Cirurgia Cardíaca: onde estamos?

O século XX foi um período de grandes mudanças tecnológicas, com enorme impacto no estilo de vida da humanidade, inclusive na Medicina. Entre as áreas médicas, a cirurgia cardíaca se viabilizou e progressivamente conseguiu atingir novos horizontes e melhores resultados, com o advento dos avanços na área de bioengenharia, que possibilitaram o tratamento de pacientes cada vez mais graves. Houve, ainda, expressiva melhora das unidades de terapia intensiva e dos cuidados anestésicos e neurológicos, com uso de hipotermia sistêmica, entre outros.

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O século XX foi um período de grandes mudanças tecnológicas, com enorme impacto no estilo de vida da humanidade, inclusive na Medicina. Entre as áreas médicas, a cirurgia cardíaca se viabilizou e progressivamente conseguiu atingir novos horizontes e melhores resultados, com o advento dos avanços na área de bioengenharia, que possibilitaram o tratamento de pacientes cada vez mais graves. Houve, ainda, expressiva melhora das unidades de terapia intensiva e dos cuidados anestésicos e neurológicos, com uso de hipotermia sistêmica, entre outros.

Nos últimos anos, temos visto uma maior subespecialização e aumento de terapias alternativas ou híbridas. Em relação à subespecialização, a primeira grande divisão é entre cirurgiões de adultos ou de cardiopatias congênitas. A cirurgia cardíaca de adultos, por sua vez, também abarca várias áreas de conhecimento, como as cirurgias de doenças coronárias, afecções valvares, aorta, transplantes e marcapassos.

Em cada uma destas áreas, tem havido avanços. As doenças coronárias tratadas pela revascularização do miocárdio, apesar da evolução do uso dos stents pelos hemodinamicistas, têm o seu papel definido em pacientes diabéticos, com comprometimento de função ventricular e em pacientes com lesões multiarteriais. O uso de enxertos arteriais, abordagens menos invasivas, inclusive da dissecção da veia safena por videocirurgia, torna a operação mais aceita, sem comprometimento dos seus bons resultados sobejamente conhecidos.

As cirurgias valvares têm também evoluído, com durabilidade progressivamente
maior das próteses, melhores técnicas de plásticas especialmente da valva mitral, incisões menores e melhor controle operatório com o uso rotineiro de ecocardiograma transesofágico durante as operações. O advento do tratamento
percutâneo da valva aórtica (TAVI) e de procedimentos com o uso de hemodinâmica
para correção de valvopatia mitral tem impulsionado os cirurgiões a participarem mais de técnicas com o uso de imagens e eventualmente procedimentos híbridos (em que parte da doença é tratada por via cirúrgica e parte com o auxílio de hemodinamicistas).

As cirurgias sobre a aorta melhoraram muito o resultado com o uso de técnica operatória aprimorada, seja com evolução de próteses, colas cirúrgicas, uso de cell-saver evitando politransfusões e de todos os avanços de cuidados correlatos. Parte das doenças da aorta especialmente na aorta descendente, tem também sido tratadas com o uso de endopróteses por via percutânea.

O tratamento de graves miocardiopatias melhoraram tanto com o grande avanço medicamentoso quanto com o uso de ressincronizadores cardíacos e de desfibriladores (marcapassos especiais), além do avanço nos transplantes cardíacos e corações artificiais, estes uma realidade no mundo e que se tornou realidade no Brasil em centros de excelência.

As cirurgias de cardiopatias congênitas têm também progredido extraordinariamente com o avanço diagnóstico, inclusive intrautero. Estes diagnósticos cada vez mais precisos e precoces têm ajudado a programar melhor e a obter resultados mais satisfatórios no tratamento de crianças. O uso de terapias hibridas também é cada vez mais realizado.

Enfim, a cirurgia cardíaca que surgiu como especialidade na década de 1960 (há aproximadamente 60 anos), e tev sua idade de ouro nas décadas de 1980 e 1990, mantém-se em permanente transformação e aprimoramento. Esses acontecimentos nos fazem antever uma evolução apoiada em avanços tecnológicos e na inquietude permanente de seus cirurgiões, que trabalham sempre no intuito de ultrapassar as fronteiras existentes.

Paulo Manuel Pêgo Fernandes é professor titular da disciplina de Cirurgia Torácica da aculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Artigo publicado na Revista da APM – Edição 685 – jan/fev 2017