É sabido que a síndrome de burnout resulta de um estresse crônico no local de trabalho que não foi administrado com sucesso, como define a Organização Mundial da Saúde.
Mas como medir esse dano à saúde mental? Quais atividades mais impactam nesse resultado? Questões aparentemente subjetivas encontram respostas nos dados, por meio de estudos e análises que apontam fatores e limites da jornada laboral a fim de prevenir o adoecimento da mente.
A startup Fhinck, por exemplo, que desenvolveu um software com foco em gestão do trabalho, notou que poderia extrair informações valiosas sobre excessos que comprometem a saúde dos profissionais.
O recurso foi desenvolvido para rotinas de escritório, e coleta dados da interação das pessoas com o computador.
O CEO e cofundador da empresa, Paulo Castello, explica que, com base em estudos científicos sobre saúde mental no trabalho, a empresa busca traduzir fatores de risco em números.
“Na questão do burnout, desenvolvemos um algoritmo para identificar variáveis que os estudos apontam.” Ele exemplifica: “Uma das últimas etapas de uma pessoa entrando em burnout é ficar isolada, ela se comunica menos.
Quando a gente faz análise de rede de pessoas que se conectam no dia a dia, o algoritmo identifica se a pessoa fica isolada dos demais”. O executivo ressalta que essa informação só acende o alerta de potencial burnout quando se repete ao longo do tempo e é associada a outras variáveis. Sozinha, ela não representa muito.
Outras questões analisadas pela inteligência artificial são: jornada semanal superior a 60 horas, atividade digital acima de 85% da jornada semanal, tempo gasto com comunicação escrita maior que 20% e reuniões representando mais de 20% da jornada. Esses números limites também são estabelecidos com base em estudos, como mostra um artigo da Harvard Business Review.
“Os dados criam uma pontuação que não significa que a pessoa está em burnout, mas separa entre ‘isso é normal’ e ‘isso é anormal’. Quanto mais pontos vai ganhando, maior a tendência de entrar em burnout”, observa Castello. Ele explica que os pontos só começam a ser contabilizados quando há um desvio do padrão estabelecido, que pode mudar ao longo do tempo conforme novos estudos são divulgados.
Nessa evolução, o software da Fhinck também foi atualizado durante a pandemia. “Antes, o software ficava instalado na máquina do colaborador e, embora ele soubesse, não precisava ter interação. Durante a pandemia, transformamos o software em assistente virtual, que agora conversa com o colaborador”, explica.
Conforme a inteligência artificial entende os padrões da jornada do trabalhador, consegue enviar mensagens de alerta, como sugerir pausa ou uma conversa com o gestor, caso identifique que a pessoa está há dois dias fazendo hora extra ou sem intervalo para almoço.
REUNIÕES
De forma intensa, todas essas atividades provocam um acúmulo de estresse no cérebro, que pode levar a um esgotamento progressivo se não for gerenciado. Pesquisadores do Laboratório de Fatores Humanos da Microsoft já demonstraram que reuniões em sequência podem diminuir a capacidade de se concentrar e se engajar com o trabalho.
Levantamento feito pela Fhinck entre junho de 2020 e maio de 2022, com base em dados de mais de 8 mil trabalhadores, mostrou acréscimo de 6,7% no tempo médio da jornada de trabalho semanal durante a pandemia. E desde fevereiro a jornada ainda se mantém 3,9% maior do que a média registrada em 2019.
“Se você sai de uma reunião para outra sem pausa, essa atividade digital mostra a intensidade que a pessoa está no computador”, diz Paulo Castello.
Fonte: O Estado de S.Paulo