Sinal de alerta: conhecendo e prevenindo a Síndrome de Burnout – por Carmino de Souza e Aline Paulin Pimenta

Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, 33 milhões dos trabalhadores brasileiros sofrem com esse distúrbio que mistura exaustão crônica, falta de confiança e sintomas físicos

O que diz a mídia

Nas últimas décadas, um fenômeno silencioso tem avançado nos ambientes de trabalho: a Síndrome de Burnout. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, 33 milhões dos trabalhadores brasileiros sofrem com esse distúrbio que mistura exaustão crônica, falta de confiança e sintomas físicos. O que é a Síndrome de Burnout? Do inglês “queimar por completo” a Síndrome é identificada pela OMS como um problema de saúde pública que mais recentemente foi reconhecida como doença ocupacional, dentro da Classificação Internacional de Doenças (CID) e que já entrou em vigor no Brasil.

A partir deste ano, os colaboradores passam a ter os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários previstos nas demais doenças relacionadas ao trabalho. Ainda para a OMS, o Burnout é “resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito” e caracteriza-se por três pilares: 1- Exaustão física e mental persistente; 2- Crise de eficácia (“nada do que faço é suficiente”) e, 3- Atitude indiferente em relação ao trabalho e aos colegas.

O trabalho tem se tornado uma das principais fontes de estresse frente ao ritmo acelerado e a rotina desafiadora que estamos vivendo. Impactos tecnológicos e o grande volume de informações e distrações nos leva a múltiplas tarefas ao mesmo tempo. A ausência de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho tem sido um combustível para o aparecimento do Burnout.

Dentre as principais causas que indicam que um indivíduo sofre de Burnout estão a pressão constante por resultados rápidos, jornadas excessivas (mais de 10 horas diárias em 48% dos casos), falta de reconhecimento profissional e o assédio moral. O assédio moral no trabalho consiste em condutas repetitivas e prolongadas de hostilidade, humilhação, constrangimento ou isolamento de um colaborador, afetando a dignidade e prejudicando o bem-estar psicológico.

Essas condutas podem se manifestar de diversas formas, como críticas constantes, sobrecarga de tarefas, restrição de informações, exclusão de reuniões importantes ou até disseminação de boatos prejudiciais. Psicossocialmente, ele promove o aumento do estresse crônico, sensação de insegurança, desamparo e perde de sentido no trabalho.

O indivíduo submetido a um ambiente hostil tende a desenvolver sentimento de impotência, esgotamento emocional e alienação, todos componentes centrais da Síndrome de Burnout. Profissionais de saúde, educadores e agentes de segurança pública são os mais afetados. Entretanto, qualquer colaborador que lide com estresse prolongado pode desenvolver a síndrome.

Alguns sinais cotidianos são identificados no diagnóstico clínico, como dores de cabeça recorrentes, distúrbios gastrointestinais, sono não reparador (acordar mais cansado que ao deitar-se), irritabilidade crescente, isolamento social, sensação de “não dar conta” e de não ter descansado mesmo após tirar férias e perda de prazer em hobbies antes apreciados.

No cenário global, somos o segundo país com mais casos diagnosticados de Burnout no mundo, estamos apenas atrás do Japão que possui 70% de sua população afetada, o que ressalta a forte cultura japonesa ao trabalho, com jornadas com mais de 50 semanais. Nas empresas, o custo é palpável: funcionários com Burnout têm queda de 40% na produtividade e três vezes mais licenças médicas.

Apesar disso, apenas 12% das instituições brasileiras possuem Programas de Prevenção como apoio psicológico, melhorias nas condições de trabalho e capacitação dos gestores para que eles possam identificar os sinais de burnout nos colaboradores e fornecer ainda o suporte necessário.

Estipular metas realistas, evitar a cultura do “super-herói” profissional e fornecer horários flexíveis com jornada adaptada, são condições eficazes para a saúde mental. A importância de uma cultura organizacional que valorize o respeito, o diálogo e a diversidade têm se mostrado eficaz. Recomenda-se a implementação de códigos de conduta claros, canais confiáveis para denúncias, treinamentos regulares sobre ética e relações interpessoais, e avaliações constantes do clima organizacional.

O Burnout não é fraqueza, mas sinal de que o sistema trabalho-peso está em colapso. Enquanto colaboradores precisam adotar a autocompaixão, as empresas e suas lideranças devem repensar culturas não apropriadas. A solução passa por perceber que cuidar da mente não é benefício, mas direito humano básico. É possível transformar ambientes laborais em espaços de realização e não de esgotamento crônico.

Fontes: Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, Associação Nacional de Medicina do Trabalho e Instituto de Psicologia Aplicada da USP.

Carmino Antônio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022, Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan, membro do Conselho Superior e vice-presidente da Fapesp, pesquisador responsável pelo CEPID CancerThera da Fapesp.

Aline Paulin Pimenta Ache, Administradora, Gerente Geral na ABHH com Especialização em Comunicação e Marketing e Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Fonte: Hora Campinas