No intuito de contribuir para o monitoramento e auxiliar no controle das hepatites virais em circulação no Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde, divulgou um novo Boletim Epidemiológico que analisa as notificações e óbitos ocasionados pela doença. Sobre o número de casos, as informações estão atualizadas até o ano de 2023, já os óbitos englobam dados registrados até 2022.
O período da análise corresponde aos registros obtidos entre 2000 até 2023. No decorrer deste período, o País teve 785.571 casos confirmados de hepatites virais. Do total de notificações, 171.255 (21,8%) foram hepatite A; 289.029 (36,8%) hepatite B; 318.916 (40,6%) hepatite C; 4.525 (0,6%) hepatite D; e 1.846 (0,2%) hepatite E. De 2000 a 2022, foram registrados 89.875 óbitos por causas básicas e associadas às hepatites virais A, B, C e D. Destes, 1,5% esteve associado à hepatite viral; 21,7% à hepatite B; 75,9% à hepatite C; e 0,9% à hepatite D.
Hepatite A
Nordeste e Norte são as regiões com mais da metade dos casos confirmados de hepatite A, sendo 29,7% e 25%, respectivamente. Sul, Sudeste e Centro-Oeste englobam 16,9%, 16,3% e 12,0% do total de casos. As unidades federativas com a maior concentração de notificações são Amazonas e Paraná, ambos possuem, igualmente, 8,4%, enquanto o Sergipe, por sua vez, tem o menor número, com um total de 0,9%.
Apesar de um declínio na incidência de 2014 e 2016, os casos de hepatite A se mantiveram estáveis no País até 2022. Em 2023, as taxas da doença foram de 0,3 caso por 100 mil habitantes – neste contexto, não se considera Santa Catarina, que teve incidência de 3,4 casos/100 mil habitantes, e nem o Rio Grande do Sul, com 2,8 casos/100 mil habitantes.
De 2013 a 2023, o sexo masculino foi o que teve a maior proporção de casos de hepatite A, com 58,9%, enquanto o sexo feminino totalizou 41%. Entre 2000 e 2023, os registros em menores de 10 anos foi de 51,7%. Sobre a raça/cor, em 2023, os autodeclarados brancos correspondiam a 53% dos casos, enquanto pretos e pardos totalizaram 31,1%; amarelos e indígenas tiveram 1,1% e 0,3% do total de notificações, respectivamente.
Hepatite B
A maior parte dos casos de hepatite B está no Sudeste, que totaliza 34,1% das notificações. Em seguida, encontra-se o Sul (31,2%), Norte (14,5%), Nordeste (11,1%) e Centro-Oeste (9,1%). Entre 2013 e 2023, as taxas de detecção de hepatite B reduziram em 42,8%, indo de 8,3 casos para 4,7 a cada 100 mil habitantes.
Do total de casos, 158.920 (55,0%) foram registrados em indivíduos do sexo masculino, no entanto, desde 2013, tanto para homens quanto para mulheres, está havendo uma tendência de queda nas notificações. Sobre a faixa etária da população infectada, estima-se que 46,5% dos casos se acumularam em pacientes de 30 a 49 anos, ao passo que, em 2023, o maior percentual foi em pessoas de 60 anos ou mais, totalizando 20,2%. Entre as mulheres, 51,1% dos casos acumulados foram em pacientes de 20 a 39 anos.
Dos casos registrados em 2023, 52,9% deles ocorreram em autodeclarados pardos e pretos; 37,1% em brancos; 1,7% em amarelos; e 0,7% em indígenas. Entre 2000 e 2023, é possível observar uma elevação considerável no número de casos registrados entre pretos e pardos, com aumento de, respectivamente, 2,5% para 11,3% e de 8,7% para 41,6%.
Nas hepatites virais, a B é a segunda maior causa de óbito. Até 2022, foram notificadas 19.475 mortes relacionadas à doença, sendo que a maior parte delas aconteceu no Sudeste. No mesmo ano, o maior coeficiente de mortalidade foi na região Norte, com 0,3 óbito/100 mil habitantes. Além disso, o número de falecimentos por hepatite B foi maior em homens do que em mulheres.
Hepatite C
Dos casos de hepatite C, 58,1% deles estão concentrados no Sudeste, 27,1% no Sul, 7,2% no Nordeste, 3,9% no Centro-Oeste e 3,7% no Norte. Segundo os dados do estudo, ao considerar o intervalo entre 2013 e 2023, o Sul e Sudeste tiveram taxas mais elevadas que o restante do País, com incidência de 15,2 casos/100 mil habitantes e 9,3 casos/100 mil habitantes, respectivamente.
Do total de casos de hepatite C registrados entre 2000 e 2023 (que se totalizam em 318.916), 182.818 (57,3%) foram em indivíduos do sexo masculino, enquanto 135.975 (42,6%) foram do sexo feminino. Em relação à faixa etária dos diagnosticados, observa-se que o maior percentual dos casos correu em pacientes acima dos 60 anos de idade, 28,2% entre as mulheres e 20,9% entre os homens. Em 2023, 46,9% dos pacientes infectados se autodeclaravam como brancos, 32,9% como pardos, 11,1% como pretos, 1,0% como amarelos e 0,3% como indígenas.
Dentre as hepatites virais, a hepatite C é a maior causa de óbito – índice que vem aumentando gradativamente ao longo dos anos. Entre 2000 e 2022, o número de mortes ocasionadas pela etiologia corresponde a 68.189, sendo que, destes, 55,4% foram no Sudeste; 23,9% no Sul, 11,1% no Nordeste, 5,1% no Norte e 4,4% no Centro-Oeste.
Em 2022, a mortalidade por hepatite C no Brasil foi de 0,5 por 100 mil habitantes. No mesmo ano, 64,3% das mortes foram maiores em homens do que em mulheres, de modo que o coeficiente de mortalidade foi de 0,6 óbito para indivíduos do sexo masculino, enquanto para o sexo feminino o valor foi de 0,4.
Hepatite D
A região Norte é a que apresenta a maior ocorrência de casos de hepatite D, totalizando 72,5% deles. Em seguida, está o Sudeste, 11,3%; Sul, 6,9%; Nordeste, 5,9%; e Centro-Oeste (3,4%). Ao todo, em 2023 foram diagnosticados 109 casos no Brasil.
Durante todo o período de análise, a maior parte das notificações foi registrada entre homens (58,5%). Além disso, segundo as informações apresentadas pelo Boletim, a maior parte da população infectada pela hepatite D é jovem, sendo que mais da metade dos indivíduos (60,5%) tinha entre 20 e 44 anos de idade. Do total, 18,8% possuíam mais de 50 anos. Na totalidade, 62,8% dos pacientes se autodeclaravam pretos e partos; 17,3% brancos; 6,6% indígenas; e 1,3% amarelos. A estratificação por sexos manteve o mesmo padrão.
Visando combater as hepatites virais, a Assembleia Mundial da Saúde adotou, em maio de 2016, a primeira Estratégia Global do Setor de Saúde, com o objetivo de eliminar a doença do quadro de problemas de saúde pública até o ano de 2030. Por meio do Sistema Único de Saúde, o Brasil possui um papel estratégico e fundamental neste compromisso.