Tertúlia da AMSP trata da situação da pandemia na América Latina e no mundo

Na última quarta-feira (13), a Tertúlia Acadêmica contou com palestra do atual secretário de Saúde de Cochabamba e ex-ministro da Bolívia, Aníbal Antonio Cruz Senzano, sobre comportamento, evolução e situação atual da pandemia na América Latina e no mundo. O evento da Academia de Medicina de São Paulo foi realizado de forma híbrida.

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Na última quarta-feira (13), a Tertúlia Acadêmica contou com palestra do atual secretário de Saúde de Cochabamba e ex-ministro da Bolívia, Aníbal Antonio Cruz Senzano, sobre comportamento, evolução e situação atual da pandemia na América Latina e no mundo. O evento da Academia de Medicina de São Paulo foi realizado de forma híbrida.

Senzano relembra que participou da primeira reunião da Comissão de Emergência em Genebra, no dia 22 de janeiro de 2020, convocada pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus, para alertar o mundo sobre uma nova cepa do coranavírus.

“Havia um inimigo desconhecido, com uma suscetibilidade ainda maior dado ao caráter imigratório das pessoas. As outras pandemias não tinham a velocidade infecciosa que hoje os meios transporte proporcionam. Da Ásia à América, podemos nos locomover em poucas horas, assim, a transmissão infecciosa é muito grande também”, disse.

Fases

O ex-ministro da Bolívia falou sobre as quatro fases pelas quais a Covid-19 passou. Em 31 de dezembro de 2019, a OMS foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos.

Desta forma, na primeira fase, o vírus é transportado de um país para outro; na segunda fase, ocorre a transmissão local; na terceira, com a contaminação comunitária, o vírus já se torna incontrolável; e na quarta, ocorre o isolamento social como uma das medidas sanitárias para a contenção das infecções.

“Corríamos sérios riscos. Na Bolívia, após análises, entendíamos que não havia condições sanitárias de lidar com a situação. Não tínhamos infraestrutura hospitalar, medicamentos, equipe médica e profissionais da Saúde. Quando confirmamos o primeiro caso, fechamos as nossas fronteiras, cidades, comércios e escolas. Ou afetaríamos a economia ou matávamos o vírus, e preferimos combater o vírus. Em outros países, como Estados Unidos, Brasil e Chile, falavam que tinham um sistema sanitário adequado e fariam o confinamento gradual, e os resultados foram totalmente distintos”, recorda o palestrante.

Ele mostrou uma planilha com o impacto da Covid-19 por população no mundo atualmente. Na China, onde foram registrados os primeiros casos, com seus 1,3 bilhão de habitantes, há 161.692 infecções confirmadas, com 4.683 mortos, e 1,2 bilhão de vacinados, impactando 0,000003% de morte populacional. No Brasil, com 209,5 milhões de habitantes, são 30.123.963 de registros infecções e 661.182 óbitos, com 0,31% de impacto de morte populacional.

América Latina e mundo

Até o dia 11 de abril, o Brasil confirmou 30.161.909 casos e 661.576 mortes por Covid-19, ocupando o primeiro lugar na América Latina e o terceiro no mundo, atrás dos Estados Unidos e da Índia, com o maior número de casos e mortes.

O Uruguai, com 894.267 confirmações e 7.183 óbitos, foi um dos países que melhor conseguiu conter os casos. “As autoridades públicas falam de quatro segredos: um sistema único de saúde que contempla todos os uruguaios, o diagnóstico precoce, o isolamento social para conter a cadeia de contágio e o mais importante de todos – o comportamento da população para o êxito de controle da pandemia”, informa Senzano.

A Bolívia teve a confirmação dos dois primeiros casos do novo coronavírus no dia 10 de março de 2020, somando-se até então a oito países com pessoas infectadas da América do Sul. “Ficamos em confinamento por cinco meses. Mesmo assim, tivemos um pico de infecção de 2.031 em apenas um dia”, acrescenta o ex-ministro da Saúde.

Em julho de 2020, matéria divulgada no G1 informava que policiais retiraram mais de 400 cadáveres de ruas e casas na Bolívia em apenas cinco dias. Desse total, estima-se que a maioria morreu por Covid-19. “Tínhamos poucos leitos de terapia intensiva, tivemos a crise de oxigênio e mortos nas ruas”, acrescenta o médico.

Desde o início da pandemia até o dia 11 de abril, o país, com seus 11 milhões de habitantes, possui um acumulado de 903.306 casos confirmados e 21.899 mortes pela infecção. “Agora, estamos em uma fase estacional, com infecção mínima e baixa mortalidade”, disse o secretário, reiterando que isso foi possível dada a maior cobertura vacinal da população.

Projeção atual e futuro

Aníbal Senzano, que também é médico geriatra e cirurgião geral, além de professor universitário, sintetiza que ainda passamos por uma tensão mundial de guerra entre Rússia e Ucrânia, com impacto importante para a contenção da crise sanitária.

Se, por um lado, a população mundial está mais imunizada, com a vacinação de 5 bilhões de pessoas, por outro, a desigualdade das imunizações assola alguns países, como Haiti, Chad, Burundi e Congo, onde a campanha não chegou a 1% de cobertura vacinal. “Essa desigualdade vai nos levar a uma situação de alerta mundial, porque as variantes vão continuar e as migrações também. É importante termos esse olhar de vacinar o mundo inteiro, com a redução das desigualdades e distribuição de vacinas”, alerta.

A exemplo, o especialista fala da variante ômicron, relatada à OMS pela África do Sul, em 24 de novembro de 2021. “A ômicron é resultado de 62 mutações potencializadas. Se a população mundial não estivesse imunizada, as confirmações, sequelas e mortes seriam ainda maiores em comparação aos primeiros casos de Covid-19. Teríamos uma catástrofe. Com vacinados, as complicações foram mínimas, mas precisamos ampliar o acesso às vacinas.”

E a subvariante BA.2 da ômicron, já dominante no mundo, é extremamente transmissível e silenciosa. Segundo a OMS, representa quase 86% dos casos sequenciados. “Apesar das imunizações, não devemos esquecer: o vírus ainda é uma realidade e as medidas de biossegurança devem prevalecer, como usar máscara, evitar aglomerações e manter a higienização das mãos, até a pandemia tornar-se endêmica”, conclui.

Realidade brasileira

O presidente da Academia de Medicina de São Paulo e da Associação Paulista de Medicina, José Luis Gomes do Amaral, disse que apesar dos desafios políticos e econômicos pelos quais o Brasil passou para controlar a pandemia, a cultura de vacinação e o Sistema Único de Saúde foram elementares no processo de imunização populacional.

“Tivemos uma grande adesão à vacinação. Infelizmente, há países no mundo que não têm esse avanço. E podem se tornar repositórios de variantes que talvez possam guardar as mesmas propriedades da ômicron, no que diz respeito à facilidade de contágio, ou as mesmas características da variante delta, que causou tantas mortes. A Saúde do mundo não pode ser tratada individualmente, mas coletivamente. A pandemia não está resolvida, porque ainda sofremos com os agravos socioeconômicos e agora com uma guerra”, finaliza.

Fotos: Marina Bustos