APM realiza segundo módulo do Webinar sobre Atualização em Imunização

Dando continuidade às apresentações sobre Atualização em Imunização, na última quarta-feira, 26 de abril, ocorreu o segundo módulo do Webinar da Associação Paulista de Medicina a respeito do tema

Notícias em destaque

Dando continuidade às apresentações sobre Atualização em Imunização, na última quarta-feira, 26 de abril, ocorreu o segundo módulo do Webinar da Associação Paulista de Medicina a respeito do tema. Vacinas meningocócicas, hesitação vacinal e vacina contra a Covid-19 foram os tópicos tratados pelos especialistas no encontro.

O presidente da APM, José Luiz Gomes do Amaral, foi o moderador, relembrando que os palestrantes da noite foram alguns dos responsáveis por trazer segurança e expectativa durante os períodos de incerteza da pandemia de Covid-19, no sentido de acreditarem que tais dificuldades seriam superadas. “Aqui estamos nós, buscando nos atualizar em imunizações. Nosso País, durante várias décadas, foi um exemplo para o Planeta em função de nossa habilidade em imunização.”

Vacinas Meningocócicas

A primeira apresentação foi realizada pelo especialista em doenças infecciosas pediátricas Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, com o tema “Vacinas meningocócicas, como recomendar?”. A doença meningocócica, que é rara e tem particularidades únicas, possui uma grande característica de imprevisibilidade, ou seja, afeta indivíduos previamente saudáveis e é acompanhada de altas taxas de letalidade – de modo que um a cada cinco acometidos evolui a óbito. Em relação aos sobreviventes, a doença pode deixar sequelas neurológicas e levar à amputação de membros.

“As vacinas conseguem não só gerar proteção contra a doença, mas também agregam proteção contra o estado de colonização. Ou seja, aqueles que recebem a vacina deixam de adquirir a possibilidade de serem portadores, mesmo que assintomáticos, do meningococo. Ao conseguir ampliar a cobertura vacinal em uma população com grupo etário de adolescentes, é possível alcançar a chamada imunidade indireta, crucial para que tenhamos a possibilidade de controlar a doença”, explicou o especialista.

Como exemplo, citou a Holanda, que utiliza a vacina de meningococo C para toda a população de 1 a 18 anos, contribuindo para um impacto na redução de casos, fazendo com que a transmissão do patógeno naquela comunidade fosse interrompida e o benefício da proteção fosse alcançado até mesmo pelas faixas etárias não contempladas no esquema de vacinação. No Brasil, a mesma vacina foi introduzida apenas para lactantes, até que em 2019 houve a introdução de doses para adolescentes. Contudo, as taxas de cobertura ainda estão muito distantes de alcançarem a imunidade indireta, como aconteceu na Holanda.

Também há a possibilidade de vacinar a população com imunizantes de meningococo B, vacina proteica que expressa antígenos subcapsulares que contribuem para desencadear anticorpos, iniciando, assim, a proteção contra as cepas do meningococo. Durante a apresentação, o pediatra apresentou dados dos Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Canadá, Espanha e Austrália, que utilizaram este tipo de vacina e tiveram uma redução considerável no número de casos.

Ao finalizar sua apresentação, Sáfadi relembrou que, pelo fato de a doença meningocócica ser imprevisível, a Ciência está sempre tentando otimizar a proteção. “A pandemia de Covid-19 fez com que houvesse diminuição nas taxas, mas o mundo inteiro já está vivenciando o retorno desta doença aos seus patamares anteriores, destacando a importância de resgatarmos as coberturas vacinais para que não voltemos a observar a ocorrência de surtos e outras situações que nós, obviamente, gostaríamos de evitar.”

Vacinas contra a Covid-19

Continuando as palestras, foi a vez do pediatra e infectologista Renato Kfouri apresentar o tema “Vacinas Covid-19 – Atualizações”. Recentemente, o Brasil alcançou a marca dos 700 mil óbitos por coronavírus – sendo o segundo País com o maior número de mortes no mundo –com mais de 32 milhões de casos confirmados.

De acordo com o especialista, as vacinas contra esta infecção foram desenvolvidas por meio da indução de produção de anticorpos neutralizantes contra a porção mais antigênica do coronavírus, de modo que se fixam na proteína do vírus, impedindo a sua adesão e proliferação nas células. Apesar de não impedir novas infecções, os imunizantes contribuem para prevenir desfechos e formas graves da doença.

“Nas nossas métricas, temos que crianças de diversas faixas etárias e adultos no geral representam uma cobertura vacinal de 86% para uma dose. O total da população acima de seis meses com duas doses é de 77%, além disso, 65% têm uma dose de reforço e somente 38% acima dos 40 estão com as duas doses de reforço. Como já prevíamos, seria uma doença em que não seria possível alcançar a imunidade coletiva, pois se trata de um vírus zoonótipo, com variantes que escapam do sistema imune, em que há casos de reinfecções e que a proteção conferida por infecção natural ou pela vacina não é longeva”, descreveu.

O médico também abordou a existência de uma série de variantes. A proteína spike do coronavírus já conta com mais de 50 mutações, o que virologistas chamam de “aberração genômica” e que afeta as características do vírus original, aumentando a sua transmissibilidade.

“O que mais mudou até agora foi o acúmulo de variantes com distanciamento genético. O da Ômicron, em relação às outras variantes, fez com que tivéssemos uma rápida dispersão do vírus. Naquele momento, sabíamos que as vacinas tinham sido produzidas com a variante original, testadas em alguns momentos com a Alfa, mas não tínhamos uma real compreensão do papel frente a essas novas variantes”, complementou.

Kfouri chamou a atenção ainda para o número de casos de Covid-19 na Pediatria. Apesar dos quadros em crianças e adolescentes serem desproporcionais em relação aos registros da população idosa, os dados ainda preocupam. Indivíduos com menos de 20 anos representam 9,3% das hospitalizações e 1% das mortes, nos menores de cinco anos, a porcentagem de hospitalizações é de 6% e os óbitos são de 0,86%. No entanto, o especialista relembrou que nenhuma outra doença pediátrica prevenível por vacinação deixou tantas vítimas como a Covid-19, o que remete à importância de vacinar crianças e jovens saudáveis, independente de terem fatores de risco ou não.

“As vacinas continuam sendo a melhor forma de prevenção das manifestações graves da Covid-19. Quanto mais doses um indivíduo tem, o risco de hospitalização, das formas graves e a evolução para óbito pela doença caem, ou seja, estar com a vacinação recente, com a sua dose de reforço, é o melhor preditor das formas graves da doença, hospitalização e necessidade de terapia intensiva. As vacinas bivalentes parecem ser uma necessidade para as próximas doses de reforço e o Brasil está no caminho para isso”, concluiu.

Hesitação Vacinal

Por fim, o intensivista pediátrico e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações Juarez Cunha palestrou sobre “Hesitação Vacinal: o desafio das outras coberturas vacinais”. Ele relembrou que as vacinas são consideradas as maiores conquistas no campo da saúde pública, sendo responsáveis por proporcionar a prevenção de doenças e a promoção de saúde, tanto para o indivíduo quanto para a coletividade – evitando aproximadamente três milhões de mortes no mundo anualmente. Em relação aos brasileiros, destacou que os imunizantes contribuíram para o aumento de cerca de 30 anos na expectativa de vida.

No entanto, apesar das metas de imunização propostas pelo Ministério da Saúde para vacinas da infância, desde 2015 as coberturas estão abaixo do esperado, de modo que a pandemia de Covid-19 contribuiu para acentuar este cenário, o que faz com que haja o ressurgimento de doenças uma vez eliminadas – como é o caso do sarampo, para o qual o Brasil recebeu o título de eliminação em 2016, mas que desde 2018 viu o seu retorno.

“A Organização Mundial da Saúde coloca a hesitação vacinal como uma das dez ameaças à saúde global. A disseminação da desinformação e das fake news contribuem para isso. Nós, profissionais da Saúde, temos que ser exemplo e recomendar a vacina, porque a adesão vai ser muito maior. Se um médico contraindica a imunização, é óbvio que o paciente que confia nele vai acreditar que não é benéfica”, relembrou.

De acordo com o especialista, a OMS também dá algumas dicas sobre como lidar com pessoas que se recusam a vacinar, como entender suas motivações; oferecer informações sensatas; e empoderar os pacientes com ferramentas que os auxiliem a pensar e a se decidir pela mudança.

“O valor das vacinas é inquestionável, e a principal estratégia que temos em promoção individual e coletiva de saúde. A imunização estabiliza o sistema de Saúde e promove igualdade, beneficiando economias locais e nacionais. Sabemos as causas das baixas coberturas vacinais, os seus determinantes, as suas consequências e o que precisa ser feito. O desafio é colocar tudo isso em prática. Por isso, cabe a nós, profissionais da Saúde, com conhecimento e adequada comunicação, oferecer informações e orientações corretas para ajudar a reverter esse quadro”, finalizou.

O presidente da APM encerrou o encontro salientando a necessidade de se continuar discutindo sobre o tema. “A desinformação é atônita em toda história das pandemias da humanidade e eu fico me perguntando, será que aprendemos com esta? Quando imaginamos fazer esses dois módulos sobre vacinação, já havíamos considerado que ainda assim seriam muito pouco. Precisamos logo ter novos módulos.”

Reveja o primeiro módulo do webinar sobre vacinas abaixo.

Imagens: Reprodução webinar