‘Antonia, Uma Sinfonia’ é filme discutido no Cine Debate de outubro

Coordenada pelo psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Júnior, foi realizada mais uma edição do Cine Debate on-line, na noite da última sexta-feira, 1 de outubro. O filme escolhido foi “Antonia, Uma Sinfonia”, trazendo a discussão sobre a diferença entre “por causa de” e “apesar de”.

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Coordenada pelo psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Júnior, foi realizada mais uma edição do Cine Debate on-line, na noite da última sexta-feira, 1 de outubro. O filme escolhido foi “Antonia, Uma Sinfonia”, trazendo a discussão sobre a diferença entre “por causa de” e “apesar de”.

A trama conta a história da migrante Antonia Brico (Christanne de Bruijn) vivendo em Nova Iorque em 1930, que se tornou a primeira mulher a conduzir, com sucesso, uma orquestra. Ela ousou seguir o sonho de se tornar uma maestrina, embora ninguém acreditasse ser possível. 

Miriam Tawil, psicóloga e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise, foi a primeira palestrante: “Eu assisti ao filme várias vezes. Na primeira, me deixei levar pelo drama e a história de luta e obstáculos vivida pela protagonista. Nas outras vezes, comecei a ver mais detalhes e me interessar sobre o porquê a diretora quis fazer este filme, e descobri que foi uma forma de homenagem e por se identificar com a personagem em relação ao machismo no mundo de trabalho”.

A especialista ressaltou que o machismo é um aspecto muito importante e abordado no filme. Naquele tempo, a mulher era proibida de realizar inúmeras coisas e, hoje, as coisas não são muito diferentes. “Em alguns lugares do mundo, as mulheres ainda são proibidas de dirigir e usar certos tipos de roupas, mas, de forma geral, o filme aborda uma bela sinfonia de temas como adoção, assédio sexual e machismo.”

“A adoção também é um tema importante apresentado no filme. Antonia vai para a Holanda procurar e descobrir suas origens, e lá fica sabendo que a mãe biológica sempre teve saudades e que, na verdade, tinha a entregado para adoção por um tempo. História muito diferente da contada pela mãe adotiva, que em vez de devolvê-la, fugiu com a criança para a Califórnia, deixando a mãe biológica sem mais notícias”, explicou.

Outro ponto interessante apresentado por Miriam é a questão da sexualidade. “Robert, amigo de Antonia, usava espartilho para esconder seu corpo feminino, até que um dia, quando os homens já não se submetiam à maestra, ela resolve montar uma orquestra de mulheres. Neste momento, Robert tira o espartilho e vai vestido de mulher, explicando que precisava se vestir como homem apenas para ser respeitado na música.”

“As Antonias, somos todas nós mulheres. Temos essa repercussão em nosso passado, revi minha história inteira durante o filme, também vim de uma geração criada para casar e ter filhos. Acredito que as mulheres podem aprender e reviver histórias assistindo a este filme”, concluiu a palestrante.

Machismo e misoginia

Dando continuidade às apresentações, o médico Arthur Kaufman, mestre e doutor pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP, foi o segundo convidado a expor suas impressões da obra. “O filme conta basicamente a viagem de uma pessoa atrás de suas origens e verdadeira identidade. Notamos que, consequentemente, ela percebe que não pertence àquele lugar, algo frequente em pessoas que são adotadas.”

“O título original do filme é ‘A dirigente’, o que condiz com a história. Ela precisava dirigir, além da orquestra, sua própria vida, para contrariar o destino triste ao qual estava fadada. Para escapar disso, precisa ir até a Holanda, descobrir se sua mãe biológica a rejeitou e só a partir dessas confirmações, sua vida e carreira iriam deslanchar”, completou.

Além das vertentes apresentadas por Miriam, o palestrante também abordou aspectos relacionados à pobreza e misoginia. “Hoje, as maestrinas estão totalmente ausentes dos tops 20 dos regentes mais famosos. Mas, Antonia não foi a primeira maestrina, há registos de Chiquinha Gonzaga com a opereta ‘A corte na roça’ em 1885, no Rio de Janeiro, confundindo até mesmo a imprensa. Naquela época, não existia o feminino da palavra maestro, então não sabiam como chamá-la.”

“Se tratando do machismo, não precisamos ir tão longe para provar que ele ainda existe. Hoje, no Brasil, uma mulher que tem o mesmo cargo de um homem em determinada empresa, ganha muito menos. Há alguns meses, foi noticiado que postos de saúde estavam exigindo consentimento do marido para a inserção do DIU em mulheres casadas. Esse é um exemplo das inúmeras formas de violência contra a mulher, é uma pandemia silenciosa e muitas vezes tolerada”, complementou.

Finalizando, o palestrante destacou os pontos positivos e atuais presentes no longa. “O filme vale a pena ser assistido pois traz visibilidade à carreira de Antonia, mostra o preconceito contra as mulheres desde aquela época e, por fim, o problema da carência de maestrinas nas principais orquestras do mundo.”

Debate

Após as apresentações iniciais dos convidados, houve o debate entre os especialistas, espectadores do evento e o coordenador do Cine Debate, Wimer Bottura. “O filme apresenta a situação de uma mulher que já passou por muitas adversidades, das quais a maioria das pessoas teria desistido de seguir seu próprio desejo. Mas, ela resistiu e conseguiu se tornar uma maestrina. Retrata ainda uma mulher determinada, rompendo com diversos estereótipos e o machismo das pessoas”, complementou Bottura.

“Outro aspecto importante que não levantamos foi a sorte da protagonista, apesar de tudo que sofreu, foi levada à alta sociedade, conheceu pessoas importantes, foi convidada a concertos com grandes investidores presentes. A felicidade é você encontrar sua sorte, no caso da protagonista, de conhecer as pessoas certas, que a ajudaram a chegar aonde chegou”, declarou Miriam.

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