Cientistas brasileiros desvendam perda de memória da Covid-19

Proteína do vírus é capaz de cruzar barreira do cérebro e causar inflamação

O que diz a mídia

O pior da pandemia de Covid19 passou, mas o coronavírus deixou um rastro de milhões de pessoas acometidas por problemas de memória. Estima-se que cerca da metade dos que tiveram a doença sofrem falhas cognitivas por dias, meses e até anos. Agora, um estudo realizado por cientistas brasileiros revela que danos no cérebro associados esse sintoma podem ser provocados pela proteína spike do vírus.

A pesquisa abre caminho para desenvolver formas de evitar os efeitos de longo prazo da Covid-19. A spike é essencial para o Sars-CoV-2 penetrar nas células humanas e é alvo da maioria das vacinas.

Assinado por 25 cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), o estudo foi apoiado pela Faperj e publicado na revista Cell Reports.

Primeiro, os pesquisadores demonstraram em testes com modelos animais que a spike é capaz de desencadear uma inflamação com efeitos de longo prazo. Ela deflagra uma espécie de curto-circuito na comunicação de células nervosas associadas à formação da memória. A intensidade e a duração dos sintomas estão associadas a variações genéticas, também identificadas pelos cientistas.

O novo estudo mostrou que a spike cruza a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro de vírus e bactérias. Lá, provoca uma verdadeira bagunça, cujo resultado é a perda de memória.

A coordenadora do estudo, Cláudia Figueiredo, do Departamento de Farmácia da UFRJ, diz que essa reação em cadeia explica a permanência dos danos provocados pela spike e o fato de a perda de memória se manifestar depois da fase aguda da Covid.

Quando o Sars-CoV-2 infecta alguém, as células desse indivíduo liberam a spike ou fragmentos dela. Essas proteínas podem chegar a diferentes partes do corpo, inclusive o cérebro. Uma vez no cérebro, a spike é detectada e substâncias chamadas alarminas dão o sinal de que a intrusa deve ser combatida.

Porém, nem sempre o corpo encontra o ponto certo de reação. Em algumas pessoas, a inflamação é um processo benigno. Em outras, ela inunda o corpo de compostos bioquímicos e devasta funções normais.

Em algumas pessoas, essa reação acaba por induzir a perda de sinapses, a região pela qual os neurônios se comunicam. Quando isso ocorre no hipocampo, acontecem falhas, que não são imediatas à infecção aguda.

Fonte: O Globo/Ana Lucia Azevedo.