O mais recente Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, traz estudo sobre a mortalidade por diabetes mellitus (DM) no Brasil entre 2010 e 2021. Foram registradas 752.720 mortes causadas pela doença no período, passando de 54.855 em 2010 para 75.438 em 2021.
A taxa de mortalidade apresentou queda entre 2010 e 2019 e cresceu em 2020, assim como nas macrorregiões do País, exceto a Centro-Oeste. Esse aumento pode estar relacionado à susceptibilidade dos diabéticos em decorrência das complicações da Covid-19. As Regiões Norte e Nordeste registraram as maiores taxas, enquanto a menor foi no Centro-Oeste. Destaca-se o crescimento contínuo na Região Norte ao longo dos anos. Os resultados podem estar associados à qualidade do manejo clínico e à transição nutricional acelerada em curso nessas regiões, além da desigualdade socioeconômica em comparação com as demais.
A Região Sudeste abriga, paralelamente, a maior e a menor taxa de mortalidade por diabetes mellitus do País, nos estados do Espírito Santo (68,5/100.000 hab.) e Minas Gerais (15,8/100.000 hab.), respectivamente. Os estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro também apresentaram altas taxas de mortalidade.
Em estudo realizado por Klafke et al., entre 2006 e 2010, as maiores taxas de mortalidade por complicações agudas do diabetes mellitus ocorreram em Alagoas (4,47 óbitos/100 mil hab.), Acre (4,53 óbitos/100 mil hab.) e Maranhão (4,94 óbitos/100 mil hab.). No estudo realizado por Cousin et al., com dados do GBD no período pré-pandêmico, as maiores taxas de mortalidade prematura por DCNT corrigidas e padronizadas por idade ocorreram em Alagoas, Pernambuco e Maranhão, no ano de 2019.
Nas capitais brasileiras, as maiores prevalências de diabetes autorreferida em 2021 ocorreram em Belo Horizonte (11,3%), Rio de Janeiro (10,9%) e Maceió (10,7%), segundo dados do Vigitel. Para os estados, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, em 2019, as prevalências de diabetes foram maiores no Rio de Janeiro (9,3%), Rio Grande do Norte (8,8%) e Rio Grande do Sul (8,8%).
Entre os fatores, o envelhecimento populacional respondeu por 1/3 do aumento dos casos autorreferidos entre 2013 e 2019. Adicionalmente, alimentação não saudável, obesidade e outros fatores de risco são potenciais responsáveis para o aumento da incidência da doença. Neste estudo, foram analisados os óbitos distribuídos em três grupos etários: entre 0 e 29 anos; 30 a 69 anos, caracterizada como a faixa etária de mortalidade prematura; e maiores de 70 anos.
Resultados
Os óbitos em menores de 30 anos tiveram expressivo crescimento no período estudado: 35% maior em 2021, quando comparado com 2010. Esse dado é particularmente relevante ao se considerar que a mortalidade nessa faixa etária é usualmente causada por complicações agudas que podem ser prevenidas por meio de um conjunto de ações custo-efetivas, como o acesso e o acompanhamento nos serviços de Saúde, o fornecimento de medicações e a educação em Saúde.
Entre os mais jovens, o aumento do diabetes tipo 2 causou alerta pelo potencial de crescimento que acompanha o aumento da prevalência dos fatores de risco, como sobrepeso, inatividade física e alimentação não saudável. No Brasil, dados do Vigitel demonstram aumento da prevalência de obesidade de 5,7% para 12,2%, de pessoas entre 18 e 24 anos; e de 12,2% para 20,8%, entre 25 e 34 anos, no período de 2010 a 2021. Segundo dados da PeNSE, o excesso de peso alcançou a prevalência de 23,7% nos adolescentes escolares de 13 a 17 anos em 2015.
Na faixa etária de 30 a 69 anos, houve queda de 39,3 para 37,0 mortes por 100.000 habitantes, o que representa 6%. Vale destacar que a taxa de mortalidade prematura por diabetes caiu paulatinamente de 2011 a 2019, chegando a 34,7 mortes por 100.000 habitantes, mas, em 2020, voltou ao patamar inicial e caiu ligeiramente em 2021. Observa-se que, dentro da mesma faixa, há maior concentração de óbitos entre 50 anos e 69 anos. Esses representaram 91,7% em 2010 e 89,7% em 2021, configurando queda.
Em contrapartida, as mortes nos segmentos mais jovens dentro da faixa de 30 a 49 anos aumentaram ligeiramente no período. A faixa etária com maior peso na mortalidade por diabetes é a de maiores de 70 anos. Esse resultado foi semelhante em outros estudos da literatura – que apontam aumento exponencial da mortalidade por diabetes com o envelhecimento, que decorre da maior susceptibilidade à ocorrência de múltiplas doenças e maior mortalidade geral entre idosos. Entretanto, entre 2010 e 2021, houve queda de 5,8% na taxa de mortalidade nessa faixa etária.
Esse estudo foi realizado de forma quantitativa com os dados de mortalidade por diabetes mellitus registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) – disponibilizados de forma pública pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), do Ministério da Saúde.
Plano de ações
Em 2021, o Ministério da Saúde publicou o plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis com vigência até 2030, que prevê a articulação da União, estados e municípios para a adoção de estratégias de enfrentamento à morbimortalidade crescente para as doenças crônicas, entre elas diabetes e os fatores de risco comuns e modificáveis dessas doenças.
Para o diabetes mellitus, o plano prevê ações de promoção da Saúde para redução dos fatores de risco, ações de atenção integral por meio do aumento da cobertura na atenção primária, melhoria na capacidade de diagnóstico e prevenção de complicações.
Diabetes mellitus
É uma doença metabólica causada pela hiperglicemia, com dois tipos: o tipo 1 é o mais recorrente entre crianças e adolescentes, caracterizada como autoimune e se manifesta desde a infância, não podendo ser prevenida. Já o tipo 2, que decorre da deficiência de secreção da insulina, é o tipo mais frequente na população geral e pode ser prevenido ou postergado pelo controle de fatores de risco modificáveis.
A doença aumenta, consideravelmente, os níveis de açúcar no sangue – resultando em complicações, como a cetoacidose diabética, o estado hiperglicêmico hiperosmolar e a hipoglicemia, que culminam na amputação de membros inferiores, insuficiência renal crônica e disfunções de vários outros órgãos.
O Brasil possui a quarta maior prevalência de diabetes mellitus no mundo, com 13 milhões de pessoas diagnosticadas. Estima-se que 90% da carga de diabetes seja causada pelo tipo 2, que continua a crescer e é influenciada por fatores demográficos, como o envelhecimento populacional, o crescimento econômico e por hábitos caracterizados como fatores de risco, como alimentação não saudável, consumo de álcool, inatividade física, obesidade e tabagismo.
O DM é considerado um dos principais desafios da saúde pública, pois, ao contrário de outras condições crônicas, tem afetado cada vez mais pessoas, levando a um aumento da perda da qualidade de vida e morte prematura.