Warm Up aborda “Presente e futuro da Telemedicina”

A pandemia de coronavírus chegou para evidenciar a revolução tecnológica pela qual a Medicina está passando há muito tempo

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A pandemia de coronavírus chegou para evidenciar a revolução tecnológica pela qual a Medicina está passando há muito tempo. As teleconsultas por exemplo, representam uma nova forma de colocar médicos e pacientes em contato. Foi disso que tratou a edição de setembro do Warm Up, que aconteceu virtualmente na última quarta-feira, 16, e tratou do “Presente e futuro da Telemedicina”.

O evento é um aquecimento para o Global Summit Telemedicine & Digital Health – agendado para os dias 13 a 16 de outubro – e foi moderado por Antônio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia da Informação da Associação Paulista de Medicina e presidente do Comitê Organizador do Global Summit, e Jefferson Gomes Fernandes, neurologista e presidente do Conselho Curador do Global Summit.

O primeiro palestrante, Luis Lapão, é professor de Global Health Information Management na Universidade Nova de Lisboa e falou sobre “Modelos de Negócios para a Transformação Digital nos Cuidados à Saúde”. Para Lapão, Telessaúde simboliza um desafio novo e complexo que precisa de cada vez mais de parcerias entre profissionais e universidades para, assim, ter uma série de ligações com diferentes organizações internacionais.

O professor abordou também a forma que a tecnologia está presente em todos os aspectos da vida das pessoas, permitindo a criação de diferentes modelos de negócios. “Existem diversos artigos que mostram a melhoria na produtividade dos serviços digitais, falando que vale a pena o investimento pois assim começam a surgir plataformas que permitem interação com os usuários, envolvendo médicos e enfermeiros e mostrando onde está o valor desses novos serviços.”

Durante a apresentação, o palestrante ainda citou a importância de uma parceria entre o Brasil, Portugal e os demais países que estejam envolvidos com a Telemedicina, destacando que o atendimento remoto e a evolução das tecnologias na área da Saúde só terão sucesso caso os profissionais caminhem em conjunto à essa evolução.

“As aplicações serão muito grandes e temos todos que colaborar para que isso aconteça. Até porque, para a Telemedicina e a inteligência artificial poderem ter sucesso na sua utilização é fundamental o envolvimento direto dos profissionais de Saúde. Isso ajuda a integrar uma série de inovações e nos oferece um parâmetro do potencial da tecnologia no futuro”, salientou.

Lapão encerrou sua apresentação falando que a Telemedicina também é um aspecto importante ao meio-ambiente, pois ajuda a combater mudanças climáticas ao permitir que os pacientes não utilizem automóveis, já que serão consultados no conforto de suas casas, evitando a poluição e a liberação de gases prejudiciais ao planeta.

Inovações em tempos de crise

Em seguida, Guilherme Rabelo, gerente comercial e inteligência de mercado da Inovalcor, assumiu a apresentação e trouxe o tema “Redesenhando o Modelo de Serviços Digitais da Saúde na Era da Experiência do Cliente-Paciente” para o webinar. Segundo Rabelo, é em tempos de crise que se percebe mudanças reais nos mais diversos aspectos da vida profissional e pessoal, sendo a pandemia um exemplo claro disso.

O palestrante demonstrou que a nova rotina trazida pela Covid-19 representa a aceleração de um processo e de uma transformação que já estavam em curso há algum tempo. Além disso, para ele a evolução digital na área da Saúde e da Medicina nada mais representa do que o que é visto pelas gerações atuais, ou seja: uma migração para os âmbitos digitais e tecnológicos em todos os aspectos da vida.

“A Saúde está sendo transformada. Precisamos pensar no que os nossos pacientes querem, de que maneira podemos fazer um produto diferenciado, que corresponda às expectativas. As empresas que atendem estes clientes precisam focar em inovação, respeito à liberdade do paciente e em formas de transformar a comunicação”, descreveu.

De acordo com o seu ponto de vista, a transformação digital representa uma transformação cultural pois o componente humano compete com o tecnológico, existindo uma luta de forças entre os dois. Exemplo disso, é que por mais

complexas e desafiadoras sejam as novas tecnologias, o cérebro humano não caminha na mesma velocidade, simbolizando que é necessário achar um ponto de equilíbrio para que ambos caminhem em sintonia.

As inovações também permitem que o paciente seja individualizado, representando que os casos se diferem uns dos outros e que os profissionais não podem mais analisar a doença, mas sim o indivíduo e o quadro clínico que ela apresenta. “Cada paciente é único e temos que lidar com ele e não com a sua doença porque cada caso é um caso. É aí que surge a humanização da Medicina, valorizando a segurança. Nesse sentido, vejo que vários elementos estão entrando como blocos estratégicos, como a Telemedicina, em que nós temos essa questão da visão integrada do paciente e a questão da mobilidade que ela traz”, explicou.

Rabelo encerrou sua palestra destacando a necessidade de pensar diferente pois a Medicina é uma área que vive, há muito tempo, em uma zona de conforto e é preciso se modernizar para abranger novas evoluções

Ajuda robótica

Luciano Eifler, fundador da ConceptMed, falou sobre “Robôs de Telemedicina para o Coronavírus”. De acordo com o médico, a pandemia está sendo uma situação que obriga profissionais de todas as áreas a pensarem em novas soluções. Neste sentido, ele enfatizou como a Telemedicina passou de vilã à heroína em um momento de tanta tensão e aflição para as populações ao redor do mundo.

Dando exemplos pessoais, Eifler destacou como, às vezes, o médico precisa estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, não conseguindo dar conta de todas as suas demandas. Sendo assim, a ajuda do robô é fundamental pois auxilia no acompanhamento de consultas, exames e até mesmo eventuais procedimentos, como cirurgias.

“O robô é um equipamento muito simples, diferente do que muitas pessoas imaginam. Um robô de baixo custo utiliza um tablet como cérebro e permite que você possa estar em qualquer lugar do mundo, fazendo rounds em visitas para pacientes. Há casos em que o robô entra até nos campos cirúrgicos, atuando como um tutor e auxiliando o cirurgião local a fazer um procedimento mais eficiente.”

O médico destacou também que através da utilização dos robôs, é possível garantir que pacientes tenham mais leitos e colocar profissionais de diversas especialidades em circulação para poder entender a analisar os mais diferentes casos. Exemplo disso foi a atuação de Eifler no Hospital de Campanha Nilton Lins, em Manaus, capital do Amazonas, em que, com a ajuda de sua equipe, levou robôs para cuidar de pacientes com casos graves de coronavírus.

“A gente ficou cerca de oito dias em Manaus, trabalhando direto, e levou alguns consoles de Telemedicina para auxiliar e através dos robôs fomos conseguindo cuidar dos casos. Nós tivemos muitos óbitos, infelizmente, mas também tivemos muitas altas, o que foi muito gratificante, por ter atravessado o país, conseguir ver que o robô realmente ajudou a contribuir com esses atendimentos”, relembrou.

Eifler disse que a utilização de robôs na Medicina é uma forma de humanizar o atendimento pois, apesar de não haver a presença física do médico, o paciente pode contar com ele em qualquer momento do dia. Na finalização de sua apresentação, o médico frisou que a robótica nada mais é que uma tecnologia que chegou para ajudar o trabalho dos profissionais, o transformando em algo mais ativo, efetivo e eficiente.

Popularização da Telemedicina

Abordando o tema “Telemedicina na Era do Coronavírus”, esteve presente o gerente médico de Telemedicina no Hospital Israelita Albert Einstein, Eduardo Cordioli, demonstrando como a utilização da prática entre médicos e pacientes cresceu durante o período da pandemia.

Cordioli iniciou a palestra dizendo que “o futuro não é mais como era antigamente” e destacou que o coronavírus potencializou uma transformação digital que já estava acontecendo na Telemedicina. Para provar, o médico apresentou os dados do Hospital Israelita Albert Einstein que indicavam que nos primeiros meses do anos os atendimentos remotos correspondiam a cerca de 60 casos e após um mês de pandemia este número saltou para mais de 1.000 atendimentos por dia.

“O coronavírus foi um catalisador dessa nova realidade, mas o índice de crescimento dessa forma de atendimento já estava em potencial. O paciente, a partir do momento que começa a ser atendido no conforto de sua casa, passa a se questionar se é realmente necessário ter que se locomover e ter que enfrentar uma sala de espera para ser consultado”, explicou.

De acordo com o médico, a tecnologia, utilizada de forma eletiva e com qualidade, permite que as teleconsultas sejam realizadas até mesmo nas áreas mais remotas do Brasil, desmistificando que esta forma de se fazer Medicina é possível apenas nos grandes centros urbanos. Cordioli apresentou dados em que foram levados diversos exames complexos, como eletrocardiograma e ecocardiográfica para locais distantes enquanto o paciente era acompanhado em tempo real pelos médicos através da Telemedicina.

“É preciso lembrar que Telemedicina não é uma forma de Skype, os médicos que participam dessa forma de atuação precisam de treinamento. O Ministério da Saúde pediu para que nós do Einstein disponibilizássemos as nossas ferramentas tecnológicas aos médicos que trabalham em postos de saúde e nós passamos três meses treinando esses profissionais para que o atendimento seja, de fato, de qualidade”, contou.

O fim da palestra foi marcado por Cordioli argumentando que a proibição da Telemedicina é algo antiético, visto que a prática tende apenas a beneficiar pacientes ao redor de todo o País.

Telemedicina humanizada

Encerrando as apresentações do Warm Up, foi a vez de Jihan Zobgi, fundadora e CEO da Dr. TIS | Telemedicine HealthTech, apresentar o tema “Telemedicina: Muito além da videoconferência”. O seu objetivo foi destacar que mesmo através de uma chamada de vídeo, ainda existe um ser humano por trás da tela, lidando com diversos sentimentos e necessitando de cuidados.

“O gerenciamento remoto de doenças abrange esforços holísticos para gerenciar todos os aspectos do estilo de vida e da medicação no que se refere a uma

doença específica. Os pacientes de risco são monitorados continuamente em suas casas, no conforto, promovendo mais efetividade no tratamento”, explicou.

De acordo com Jihan, desta maneira é possível conectar dados sobre a saúde do paciente, analisando o seu caso de maneira precisa, compartilhando com médicos e hospitais o quadro clínico que ele se encaixa e assim, promovendo um diagnóstico mais preciso sobre a doença de acordo com os sintomas monitorados com o objetivo de auxiliar o paciente a controlar a própria doença.

“Existem muitas coisas que a tecnologia irá trazer para auxiliar o trabalho do médico. O uso de inteligência artificial representa uma grande quantidade de dados, o que é fundamental para conseguir lidar com a complexidade que esse tema traz, ajudando a atuação médica e contribuindo para que o paciente entenda a sua situação”, concluiu.