País tem de aumentar cobertura das vacinas do calendário infantil

A confirmação de um caso de poliomielite num menino de 4 anos em Israel, onde há 30 anos não havia registro da doença, soou os alarmes nos sistemas de saúde do mundo todo. Segundo autoridades israelenses, ele não estava vacinado.

O que diz a mídia

A confirmação de um caso de poliomielite num menino de 4 anos em Israel, onde há 30 anos não havia registro da doença, soou os alarmes nos sistemas de saúde do mundo todo. Segundo autoridades israelenses, ele não estava vacinado.

A origem do vírus ainda está em investigação. A pólio permanece como doença endêmica apenas na Nigéria, no Paquistão e no Afeganistão. Recentemente foi reportado um surto no Malaui, provocado por uma cepa paquistanesa.

No Brasil, o último caso da doença foi registrado em 1989. O país recebeu o certificado da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) atestando estar livre da doença em 1994. Foi espetacular o esforço brasileiro que levou à erradicação da pólio, simbolizado no popular Zé Gotinha. Nossas campanhas de vacinação se tornaram referência mundial. Atendendo a uma sugestão do próprio Albert Sabin, que desenvolveu a vacina contra a pólio, o Brasil foi o primeiro país a criar um Dia Nacional de Vacinação. Sabin esteve várias vezes por aqui e contribuiu enormemente para a erradicação da doença.

Nos últimos anos, contudo, essa trajetória bem-sucedida mudou. Os índices de vacinação despencaram e hoje não inspiram confiança. Em 2015, a cobertura contra a pólio era de 98%. Em 2020, já durante a pandemia de Covid-19, caiu para 76%. No ano passado, foi para 68%. Considerando o ciclo completo, com reforços, era de apenas 52,5%. Desdobrados em regiões, os indicadores são ainda mais dramáticos. No Norte e no Nordeste estão, respectivamente, em 42% e 44%.

Índices frustrantes não se restringem à pólio. Estão em queda para doenças que só foram controladas com a vacinação em massa. A pandemia contribuiu, mas não é o único fator. A queda já vinha ocorrendo antes. Entre as causas estão as campanhas de desinformação, problemas de acesso aos postos, horário restrito, ausência de publicidade e a situação conhecida como “hesitação vacinal” (vacinas estão disponíveis, mas há a falsa sensação de segurança pela quase erradicação da doença).

O sarampo, altamente contagioso, é o caso exemplar. Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de erradicação conferido pela Opas. Mas o descuido com a vacinação fez com que o mal retornasse. Apenas dois anos depois, um surto em estados do Norte voltou a provocar mortes, situação inadmissível, já que não faltam vacinas. Não demorou para que o surto, importado da Venezuela, se espalhasse por outras regiões. Hoje o sarampo se tornou novamente uma preocupação de saúde pública.

É fundamental ampliar a cobertura vacinal no país. A pandemia não serve mais de desculpa, pois está em queda em praticamente todos os estados. Com o avanço da vacinação — quase 75% dos brasileiros estão com o esquema completo —, o movimento nos postos caiu drasticamente. Podem-se aproveitar a estrutura montada (e bem-sucedida) no combate à Covid-19 e a mobilização notável da sociedade para alavancar a vacinação contra outras doenças. Para isso, o Ministério da Saúde precisa se mexer.

Fonte: O Globo