Novos Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde apresentam um panorama sobre a hanseníase no Brasil. Apesar de compartilharem o mesmo tema, os documentos trazem abordagens diferentes: o primeiro analisa a qualidade dos dados sobre a doença no período de 2019 a 2023 e o segundo estuda os casos de abandono de tratamento entre 2014 e 2023.
A hanseníase, segundo os documentos, é uma doença infectocontagiosa crônica com manifestações dermatoneurológicas, que coloca o Brasil em destaque: o País é o segundo no mundo em número de casos novos, ficando atrás apenas da Índia. Em 2023, foram detectados 22.773 novos casos, com uma taxa de detecção de 10,68 casos por 100 mil habitantes.
Abandono de tratamento
Um dos boletins aborda os desafios relacionados ao abandono do tratamento. A hanseníase é tratada com a Poliquimioterapia Única (PQT-U), uma combinação de medicamentos que elimina a bactéria causadora da doença. Contudo, a interrupção do tratamento pode gerar complicações graves e comprometer os esforços de controle.
Entre 2014 e 2023, foram registrados 241.460 novos casos de hanseníase no País. Desses, 14.766 (6,1%) tiveram o abandono do tratamento como desfecho. Em nível municipal, o percentual de cidades brasileiras com casos de abandono de tratamento caiu de 56,9% em 2014 para 45,6% em 2023.
Por outro lado, a análise regional revelou um aumento no abandono de tratamento na Região Sudeste, de 11,1%. Estados como Espírito Santo e São Paulo foram os principais responsáveis por esse aumento, enquanto o Rio de Janeiro manteve os índices ao longo do período analisado.
A maioria dos casos foi classificada como hanseníase multibacilar (MB), responsável por 78,1% do total. Além disso, 43,9% dos pacientes foram diagnosticados por demanda espontânea (atendimentos médicos não programados), e 7,5% apresentaram grau de incapacidade física no momento do diagnóstico.
Qualidade dos dados
O levantamento realizado entre 2019 e 2023 registrou 120.175 casos de hanseníase no Brasil. A análise dividiu os dados em 17 blocos, abordando aspectos como raça/cor, escolaridade, regiões mais atingidas e notificações.
Nos campos de raça/cor e zona de residência, o preenchimento foi classificado como bom, com taxas iguais ou superiores a 90% tanto para o País quanto para as unidades da federação (UFs), com exceção do Distrito Federal, que obteve classificação regular para zona de residência (85,5%).
Já os dados relacionados à escolaridade foram considerados regulares, com preenchimento médio de 77,9%. Dez estados apresentaram classificação precária nesse quesito, incluindo Ceará (62,9%), Pernambuco (62,9%), Paraíba (65,8%), Mato Grosso do Sul (68,4%), Bahia (68,9%), Amazonas (74,2%), Minas Gerais (74,3%) e Rio de Janeiro (74,9%).
Outros indicadores tiveram desempenho considerado bom para o Brasil e para a maioria das UFs, como lesões cutâneas (92,8%), forma clínica (96,4%), avaliação do grau de incapacidade física (95,1%), baciloscopia (92,6%) e contatos registrados (95,4%).