Crise no sistema: APM apoia investigação de fraudes na saúde suplementar

Os altos preços dos planos e o enfraquecimento da Agência Nacional de Saúde (ANS) no seu papel de órgão normatizador e regulatório, entre outros problemas, prejudicam a classe médica e os usuários, além de serem uma porta de entrada para fraudes

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A crise no sistema de saúde suplementar vem sendo foco de debates e grandes preocupações entre médicos, gestores e demais profissionais de Saúde. Os altos preços dos planos e o enfraquecimento da Agência Nacional de Saúde (ANS) no seu papel de órgão normatizador e regulatório, entre outros problemas, prejudicam a classe médica e os usuários, além de serem uma porta de entrada para fraudes, situação que vem crescendo exponencialmente.

Em recente reportagem publicada pela Folha de São Paulo, foi apresentada uma operação realizada pela Polícia Civil em que estão sendo identificadas empresas que, supostamente, efetuam uma linha de produção de reembolsos. O prejuízo acumulado por este tipo de fraude já acumula bilhões de reais ao redor de todo o País.

De acordo com a investigação, uma empresa chamada V.Eventos efetivou mais de 2.300 solicitações de reembolso a cerca de sete operadoras de planos de saúde com notas fiscais que ultrapassavam os R$ 5,4 milhões. A partir de então, passou a haver uma grande desconfiança acerca desta companhia – principalmente porque, conforme está sendo apontado pela polícia, o indivíduo que consta como proprietário do estabelecimento realizou um boletim de ocorrência alegando não ter vínculos com a investigada.

A situação acendeu um alerta nas operadoras por conta da contratação de diversos planos pelas mesmas pessoas físicas, ao passo que um número excessivo de procedimentos foi realizado em um espaço de tempo que não corresponde à realidade – uma conta que não fecha, visto que cerca de 8.260 procedimentos foram feitos por sete operadoras entre os meses de maio e setembro de 2022, o que corresponde a uma média de 590 intervenções por mês a cada beneficiário, ou seja, quatro por dia.

A Associação Paulista de Medicina é totalmente favorável às investigações que apontem fraudes no sistema, principalmente ao levar em consideração que o elo que acaba responsabilizado por tais ludíbrios é o dos médicos, que além de não poderem se defender, ainda arcam com os eventuais danos em sua imagem.

O diretor de Defesa Profissional da APM, Marun David Cury, destaca que comumente recai sobre a classe médica a culpa por distorções na saúde suplementar. “Muitas operadoras restringem consultas e procedimentos, e o médico é colocado para trabalhar nos prontos-socorros por longos períodos e atendendo dezenas de pacientes, o que acarreta grandes lucros para os hospitais. De todos os players do setor, são justamente os hospitais e laboratórios os que mais estão levando vantagens.”  

Marun também destaca que é fundamental que todos os envolvidos no setor, como Ministério da Saúde, Conitec, Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira, Associação Paulista de Medicina, planos de saúde, hospitais, empresários e usuários mantenham o diálogo tentando buscar uma solução para uma questão que, até o momento, não possui resolutividade.

“Os médicos estão levando a culpa indevidamente por eventuais fraudes que acontecem e elas têm aumentado excessivamente, sejam de terapia, consultas por reembolso ou mesmo de materiais. O que precisa ser combatido. Na maioria das vezes, não são os médicos que recebem quantias vultuosas, mas acabam sendo culpados por elas”, finaliza.