Três anos da Covid-19

Há três anos a OMS declarava a epidemia do novo coronavírus, já então denominado Sars-CoV-2, em status epidemiológico de pandemia, isto é, tendo-se disseminado por todos os continentes, em rapidez extraordinária

O que diz a mídia

Há três anos a OMS declarava a epidemia do novo coronavírus, já então denominado Sars-CoV-2, em status epidemiológico de pandemia, isto é, tendo-se disseminado por todos os continentes, em rapidez extraordinária. Nossa memória era apenas a da última pandemia, a da Gripe Espanhola, de há pouco mais de cem anos e que também durara três anos. Choque, angústia, medo do novo desconhecido se descortinavam nos instando a viver uma experiência longe de ser uma aventura, mas desde pronto algo forte, modifica- dor da vida, a ceifar vidas ainda cheias de expectativas e promessas.

No Brasil, o então ministro Mandetta reunira instituições e médicos, reconhecendo a emergência sanitária e o desafio que se nos afigurava, com o objetivo de preparar a rede do SUS e incentivar as chamadas boas práticas frente ao desafio. Durou pouco. Logo nos defrontávamos em nossas rotinas com a permanente necessidade de respostas rápidas, aprendizado compulsório, participação em estudos, e prestação de serviço de comunicação clara à população através dos órgãos de imprensa falada e escrita. Felizmente contamos com a produção de dados constantemente gerados pelo consórcio de veículos de imprensa, a substituir o que o Ministério da Saúde de então não fizera

Contar números e descrever estatísticas no país, com mais de 37 milhões de casos, 699.310 mortes, das quais sabemos pelo menos um terço evitável, parece frio diante da maior tragédia sanitária de que este século viveu, com suas consequências sociais e econômicas. Em nosso caso, como em muitas outras regiões do planeta, a exasperar a obscena exclusão social que marca nosso tempo. Podemos afirmar que, se clinicamente a Covid longa e suas sequelas configuram hoje um dos mais desafiadores problemas a enfrentar, o empobrecimento e carência de acesso a serviços básicos são a face do real concreto, sem solução fácil.

O melhor e o pior do ser humano se revelaram ao longo daqueles primeiros meses, que nos pareciam intermináveis, a corromper rotinas e nosso convívio, quer com famílias, quer com colegas de trabalho e amigos. Idosos confinados em sua solidão, mulheres em casas com crianças fora da escola e sujeitas à violência doméstica, profissionais da saúde trabalhando em condições muitas vezes inadequadas frente ao risco, centenas de pesquisadores em busca de testes e plataformas de vacinas e sobretudo, no Brasil, a tensão, permanente, entre a nociva retórica governamental, em sua perversa peroração de defesa de práticas sem sustentação científica ou negação do óbvio, compuseram o cenário até que iniciássemos a vacinação.

Melhor é sem dúvida citar os números de vacinados, com 510 milhões de doses aplicadas até há dois dias, a autonomia do país na produção de vacinas, os estudos clínicos de excelente qualidade aqui conduzidos e publicados, os projetos em comunidades, a participação inédita da iniciativa privada, e o fortalecimento das cooperações interinstitucionais.

A ciência nasce e se produz com base na observação de fatos, registra descobertas graças ao método, ou ao que hoje se chamaria uma boa metodologia, e faz destas o material, refutável ou não, de todo o conhecimento. Vivido um século XX com a pletora de tragédias e guerras, quando experimentos extraordinários e outros inenarráveis foram postos em execução, a ciência e o progresso necessariamente perderam a soberba. Permanecem recursos que se sabem indispensáveis, porém sujeitos a protocolos éticos e socialmente justificáveis.

Sim, estamos perto de terminar a emergência da Covid-19, embora ainda ocorram cerca de 40 mil mortes pela doença no mundo a cada semana, em especial entre pessoas mais velhas e, portadoras de comorbidades. Mais do que nunca a cobertura vacinai, com a dose de reforço bivalente, é estratégica para reduzir esses casos mais graves e consequentemente interferir na transmissão a posteriori.
Sabedores de que enfrentaremos novas epidemias, e possivelmente pandemias, de que mais de 50% delas terão origem zoonótica, e ainda, originadas de vírus já conhecidos, países têm que se preparar em recursos humanos qualificados e em logística para a contingência.

Fonte: O Globo/Margareth Dalcolmo