Sonho se tornou realidade

Nova Faculdade de Medicina de Bauru retrata um novo capítulo na Educação Médica da USP

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O Conselho Universitário da Universidade de São Paulo aprovou, em março deste ano, a criação da Faculdade de Medicina de Bauru (FMBRU-USP), uma decisão aguardada com grande expectativa pelos estudantes e professores. Com 93 votos favoráveis, a aprovação trouxe alegria e alívio para aqueles que há anos acreditavam e lutavam por essa conquista. Até então, o curso de Medicina era administrado pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), criado em 2017.

Segundo o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, esta era uma grande solicitação dos alunos do curso de Medicina de Bauru. “Tenho certeza que a nova faculdade terá a mesma representatividade das outras unidades da USP, um papel de liderança na formação de recursos humanos de qualidade”, afirma.

O impulso para seguir com a proposta de implantação de um complexo para servir de hospital-escola e ampliar o campo de formação de médicos e outros profissionais da Saúde, além de fortalecer a rede de saúde locorregional, surgiu com a primeira turma do curso de Medicina de Bauru em 2018 – hoje, o terceiro mais concorrido do vestibular da USP.

Para contextualizar todo o processo, em 2021, a USP e o Governo de São Paulo firmaram acordo de cooperação técnica para a implantação e funcionamento do Hospital das Clínicas de Bauru e as atividades foram iniciadas em agosto de 2022. Após o período de transição, o HC de Bauru assumiu as atribuições de assistência à Saúde e o custeio do Hospital dee Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), conhecido como Centrinho.

Em 2023, foi criado um grupo de trabalho entre docentes das Faculdades de Medicina da USP, que se dividem entre Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a FOB.

Transição

De acordo com a diretora da FOB, Marília Afonso Rabelo Buzalaf, um grupo de trabalho presidido pelo
diretor pro tempore da FMBRU-USP e superintendente pro tempore do HRAC, José Sebastião dos Santos, terá até o mês de agosto deste ano para apresentar o regimento da Faculdade de Medicina de Bauru. Posteriormente, o documento será submetido à aprovação do Conselho Universitário. “Até lá, as ações ainda continuam sendo tomadas oficialmente pela FOB. A FMBRU continuará contando com todo o suporte da FOB, do HRAC, do HC de Bauru e da Prefeitura do Campus USP de Bauru.”

Muitas são as vantagens em poder contar com uma nova faculdade na região do Centro-Oeste paulista. Bauru é uma cidade do interior de São Paulo conhecida pelos universitários, com ambiente favorável aos estudantes de Medicina, incluindo infraestrutura de Saúde e comunidade acadêmica. “Uma Faculdade de Medicina com a grife USP fornecerá ensino de graduação e pós-graduação de qualidade à população. Em adição, a vinculação a um Hospital de Clínicas, certamente, irá melhorar a qualidade do atendimento de saúde à população”, acrescenta.

A diretora reitera que o atual curso de Medicina seguirá ativo até a aprovação do regimento da FMBRU pelo Conselho Universitário, que permitirá a transferência dos alunos e docentes para a nova unidade acadêmica. “O corpo docente da nova unidade será expandido. Atualmente, são 22 professores no atual curso e outros serão contratados futuramente”, complementa Marília, enfatizando que a estrutura da FOB estará à disposição dos estudantes e as estruturas acadêmicas e administrativas serão compartilhadas nas duas unidades.

Nova unidade
Por sua vez, José Sebastião dos Santos explica como uma faculdade de Medicina pode contribuir para o desenvolvimento social loco-regional, mediante formação de especialistas que atuam desde a atenção primária à saúde até a terciária, na docência, na pesquisa e na gestão. Neste contexto, segundo ele, é inerente o apoio aos gestores do sistema de Saúde na implantação de serviços em todos os níveis de atenção e a indução à adequação das atividades assistenciais, com base na incorporação e na produção das melhores evidências.

“Uma faculdade que proporciona o encontro profissionalizado entre professores, estudantes, profissionais, usuários, governos, instituições de controle do Estado e organizações da sociedade qualifica a formação, a assistência e a extensão de serviços à comunidade. Essa interação induz à produção de novos conhecimentos e competências por meio da pesquisa e da inovação e, consequentemente, dá sustentabilidade às políticas públicas de Educação, Saúde, Ciência e Tecnologia.”

Santos acrescenta que a Faculdade de Medicina de Bauru da Universidade de São Paulo nasce num ambiente diferenciado, com o apoio da FOB, do HRAC e do HC de Bauru. Ele destaca que a cooperação dos poderes Executivo e Legislativo dos três níveis de governo, da sociedade e da própria Associação
Paulista de Medicina, certamente, será fundamental para o desenvolvimento e êxito da FMBRU-USP.

O coordenador do curso de Medicina da FMBRU-USP, Tales Rubens de Nadai, informa que o corpo
docente será composto por 105 professores até o final da implantação da nova unidade, que deve levar de 8 a 12 anos. Este ano, serão ofertadas 10 vagas novas para docentes e a seleção será feita por meio de concursos públicos promovidos pela USP.

“Neste momento, estamos empenhados em finalizar o regimento, organograma e iniciar a transferência dos mais de 350 alunos para a nova unidade, assim como os atuais docentes e mais de 80 preceptores. Haverá também o apoio técnico administrativo de 78 servidores que serão transferidos do HRAC e da FOB – os serviços serão compartilhados otimizando o campus da USP de Bauru”, destaca.

Levando em conta uma preocupação recorrente das entidades médicas com a abertura desenfreada
de escolas médicas, Nadai ressalta que o paradigma do ensino médico contemporâneo, alinhado às
diretrizes atualizadas do Ministério da Educação (MEC), demanda avaliações inovadoras, com um currículo centrado em competências. “Neste contexto, é imperativo avaliar não apenas o domínio de
conhecimento por meio de testes tradicionais, mas também habilidades práticas em avaliações
como o OSCE (Exame Clínico Objetivo e Estruturado) e atitudes clínicas em situações simuladas,
exemplificadas pelo Mini Cex (Mini Exercício Clínico Avaliativo)”, frisa.

Ele reforça que, do ponto de vista do curso, foi atribuído grande importância às avaliações interinstitucionais, como o Teste do Progresso, realizado anualmente desde a primeira turma. “A garantia de qualidade do programa está intrinsecamente ligada ao processo avaliativo. Esta qualidade é, sem dúvida, sustentada pelo nosso corpo docente excepcionalmente qualificado. Todos os nossos professores
possuem doutorado concluído e contamos com um núcleo de preceptores especializados em educação em Saúde. O curso já é reconhecido nacional e internacionalmente em áreas específicas, como as atividades profissionais confiáveis. Além disso, temos um compromisso constante com o bem-estar dos nossos alunos e iniciamos um programa de monitoramento de egressos para acompanhar continuamente suas trajetórias após a graduação.”

Estrutura
A FMBRU já nasce com um hospital-escola em funcionamento, com a ampliação do HRAC para o prédio 02, por meio do HC de Bauru, conforme conta o coordenador do curso. “Temos uma faculdade já com hospital próprio, com financiamento e metas assistenciais geridas pela Coordenadoria da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e suas vagas gerenciadas 100% dentro do SUS.”

Participando desta construção desde o início, a pediatra Eliane Alves Motta Cabello trabalha no HRAC
desde 2012 e atuou no curso de Medicina da FOB desde o começo. Inicialmente, como voluntária, depois como professora temporária e, durante a pandemia e finalmente após o concurso em 2022, docente efetiva. “Tem sido um desafio e uma honra colaborar com a formação de 60 alunos por ano. Somos um grupo ainda pequeno de docentes, mas todos extremamente envolvidos com a faculdade. Sou uma das coordenadoras da Pediatria e membro da Comissão Coordenadora de Graduação da Faculdade de Medicina de Bauru”, esclarece.

A médica reforça, ainda, que instituições como a Associação Paulista de Medicina – Bauru têm sido
importantes para consolidar a relação entre a faculdade e a comunidade. “O nosso Hospital das
Clínicas, administrado pela Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA), está cada vez mais completo, e a Pediatria já conta com 16 leitos de Enfermaria e 10 de UTI, fundamentais para a formação de nossos alunos. Os ambulatórios estão sendo montados aos poucos. Os próximos passos são a estruturação da Residência Médica. Enfim, muitos desafios ainda por vir”, conclui.

Foto: Acervo USP