APM sedia 2ª Jornada de Canabinoides Medicinais

No último sábado, 7 de maio, a Associação Paulista de Medicina realizou a 2ª Jornada de Canabinoides Medicinais, de forma on-line, com patrocínio da BioCase Brasil e apoio da Medical Expocannabis Brasil.

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No último sábado, 7 de maio, a Associação Paulista de Medicina realizou a 2ª Jornada de Canabinoides Medicinais, de forma on-line, com patrocínio da BioCase Brasil e apoio da Medical Expocannabis Brasil.

“Essa parceria com a APM, para abordar um tema tão importante e inovador dentro da Medicina, traz a oportunidade a todos os médicos do estado de se atualizarem”, destaca o coordenador do evento, Romeu Fadul Júnior.

Na palestra inicial, Fadul explicou que a Cannabis Sativa é uma planta distribuída pelo mundo todo, mas que teve sua origem na Ásia central. “Todas as regiões utilizavam a planta com conhecimentos e nomes diferentes. Tem propagação por sementes, não por raízes perenes, portanto, propaga como um mato.”

Possui talo longo (como um bambu), com folhas em sua periferia e flores na parte mais extrema, e a base do nome cana vem da língua indo-europeia, um dialeto primordial do inglês, alemão, latim, grego e sânscrito.

“Há mais de 10 mil anos, é utilizada de forma recreativa, medicinal, espiritual e industrial (têxtil), por diferentes culturas e civilizações. É uma das plantas domésticas mais antigas da humanidade”, acrescenta o médico, que é cirurgião plástico.

Primeiros relatos de uso

O primeiro relato do uso medicinal da Cannabis ocorreu por volta de 2800 a.C., pela Medicina Chinesa. “No livro médico, Shen Nung fala de uma planta feminina que possui um potente componente medicamentoso e a prescreve para o tratamento de várias doenças, incluindo artrite reumatoide, náusea, constipação e ansiedade”, relata Fadul.

Durante séculos, médicos chineses estudaram as propriedades medicinais e prescreveram a Cannabis. “Em 2006, Jiang identificou uma espécie arqueológica rara da planta, bem preservada, numa tumba de 2.500 anos em Yanghai, na China, demonstrando a evidência física do uso em práticas espirituais antigas”, disse o pesquisador.

Figuras da planta são observadas também em escrituras na Índia, Oriente Médio, Egito e Europa, e em túmulos na forma de resíduos de incenso na România. O uso ainda foi crescente em torno de 250 a.C, com fonte têxtil, de fibras e medicamentos. O anatomista e fisiologista alemão Georg Meissner (1829-1905) descreveu a aplicação medicinal de óleos e incensos preparados de “uma planta puro aroma – presente de Deus”.

“Restos de planta foram encontrados em túmulos de faraós, como Ramses II (1200 a.C) e doenças comuns eram tratadas com mel e Cannabis, como descrito em textos de médicos do Egito antigo. Mais tarde, inúmeros médicos passaram a utilizar o óleo para tratamentos de diferentes patologias, como uma possibilidade adjuvante ou terapêutica, entre eles médicos irlandeses e franceses”, acrescenta o especialista.

William O’Shaughnessy, médico irlandês, introduziu a Cannabis no tratamento de tétano e doenças convulsivas. E o médico francês Jean-Jacques Moreau experimentou preparações com canabinoides medicinais para outras doenças.

O uso da Cannabis cresceu na América do Norte no século 17, mas caiu durante os anos 1900. “Caiu em virtude da Revolução Mexicana, ocorrida em 1910. Nos Estados Unidos, o seu uso recreacional era associado a imigrantes, medo e violência”, explica Fadul. Entretanto, o pico de uso aconteceu no final dos anos 1970. Mais de um terço dos alunos das faculdades (37%) e 1 em cada 8 americanos com mais de 12 anos (12,8% em 1979) usavam pelo menos uma vez ao mês.

Em 1980, a criação do US Drug Enforcement Agency (DEA) impôs severa restrição ao seu cultivo e acesso. “Assim, os Estados Unidos restringiram pesquisas com Cannabis e seu uso medicinal devido às leis proibitivas. Em 1996, o uso medicinal foi legalizado na Califórnia e, em 2012, no Colorado e em Washington. Hoje, 31 estados norte-americanos legalizam a droga para uso medicinal e 18 estados para uso recreacional.”

Apesar de as plantas da Cannabis, para fins medicinais e recreativos, serem idênticas fisicamente, produzem óleos distintos: THC (prejuízo à atenção, memória e aprendizado, provoca alucinações e ideias paranoides) e CBD (não é alucinógeno, possui propriedades ansiolíticas e antagoniza os efeitos do THC).

“A Cannabis de rua, do vício e do tráfico, não faz parte da Cannabis Medicinal. Por exemplo, pessoas que chegam intoxicadas por maconha de rua em prontos-socorros são tratadas com óleos de CBD, que é antagonista do THC”, reforça Romeu Fadul.

No Brasil

Durante o período de regulação e restrição mundial que ocorreu após a década de 1910, após a conferência do ópio em Genebra, a variedade não produtora de THC, conhecida como Hemp ou Cannabis industrial, não foi distinguida de outras variedades ou espécies. “As plantas eram idênticas fisicamente, mas não existiam laboratórios para distinguir a parte bioquímica dos óleos. Desta forma, foi considerada uma planta nociva para o ser humano como um todo”.

Em 2006, a Lei de Drogas do Brasil determinou que a Anvisa deveria regularizar o uso da Cannabis, principalmente para uso medicinal, ritualístico e religioso. Uma ação civil pública de mães de crianças com síndromes convulsivas graves contra a Anvisa forçou a regulação inicial da Cannabis Medicinal, em maio de 2015.

Em 2017, a Cannabis entrou para a lista de denominação comum brasileira como planta medicinal. E em 2019, é publicada resolução sobre a aquisição da Cannabis medicinal através de uma receita controlada. “Toda a burocracia levava até 40 dias para o paciente receber o produto em casa. Tudo isso mudou, hoje está mais avançado para a aquisição dos produtos”, informa o palestrante, que também relembra que no mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal determinou que importar sementes não é crime.

A 2ª Jornada de Canabinoides Medicinais contou ainda com as aulas “Conhecendo produtos para fins medicinais”, por César Camara; “Uso de Canabinoides em pacientes com dor pélvica e endometriose”, por Alexandra Raffaini; “Canabinoides no tratamento das dores crônicas”, por Catarina Couras; e “Prescrição – Básico”, por César Camara.

Imagens: Reprodução do evento