Áreas indígenas: Ministério da Saúde aponta as principais enfermidades

O boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde traz, em edição especial de abril, um levantamento da situação epidemiológica das zoonoses e doenças de transmissão vetorial em áreas indígenas.

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O boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde traz, em edição especial de abril, um levantamento da situação epidemiológica das zoonoses e doenças de transmissão vetorial em áreas indígenas.

No documento, são apresentados os aspectos clínicos, epidemiológicos e vigilância de tracoma, oncocercose, leishmaniose visceral, leishmaniose tegumentar, malária, acidentes por animais peçonhentos, hantavirose e tungíase.

Confira a síntese das informações:

Tracoma

Dados registrados no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (Siasi) apontam que o tracoma, doença ocular inflamatória que causa cegueira evitável, acometeu 4.186 indivíduos, entre o período de 2010 e 2020.

De acordo com a padronização da Organização Mundial da Saúde, o tracoma apresenta cinco formas clínicas, em um esquema de gradação, sendo duas formas ativas – inflamação racomatosa folicular (TF), inflamação tracomatosa intensa (TI) – e três formas sequelares: cicatrização tracomatosa (TS), triquíase tracomatosa (TT) e opacidade corneal (CO).

As áreas indígenas com maior prevalência de casos estão no Alto Rio Negro/Amazonas e em comunidades de fronteiras com a Colômbia e Venezuela, nas diferentes formas clínicas.

A partir da confirmação da prevalência de tracoma nas comunidades indígenas do Alto Rio Negro, o Ministério da Saúde informa que as principais intervenções realizadas foram a busca ativa de casos e o uso de antibióticos para o tratamento individual/familiar e coletivo.

“Foram realizadas atividades de educação em saúde para estimular a lavagem facial e corporal de crianças, evitando uma maior disseminação da bactéria no ambiente”, acrescenta. Triagens e cirurgias também são realizadas nas comunidades indígenas.

Oncocercose

Popularmente conhecida como “cegueira dos rios”, é uma doença parasitária crônica transmitida por repetidas picadas de mosquitos pretos infectados pelo verme nematódeo Onchocerca volvulus, que se instala no tecido subcutâneo causando algumas lesões, inclusive oculares.

Durante a última avaliação epidemiológica em profundidade realizada em 2016, o percentual de casos detectados foi de 3,5% (27/777) no polo base Xitei, 1,3% (6/467) no Toototobi e 0,0% (0/66) em Balawaú.

O Ministério da Saúde informa que, atualmente, a oncocercose está em fase de pré-eliminação. De 2000 a 2018, não houve registros de casos sintomáticos no Brasil, “apenas uma proporção de portadores assintomáticos de microfilárias na pele, com baixas densidades da parasitemia detectada nas áreas-sentinelas (média de 20% em 2003, 15% em 2007, 4% em 2012 e de 2,5% em 2016).”

Os dados referem-se às áreas de maior risco, correspondendo em sua maior parte a zonas hiperendêmicas no alto da Serra do Parima, em Roraima, na fronteira com a Venezuela.

Leishmaniose visceral

De acordo com os dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), no período de 2015 a 2019, foram confirmados 225 (1,4%) casos novos de leishmaniose visceral (LV) em indígenas brasileiros.

A autoctonia da doença, causada por um protozoário da espécie Leishmani chagasi, foi confirmada em 13 estados brasileiros das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.

“Do total de casos confirmados, 44,4% (100/225) foram registrados no estado do Maranhão, seguido de Roraima e Minas Gerais, com 13,8% (31/225) e 11,1% (25/225) dos casos confirmados, respectivamente”, destaca o boletim.

É conhecida também como calazar, esplenomegalia tropical e febre dundun. Afeta os órgãos internos, geralmente baço, fígado e medula óssea.

Leishmaniose tegumentar

Também entre 2015 e 2019, foram confirmados 3.092 casos, o que representa 3,8% do total de notificações no País no mesmo período (81.529). A autoctonia da doença em indígenas foi confirmada em 21 estados, das cinco regiões brasileiras.

Do total de casos confirmados, 30,4% (941/3.092) foram registrados no estado de Mato Grosso, seguido de Amazonas e Pará, com 13,8% (427/3.092) e 10,5% (324/3.092) dos casos confirmados, respectivamente.

A doença infecciosa, não contagiosa, é causada por protozoários do gênero Leishmania eprovoca úlceras na pele e mucosas. É contraída através da picada de um inseto, que se contamina pela Leishmania após picar pessoas ou animais portadores da doença.

Malária

“No período de 2012 a 2021, foram registrados 315.912 casos de malária, com transmissão em áreas indígenas da região amazônica brasileira, com média de 31.591 casos anuais. O menor número de casos registrados foi em 2014 (20.615) e o maior no ano de 2020 (46.795)”, informa o boletim epidemiológico.

Os sucessivos aumentos de casos ocorreram de 2017 a 2020, com 29%, 15,9% e 19,5%, respectivamente, em relação aos anos anteriores. O estado do Amazonas apresentou a maior quantidade de casos autóctones em áreas indígenas, com notificações acima de 20 mil e quase 22 mil em 2021. E Rondônia e Acre apresentaram aumento de 58,2% e 23,5% no número de casos entre os anos de 2020 e 2021.

A malária é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada pelo Plasmodium. A gravidade varia de acordo com a espécie do microrganismo. Calafrios, febre alta (no início contínua e depois com frequência de três em três dias), dores de cabeça e musculares, taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos), aumento do baço e, por vezes, delírios, são os principais sintomas.

Acidentes por animais peçonhentos

Foram notificados 1.386.189 acidentes por animais peçonhentos no período de 2015 a 2020. Destes, 1.789 evoluíram para óbito. Com relação à população que se autodeclarou indígena, foram registrados 13.190 acidentes e 82 mortes, o que representa 0,95% do total das notificações e 4,6% do total de óbitos.

Durante o ano de 2020, “a região do corpo mais acometida nos acidentes ofídicos foram os pés (67,0% nos acidentes botrópicos, 67,0% nos acidentes crotálicos, 100,0% nos acidentes elapídicos e 57,0% nos acidentes laquéticos). Mordeduras nas pernas também foram bastante recorrentes (18,0% dos acidentes botrópicos, 14,0% nos acidentes crotálicos e 23,0% nos acidentes laquéticos)”, aponta o relatório.

Os acidentes ocasionados por serpentes representaram 80% do total das notificações por animais peçonhentos no Siasi. E a região Norte se sobressaiu, com aproximadamente 87,8% dos registros, seguida do Centro-Oeste, com 8,5%.

São acidentes por animais peçonhentos, de acordo com o Ministério da Saúde, acidentes por abelhas, escorpiões, lagartas, ofídicos (mordedura de serpentes), águas-vivas e caravelas.

Hantavirose

“A hantavirose é uma doença febril aguda que resulta da inalação de aerossóis formados a partir de fezes, saliva e urina de roedores infectados por espécies patogênicas de Hantavirus”, define o Ministério da Saúde.

No período de 2007 a 2019, foram notificados 17.193 casos suspeitos da doença. Destes, 7,4% (1277/17.193) foram confirmados, apresentando uma letalidade de 40% (511/1277).

Tungíase

Conhecida popularmente como bicho-de-pé, é uma doença parasitária negligenciada, causada por um tipo de pulga denominado Tunga penetrans. “Consiste na penetração de pulgas fêmeas (Tunga penetrans) na pele dos indivíduos, a fim de alimentarem-se de sangue”, explica o Ministério da Saúde.

A infecção geralmente ocorre em zonas remotas ou pobres, como comunidades indígenas, rurais e periurbanas das grandes cidades. De acordo com estudos, em uma vila isolada de pescadores no Nordeste, a infestação da doença em humanos se correlacionou com a intensidade de infestação em animais.

Até o mês de novembro de 2021, no polo base de Auris (localizado no extremo noroeste do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela), foram registradas 97 ocorrências de bicho-de-pé.

São importantes hospedeiros da tungíase os cães, gatos, porcos e roedores.