem necessidades humanas, é necessário tratamento.

“Eu acredito que isso é uma moda e que vai passar dentro de alguns dias, pode ser que dentro de uns 20 dias ninguém mais esteja falando disso. É uma moda que as pessoas surfam nessa onda, o que é inofensivo, mas quando uma pessoa realmente acha que o boneco é real, isso pode trazer consequências, pode trazer alteração de comportamento e agressividade”, sustenta Lima.

Nos últimos dias, casos de pessoas que invadiram equipamentos de saúde em busca de atendimento médico para seus bebês reborn ou de pessoas que exigiram outros tipos de atendimento tomaram redes e chamaram a atenção da imprensa e da opinião pública. Essas situações forçaram até proposituras de regras para restringir uso destes bonecos em espaços e equipamentos públicos.

Em São Caetano, o vereador Gilberto Costa (PP) protocolou indicação em que sugere a criação de medidas regulatórias e campanhas de conscientização sobre o uso de bebês reborn em espaços públicos. “Em algumas situações, foram utilizados para obter privilégios indevidos, como assentos preferenciais e acesso a filas exclusivas para gestantes ou pessoas com crianças de colo, o que fere o princípio da equidade e desvirtua políticas públicas de acessibilidade. A ausência de regulamentação pode levar ao deslocamento desnecessário de equipes de emergência, além de deixar servidores públicos sem orientação clara para lidar com essas situações”, justificou o parlamentar.

“Quando alguém chega a um pronto socorro e pede atendimento para um boneco isso traz um problema sério, pois a saúde, a pública principalmente, já tem um déficit muito grande no cuidado com pessoas. Quando de fala muito dessas situações parece de se normaliza isso, mas acredito que em 20 dias ninguém mais vai lembrar”, analisa.

Para o médico e diretor da APM, o uso do boneco como se ele fosse um ser vivo revela alteração da percepção da realidade. “Quando a pessoa tem certeza de que determinada coisa está acontecendo e não está, como achar que o boneco precisa de atendimento médico, ela está fora da realidade e isso pode ser diagnosticado como psicose”, sustenta.

De acordo com o psiquiatra, em casos em que o boneco é de uma pessoa idosa que o cuida como se fosse um filho, geralmente são casos em que há já um quadro demencial, como de Alzheimer, por exemplo. Também podem ocorrer casos com crianças, porém David Souza Lima, sustenta que a psiquiatria não costuma usar essa estratégia como indicação de terapia. “Em raros casos, no tratamento de crianças, pode acontecer, para acessar, mas não é comum. Tudo tem de ser analisado caso a caso”, diz.

Os bebês reborn não representam algo novo, há pelo menos uma década essa técnica de manufaturar bonecos com aparência e até peso de um bebê de verdade surgiu no Brasil. Há fabricantes tão especializados a ponto de reproduzir as características de um bebê baseado em fotos de uma criança de verdade. No caso de uma família que perdeu o filho e que pede a fabricação de um reborn igual ao filho falecido, isso pode revelar consequências de um luto que não tenha sido bem assimilado. “Quando um pai ou mãe pede para fazer um bebê com a cara do filho que morreu, isso é muito preocupante. Não há dor maior do que a de perder um filho, mas se a pessoa começa a interpretar que aquele boneco é mesmo o seu filho, isso pode gerar alterações de comportamento e agressividade”, diz Lima.

Tratamento

O tratamento para distúrbios psíquicos, como a psicose relacionada ao bebê reborn, em geral é medicamentosa e terapêutica. Para David Souza Lima, em geral, a pessoa já tem outras doenças relacionadas, por isso para tratá-las não há um padrão, é preciso analisar caso a caso. “Pode ser um caso transitório em que depois do tratamento o paciente volta a ter uma vida normal, mas para casos de esquizofrenia, em geral, o tratamento é para a vida inteira”, completa.

Fonte: Repórter Diário