Efeito dominó: Confira artigo do presidente de Rio Preto

Entre os 52 países mais afetados por fake news sobre vacinas e Covid-19, o Brasil ocupa o terceiro lugar

Regionais

A veiculação e o compartilhamento de informações falsas na área da Saúde trazem consequências sérias à saúde individual e à coletiva. Grande parte da população as assimila como verdades ou acredita se tratar de fontes seguras de notícias e, por serem enviadas por pessoas próximas, a qualidade da informação passa despercebida.

Estudo realizado na Austrália por epidemiologistas e especialistas em infodemia mapeou o impacto de notícias falsas na sociedade. Num ranking dos 52 países mais afetados por fake news sobre vacinas e Covid-19, o Brasil ocupa o terceiro lugar, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.

A divulgação de notícias, por exemplo, que questiona a segurança das vacinas sem o devido embasamento preocupa. A cobertura vacinal atual contra o sarampo e a poliomielite, doenças que eram consideradas erradicadas no Brasil, está abaixo da meta estabelecida pela OMS, que é de 95% das crianças até os cinco anos de idade.

Segundo o Ministério da Saúde, as fake news vêm contribuindo para diminuir a cobertura vacinal, mesmo que outros motivos também corroborem essa situação. A elas é atribuída a principal causa da queda de 70% a 75% no alcance das ações de imunização. Outra informação do Ministério da Saúde divulgada em 2018 assegura que os aplicativos e trocas de mensagens em redes sociais levaram a população a deixar de se proteger contra a febre amarela, gripe e sarampo.

As consequências são inúmeras: prejudicar a saúde da população, interromper terapia medicamentosa, promover supostas medidas curativas e causar efeitos adversos. Muitos brasileiros têm acreditado nessas mensagens e, às vezes, mesmo em dúvida quanto à veracidade dos conteúdos, retransmitem para seus contatos, que adotam a mesma prática e contribuem para que a desinformação atinja grande parte da população.

Além da irresponsabilidade de se utilizar da fragilidade, do medo, do pânico e da dor da população para difundir informações falsas, os autores de fake news prejudicam a saúde coletiva quando há adesão da população às “receitas milagrosas”. Muitas mortes por Covid-19 no Brasil foram decorrentes da crença em tratamentos ineficazes e não comprovados cientificamente, do menosprezo da letalidade do vírus e/ou da negação à vacina.

Devemos combater rigorosamente as fake news, sem confundi-las com a liberdade de expressão. A Constituição prevê, ao lado desta, inúmeros outros direitos, que devem ser exercidos em harmonia, assegurando o maior espaço de liberdade possível aos cidadãos. Quando tais direitos colidem, é preciso reduzir o âmbito de existência de cada um, de forma racional e ponderada, para preservar o exercício de ambos.

É o que ocorre, por exemplo, quando a expressão do pensamento afeta a honra, a intimidade ou a vida privada de terceiros, direitos também protegidos pela Constituição Federal. Aquele que difama, calunia ou injuria outros pode ser responsabilizado civil ou criminalmente pelas consequências de seus atos, embora nem nessas hipóteses seja admitida censura prévia. A liberdade não é um salvo-conduto para a agressão e para a violação da dignidade alheia.

A Associação Paulista de Medicina – São José do Rio Preto acredita que a disseminação e a crença em notícias falsas só podem ser resolvidas com um conjunto de mecanismos que vão desde recursos técnicos até o investimento em educação e destreza digital. Cabe a nós, como cidadãos, cobrar das nossas autoridades tais investimentos e sempre ter discernimento e cuidado na propagação de quaisquer notícias.

Leandro Freitas Colturato, presidente da APM São José do Rio Preto
Publicado no jornal Diário da Região