CQH promove webinar sobre representatividade feminina na Saúde

No último 22 de outubro, o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) – mantido pela Associação Paulista de Medicina (APM) – promoveu o webinar “Representatividade feminina no mundo corporativo em Saúde: fato x fake”. O evento teve como palestrante Emily Gonçalves, coordenadora da assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

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No último 22 de outubro, o Programa Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) – mantido pela Associação Paulista de Medicina (APM) – promoveu o webinar “Representatividade feminina no mundo corporativo em Saúde: fato x fake”. O evento teve como palestrante Emily Gonçalves, coordenadora da assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Maria Aparecida Novaes, coordenadora do Grupo de Benchmarking Pessoas do CQH, seção que organizou o evento, foi a moderadora. “Vamos discutir abordagens socioculturais e estatísticas da mulher no mercado de trabalho. As mulheres são maioria dos brasileiros e mais de 70% no setor da Saúde, mas são minoria nas posições de liderança”, introduziu.

Fato ou fake
Emily Gonçalves iniciou investigando o que há de verdade em muitas afirmações que surgem quando a discussão é essa. “Escutamos muitas informações falsas nesse tema, especialmente vindo de machistas e conservadores.”

A especialista conceituou, a seguir, que o machismo não é algo que reside apenas nos homens. “É um conceito que significar enxergar o homem em posição de superioridade em relação à mulher. O machismo está dado na sociedade e existem mulheres machistas. O mundo, ainda bem, está mudando, mas ainda há carga e herança cultural grande desse machismo.”

Na sequência, ela argumentou que dizer que há igualdade entre os gêneros no mercado de trabalho é falso. Lembrou, por exemplo, que muitas mulheres mães e gestantes, depois de afastadas, não conseguem voltar a trabalhar. A assessora também ressaltou que faltam políticas salariais e de cargos que equiparem o salário das mulheres ao dos homens, quase sempre superior, ainda que desempenhando função igual ou similar.

“Outro senso comum é que a Medicina é para homens e a Enfermagem, para mulheres. Esses estigmas são conceitos rasos e superficiais que vemos ser reproduzidos em falas machistas”, comentou a palestrante. Valendo-se de uma analogia médica, a palestrante afirmou que o diagnóstico está dado, mas é preciso um tratamento. “Se fingirmos que a situação é equivalente, nunca teremos um momento de virada.”

Dados
A argumentação de Emily Gonçalves é pautada em dados. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são mais da metade da população (108,2 milhões), mais da metade das pessoas aptas ao trabalho (88,5 milhões) e, ainda assim, menos da metade atua em trabalhos formais (23,5 milhões).

Além disso, a pesquisa “Women in business 2021”, feita pela consultoria Grant Thornton, aponta que apenas 16% das mulheres possuem ensino superior, menos de um terço ocupam cargos de liderança e que os salários são inferiores aos dos homens em posição similar.

“Todo ano a Grant Thornton faz esse relatório. Fiz um trabalho em 2019 que trazia uma estatística similar de mulheres em cargo de liderança: menos de um terço. Há dois anos, porém, eram 29%. Hoje, 31%. Vemos que há um percurso em andamento, um ritmo de evolução da participação das mulheres. Isso que perseguimos e acreditamos”, comentou Emily Gonçalves.

A assessora também discutiu o número de médicas no Brasil. Em 1990, elas representavam 30,8% dos profissionais de Medicina. Hoje, ainda são minoria (46,6%) no geral, mas maioria nas faixas até 29 anos (58,5%) e entre 30 e 34 (55,3%). Uma projeção do Ministério da Saúde e da Universidade de São Paulo aponta que, em 2030, haverá mais médicas do que médicos no Brasil.

Por fim, a palestrante apresentou alguns dados globais recolhidos na Organização Mundial da Saúde (OMS). As mulheres são:

· 7,5% dos CEOs das empresas de Saúde da lista Fortune 500;
· 23% dos líderes da Assembleia Mundial da Saúde;
· 27% dos líderes das organizações de Saúde;
· 28% dos reitores das principais escolas médicas;
· 31% dos ministros da Saúde;
· 67% dos trabalhadores da Saúde;
· 90% dos profissionais de Enfermagem;
· 91% dos cuidadores profissionais.

Engajamento
Após apresentar os dados da inequidade entre gêneros no setor, Emily propôs formas de mudanças. “Precisamos de empoderamento individual e mútuo. Precisamos acreditar em nós mesmas, desenvolvendo nossas aptidões. E conversar com as CEOs, nos aproximarmos das líderes.”

A especialista também ressaltou que é importante que as empresas instituam políticas de gênero. “Não se trata só de homem e mulher, lembremos. Há profissionais não binários e transgêneros. Todas as pessoas LGBTQIA+ precisam estar no mercado. Os departamentos de recursos humanos precisam nos ajudar com recrutamento, treinamento e pensando em condições para mães e gestantes.”

Antes de encerrar, a palestrante tocou no problema dos assédios moral e sexual, que podem se dar apenas com palavras, ou com a efetivação do toque. Ela avaliou que, por mais difícil que seja, é recomendado que as mulheres sempre falem com as demais pessoas da empresa em que atuam sobre episódios que testemunharam ou que foram vítimas.

Por fim, indicou uma atuação em colaboração. “O machismo tende a ver o feminismo como inimigo, mas não é assim. A gente precisa trazer homens para o diálogo. Trazer conservadores e machistas para o diálogo. Queremos apenas um mundo melhor. Queremos que, inclusive, as filhas dos machistas não sejam desqualificadas e não percam oportunidades, por conta de uma ideia cultural e coletiva que precisa ser vencida.”