Congresso: live do CPSono2022 aborda “O que há de novo na Medicina do Sono”

Como forma de aquecimento e preparação para o XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono – que será realizado nos próximos dias 27 e 28 de maio – a Associação Paulista de Medicina exibiu na última sexta-feira (20) a live CPSono2022, focada no tema “O que há de novo na Medicina do Sono”

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Como forma de aquecimento e preparação para o XIX Congresso Paulista de Medicina do Sono – que será realizado nos próximos dias 27 e 28 de maio – a Associação Paulista de Medicina exibiu na última sexta-feira (20) a live CPSono2022, focada no tema “O que há de novo na Medicina do Sono”.

A apresentação ficou com Andrea Toscanini, presidente do Congresso, e Alexandre P. de Azevedo, psiquiatra, que receberam como convidado George do Lago Pinheiro, médico do sono e otorrinolaringologista. Eles falaram sobre alguns dos principais tópicos que serão apresentados durante o evento e pontuaram que o formato de arena em que o Congresso ocorrerá permite o envolvimento de todos os participantes, quebrando a rotina de formalidade.

A especialista explica que a conferência foi pensada especialmente no intuito de discutir temas, esclarecer dúvidas e trazer para o dia a dia as mais recentes atualizações a respeito da Medicina do Sono. Nesse sentido, ela ressalta que foram convidados palestrantes muito experientes e que vivenciam diariamente em seus consultórios os assuntos abordados.

“No primeiro dia, discutiremos sobre os sintomas gerais da Medicina do Sono e que tipo de raciocínio devemos fazer a respeito dessa prática, que nos levará a um diagnóstico de precisão. No segundo dia, sobre os grandes diagnósticos e como conduzi-los”, mencionou o apresentador da live.

Os profissionais destacaram que a prevalência de pacientes com distúrbios de sono costuma ser muito alta, de modo que afeta pessoas que ainda nem sequer possuem um diagnóstico. Além disso, também foi destacado que o período de pandemia foi fundamental para trazer novos aspectos em relação à área, fazendo com que ela se ampliasse, acentuando os problemas da população em relação ao sono.

Alguns médicos que não tinham familiaridade com o tema passaram a ter que enfrentá-lo por conta do isolamento social, questões emocionais e do ponto de vista biológico – visto que o coronavírus pode ter sido o responsável por alterações neurofisiológicas em infectados.

“Uma grande novidade, digna de reconhecimento, é que a Organização Mundial da Saúde, na sua classificação internacional de doenças, publicada em 2018 e passando a valer internacionalmente agora em 11 de fevereiro de 2022, reservou um capítulo específico para os distúrbios do sono. Até então, eles estavam inseridos como subcapítulos dentro da Neurologia e da Psiquiatria. Isso representa um grande avanço na Medicina do Sono porque nos ajuda a entender que os distúrbios podem ser reconhecidos por si só, independente de outras condições associadas”, descreve o especialista.

Pré-disposição à insônia e Medicina de precisão

Ainda nesse contexto das doenças relacionadas ao sono e as principais novidades, outro tópico que ganhou relevância na live foi a insônia. A condição, que está presente na Medicina há muitos anos, sempre foi compreendida como um sintoma secundário. No entanto, desde 2005 passou a existir um consenso internacional que reconhece a insônia como comórbida ou não-comórbida – ou seja, acompanhada de outros problemas ou não. Sendo assim, estudos realizados nos últimos anos apontam que a insônia possui diversas características fenotípicas e distintas, devendo ser analisada de acordo com seus respectivos atributos.

Reforçando a importância de fornecer um diagnóstico de qualidade aos pacientes, Andrea Toscanini destacou a relevância do tratamento direto e imediato. “Um tema que está sendo mundialmente abordado é a Medicina de precisão. Dentro disso, temos que compreender os padrões, o pré, o pós, quais são os fatores que estão ali mediando aquela condição e aquelas comorbidades, porque tudo isso muda de pessoa para pessoa. A compreensão dos hábitos, comportamentos, comorbidades e ambientes em que o paciente está inserido é extremamente importante”.

Buscando avaliar os padrões relacionados ao sono e a forma como cada paciente se comporta diante de eventuais distúrbios, existe um exame chamado “actigrafia”. A apuração se diferencia das já existentes pois nela é realizada uma avaliação de determinado momento e de uma condição específica, visto que muitas vezes não é possível identificar eventuais problemas, pois não há a análise de um padrão.

“Se vou analisar uma parassonia, que é um evento indesejado que acontece durante o sono, e no dia do exame o paciente não tem o episódio, os profissionais podem ficar um pouco perdidos. Então, a actigrafia – que apesar de ser uma tática antiga, foi introduzida recentemente na Medicina do Sono com esse objetivo – permite analisar um padrão que pode ser usado no raciocínio clínico de diversas maneiras. Avaliar os padrões ajuda muito na construção dessa Medicina do Sono de Precisão, porque a gente vai conhecer o paciente por um tempo maior, já que se recomenda o uso da actigrafia de 18 a 21 dias”, explica a especialista.

Polissonografia e apneia do sono

A polissonografia, durante muito tempo, foi o principal exame indicado para analisar distúrbios relacionados ao sono. Todavia, com o passar do tempo e a modernização das técnicas, a utilização do procedimento foi se afunilando à ideia de diagnóstico preciso de apneia e outros distúrbios primários do sono.

“A gente precisa entender que a polissonografia é a fotografia de uma noite, não necessariamente um filme da vida do paciente. Então, precisamos vê-la dentro de um contexto clínico, em que a história desse paciente vai ser a protagonista do processo diagnóstico. A polissonografia, como qualquer outro exame, entra nessa questão complementar. Ela acaba sendo indicada para tudo, mas será que ela responde tudo?”, indagou George Pinheiro.

De acordo com o convidado da live, apesar de a polissonografia ser utilizada para a análise de diferentes motivos, ela tem sido indicada para questões cada vez mais pontuais. Também é válido relembrar que, atualmente, há cerca de 49 milhões de pessoas que enfrentam apneia do sono no Brasil. Desta forma, apesar de a polissonografia ser um exame eficiente e completo, não alcança as regiões mais remotas do País, além de ter um custo muito alto. Por consequência disso, aumenta a motivação para os pesquisadores repensarem respostas para distúrbios que podem ser causados por motivos diversos para cada paciente.

Durante o bate-papo, os médicos também pontuaram a utilização de aplicativos de monitoramento do sono e métodos não oficiais, avaliando o papel que exercem no tratamento – demonstrando se devem ser considerados aliados ou vilões. “Utilizar isso como método exclusivo e suficiente para o diagnóstico pode ser equivocado e trazer uma série de falhas. O caminho certo, na realidade, é se perguntar ‘o que o seu paciente sente’ em vez de ‘o que aquele aplicativo está falando que o seu paciente tem?’”, destaca Pinheiro.

Para Andreia, uma outra forma de aproveitar a existência desses atuais recursos tecnológicos é utilizá-los a seu favor, analisando as informações, por exemplo, as frequências no ronco de cada paciente, e a partir daí tentar entender como funciona a dinâmica de seu sono.

Os palestrantes concluíram a discussão relembrando que o sono vai muito além de uma questão matemática, visto que não se deve calcular a quantidade, mas sim a sua qualidade. Além disso, relembraram que são vários os aspectos do sono que repercutem sobre a memória, atenção e concentração, influenciando diretamente a vida de um indivíduo.