Webinar APM trata das possibilidades de vacinas para Covid-19

O tema foi “Imunizações em tempos de Covid-19” e os especialistas abordaram não só o desenvolvimento de uma vacina para o novo coronavírus, mas também a necessidade de manter as demais imunizações atualizadas

Últimas notícias

A Associação Paulista de Medicina voltou a reunir os médicos em seu canal no YouTube, na última quarta-feira, 15 de julho, para mais uma edição do Webinar APM. O tema foi “Imunizações em tempos de Covid-19” e os especialistas abordaram não só o desenvolvimento de uma vacina para o novo coronavírus, mas também a necessidade de manter as demais imunizações atualizadas.

Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), deu início às apresentações percorrendo o histórico do novo coronavírus, desde o seu surgimento em Wuhan (China), ainda em dezembro último. “Desde então, há muita preocupação em todo o mundo com as imunizações de rotina. Enfrentamos um cenário sem precedentes. Solicitamos que as pessoas fiquem em casa, mas também que mantenham a caderneta de vacinação em dia. É difícil lidar com o manejo dessa situação”, introduziu.

Segundo o especialista, por conta deste contexto, há o risco de terceira e quarta ondas de doenças não relacionadas à Covid-19, diante do represamento por conta das demandas atuais. Exemplos de enfermidades que podem crescer são os cânceres de mama e de próstata, ou as doenças por falta de vacinas. Os transtornos psicológicos e as doenças mentais também estão entre os mais preocupantes.

Em relação às vacinas, Kfouri indicou que não há um cenário positivo, no Brasil, há anos. Segundo os dados apresentados, entre 2011 e 2018, houve queda da cobertura vacinal no País. “São várias causas que buscam explicar: desabastecimento de vacinas, fake news, horários inflexíveis de unidades de saúde, muitas vacinas no calendário, percepção de risco da população que não se sente mais ameaçada por doenças como paralisia infantil etc.”

O palestrante, que também é diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, mostrou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 117 milhões de crianças estão sob risco de não serem vacinadas para sarampo desde que surgiu a Covid-19. Por fim, ele indicou que ambas as sociedades em que atua publicaram, conjuntamente, um documento com sugestões e recomendações sobre vacinação neste momento. A indicação é de que sejam mantidas regularmente, com os cuidados necessários.

Vacinas para Covid-19
Na sequência, a coordenadora do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Universidade Federal de São Paulo (Crie/Unifesp), Lily Weckx, descreveu o desenvolvimento comum de uma vacina. Primeiro, há a fase pré-clínica, de testes em animais. Depois, começa a etapa clínica humana. Neste momento, a primeira fase é com um conjunto pequeno de sujeitos e a segunda com algumas centenas de pessoas. Elas são mais focadas em avaliar a segurança e a imunogenicidade da vacina. A terceira e última, mais ampla, é voltada à avaliação da eficácia.

Frente à pandemia, porém, esse tempo foi estreitado. “Qual foi a saída? Aprovar a fase pré-clínica de algo que já conhecíamos. E fazer essas fases de desenvolvimento clínico juntas”, indicou Lily. Assim, foram utilizadas plataformas de Sars-Cov e Mers-Cov, que possuem muita similaridade com o Sars-Cov-2 (novo coronavírus), auxiliando e acelerando o trabalho atual.

A especialista afirmou, em seguida, que no curso normal dos estudos, há vacinas que podem levar até 20 anos para ficarem prontas. O intuito, nesta corrida pela vacina da Covid-19, porém, é realizar todo o processo por volta de 18 meses. “Se a vacina demonstrar eficácia, pode até não precisar esperar a terceira fase para realizar um registro. Poderá pedir uma licença emergencial de uso diante da pandemia.”

A palestrante também mostrou os últimos dados da Organização Mundial da Saúde, que atualiza todas as vacinas candidatas. Até 14 de julho, eram 163 – 23 delas em fase clínica. A mais destacada é a da Universidade de Oxford (Inglaterra). Ela já entrou na fase três. Outra com desenvolvimento avançado é a Sinovac, feita por vírus inativado, que entra, provavelmente na próxima semana, na fase 3.

Foi abordado, ainda, o papel do Brasil nessa corrida. A Universidade Oxford, por exemplo, está atuando em parceria com a Unifesp. Ao passo que o desenvolvimento da Sinovac tem ocorrido com a colaboração do Instituto Butantan. “Isso coloca o País em situação bastante privilegiada”, afirmou Lily, que também é professora Associada de Infectologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina.

Além dessas iniciativas, a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan estão desenvolvendo uma possibilidade de vacina que utiliza o vetor viral replicante baseado no vírus influenza. E a Universidade de São Paulo também iniciou o processo para outra vacina.

Debate
Após as exposições dos convidados, Álvaro Nagib Atallah, moderador do encontro e diretor Científico da Associação Paulista de Medicina, promoveu debates de acordo com os questionamentos do público. Os efeitos adversos apresentados em alguns estudos sobre vacinas, como calafrios, febre, dor local, fadiga e cefaleia, foram o primeiro ponto destacado.

Lily lembrou que esses sintomas são relativamente frequentes nas diversas vacinas e, inclusive, aceitáveis. De qualquer forma, neste momento, a especialista disse ser essencial que os pesquisadores perguntem e acompanhem o máximo possível como os que tomaram as vacinas se sentem, para avaliar bem a segurança.

“Se você pergunta se o indivíduo tem efeitos adversos, os números são esses. Metade vai dizer que teve dor. Quando você passa para estudos com vacinas já licenciadas, o reporte de eventos espontâneos é muito menor, de 10% a 15%. Mas em estudos controlados esses recortes são o que costumamos ver, nessas proporções”, acrescentou Kfouri.

O membro da SBP também argumentou que, hoje, é muito difícil estipular uma data para o surgimento de uma vacina para Covid-19. “A Ciência precisa comprovar eficácia com dados estatísticos e significância. E tem que considerar qual vacina terá melhor performance, qual a capacidade produtiva, quem irá tomar, quando chegar ao Brasil etc. Imaginar quando o indivíduo comum, que não é profissional da Saúde, terá a vacina é impossível.”

Sobre este tema, a médica do Crie/Unifesp informa que já há países adquirindo as vacinas com o desenvolvimento que possuem hoje. Há, também, indústria produzindo. “Se der errado, perdem tudo. Se der certo, já estarão com a vacina em mãos”, avaliou Lily. Ela indicou, porém, que é mais provável que uma vacina para Covid-19 só seja efetiva em 2021.

Por fim, o presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, agradeceu a disponibilidade dos palestrantes. “Estamos todos muito gratificados por termos acompanhado essas duas magníficas apresentações. Vocês responderam muitas das perguntas que gostaríamos. Agradeço em nome da Associação e dos médicos de São Paulo por compartilharem tanta experiência e por se comunicarem com tamanha facilidade conosco, além da dedicação que vocês têm na prática da Medicina.”