Webinar APM aborda contribuições do Brasil nos tratamentos de Covid-19

No último dia 30 de setembro, a Associação Paulista de Medicina transmitiu, em seu canal no YouTube, mais uma edição do Webinar APM

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No último dia 30 de setembro, a Associação Paulista de Medicina transmitiu, em seu canal no YouTube, mais uma edição do Webinar APM. Desta vez, os médicos trataram das contribuições do Brasil para o avanço no tratamento da Covid-19.

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, apresentou o encontro, que teve moderação do diretor Científico Álvaro Nagib Atallah. O convidado da noite foi Renato Delascio Lopes, professor de Medicina na divisão de Cardiologia do Duke University Medical Center e professor livre docente de Cardiologia pela Escola Paulista de Medicina.

Ele começou reforçando que as evidências baseadas no melhor rigor científico são fundamentais para que os profissionais saibam como tratar os pacientes, gerando conhecimentos que sejam confiáveis e levem ao melhor prognóstico.

“Não importa se estamos em guerra ou em pandemia, o rigor científico precisa ser preservado, assim como os preceitos éticos da pesquisa clínica. O que aprendemos e continuamos aprendendo é que quando pulamos etapas, pagamos um preço muito caro. Pois criamos conhecimento errado, do qual vamos nos arrepender, e podemos prejudicar pacientes no meio do caminho.”

Sobre os aspectos éticos, Lopes lembrou que, durante os últimos meses, houve casos em revistas renomadas de artigos publicados que, em poucos dias, tiveram de ser retratados, evidenciando que etapas foram puladas. “Ser mais eficiente e pragmático não significa pular etapas na construção do conhecimento. Essa é uma mensagem muito importante”, afirmou o especialista.

Contribuição brasileira

Entrando especificamente no tema da noite, o cardiologista, que é diretor e fundador do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI), falou sobre a iniciativa Coalização Covid-19. Além do BCRI, esse projeto reúne representantes dos hospitais Israelita Albert Einstein, do Coração, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

Apresentando o grupo, o palestrante reforçou que este projeto reflete o que ele considera a grande palavra do Século XXI: colaboração. “Essa é uma união sem vaidades, competições e egos. De maneira genuinamente colaborativa, desenhamos ensaios clínicos realizados em conjunto, mobilizando todas as redes clínicas no Brasil, para que possamos responder perguntas rapidamente, mas com o rigor científico necessário.”

Em conjunto, as instituições já promoveram oito estudos, além de terem mais cinco em preparação. São investigações em pacientes com diferentes graus de infecção pelo novo

coronavírus, vistos por diferentes matizes, testando medicamentos como a cloroquina, a azitromicina, a dexametasona, testando hipóteses de anticoagulação, medindo a qualidade de vida etc.

Alguns deles já foram publicados. O primeiro estudo randomizado investigou os resultados da hidroxicloroquina, diante de tantas incertezas sobre a droga. A conclusão foi que, entre pacientes leves e moderados, a medicação, com ou sem azitromicina associada, não levou ao benefício clínico dos pacientes com Covid-19 nem em 15 dias e nem em 30. A análise saiu pelo The New England Journal of Medicine.

O segundo estudo buscou entender se em pacientes com quadro moderado a grave a adição de azitromicina de maneira rotineira traria benefícios. O que não foi observado, já que não houve melhoras nos aspectos clínicos dos pacientes, nem nas taxas de mortalidade, potencialmente até piorando efeitos adversos, causando por exemplo insuficiência renal aguda.

“Mais uma vez, vimos o poder de colaboração. Menos de um mês depois de estarmos no New England, publicamos esse estudo no The Lancet. Mais uma vez, tivemos dados brasileiros entre as melhores revistas médicas do mundo”, argumentou Delascio Lopes.

Debate

Após apresentar alguns detalhes sobre as pesquisas, o palestrante reforçou o papel importante do Brasil em nível global. Segundo sua análise, o País tem gerado evidência de alta qualidade para guiar o tratamento dos pacientes com Covid-19, testado questões clínicas importantes, contribuído com conhecimento em um ambiente em que os ensaios randomizados são necessários e demonstrado um forte programa colaborativo de pesquisa nacional.

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, entrou nas discussões lembrando que pesquisadores, no Brasil, têm muitas dificuldades para conseguir realizar pesquisas clínicas. E refletiu se a Covid-19 nos deixará como legado um processo mais célere no campo científico.

Para o convidado da noite, quando a pandemia acabar, a aprovação em 24h ou 48h não será sustentável, mas é possível encontrar um meio termo para que não se espere 18 meses para conseguir empreender uma pesquisa. “Isso faz com que pesquisadores e patrocinadores não queiram vir ao Brasil. Vimos agora que é possível melhorar. Espero que sejamos melhores e não percamos a colaboração. Que o sentimento de parceria que se exacerbou durante a pandemia não vá embora.”

Entre mais perguntas dos participantes e novas discussões, o moderador Atallah também ressaltou a importância de termos ensaios clínicos com desfechos homogêneos, para que possam ser analisados em conjunto. Ele também lembrou que, no início da pandemia, era enorme a pressão no Brasil para serem publicadas séries de casos.

“Na época, fiz a seguinte observação: ‘Com uma série de casos, você pode beneficiar ou prejudicar um grupo de pessoas. Mas, com um bom ensaio clínico, você beneficia a humanidade’. E é isso que tem sido feito com os estudos que foram mostrados aqui e com os que virão”, finalizou o diretor Científico da APM.

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