Covid-19: Webinar APM debate estratégias da Ciência brasileira

Um dos setores mais promissores para ajudar a sociedade no enfrentamento da pandemia de Covid-19 é a Ciência

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Um dos setores mais promissores para ajudar a sociedade no enfrentamento da pandemia de Covid-19 é a Ciência. E para abordar as principais estratégias nesse sentido, no dia 31 de março, a Associação Paulista de Medicina promoveu um webinar com a participação do secretário de Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações (MCTI), Marcelo Marcos Morales.

“Temos a oportunidade de discutir os principais problemas nesta situação trágica de pandemia, hoje centro de todas as nossas atenções. No entanto, neste encontro, queremos trazer as soluções. Temos ao lado das imensas dificuldades que nos cercam os esforços fantásticos de grande número de pessoas que vêm se dedicando a nos oferecer uma saída adequada para essa situação”, introduziu o presidente da Associação Paulista de Medicina, José Luiz Gomes do Amaral.

Na ocasião, Morales expôs os trabalhos desenvolvidos pelo MCTI em decorrência dos primeiros casos do novo coronavírus na China, em dezembro de 2019, e de seu alastramento por países da Europa. “No dia 10 de fevereiro, reunimos especialistas notórios do País e eles nortearam todas as ações do Ministério para o enfrentamento da pandemia. A partir daquela reunião, foi criada a Rede Vírus.”

O comitê – formado por especialistas, representantes do Governo, agências de fomento do MCTI, centros de pesquisas e universidades – tem como proposta integrar iniciativas em combate a viroses urgentes e emergentes utilizando a Ciência. “Em março, com o projeto em mãos, apresentamos à Presidência da República e recebemos recursos na ordem de R$ 1,05 bilhão para o enfrentamento da pandemia”, informa o secretário.

Destes, R$ 452,8 milhões são destinados para pesquisas e desenvolvimentos e R$ 600 milhões para linhas de crédito (Financiadora de Estudos e Projetos – Finep). A contratação direta envolve projetos nas linhas prioritárias definidas pela Rede Vírus de sequenciamento em larga escala do vírus circulante no País, diagnósticos, vacinas, biobanco, impactos, ensaios clínicos, reposicionamento de fármacos e laboratórios de campanha.

“Entendemos que deveríamos produzir testes de diagnóstico rápidos, sorológicos, moleculares, utilizando outras ferramentas, como inteligência artificial para identificação do vírus e plataformas virais que já conhecíamos. Utilizamos medicamentos já existentes, que chamamos de reposicionamento de fármacos, e testagens para verificar se havia alguma influência na replicação viral ou então nas comorbidades dessa doença. Com o desenvolvimento de vacinas, fomentamos 15 estratégias e mais de 100 ensaios clínicos com a BCG, plasmas de pacientes convalescentes, heparina, corticoides e antivirais desenvolvidos em todo território nacional”, resume o palestrante.

No que tange aos aspectos sociais, os estudos contam com o apoio de pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas, que extraem os impactos sociais e econômicos da pandemia. “Agora, entramos na fase dos impactos pós-vacinação. Então, tudo está sendo monitorado pelas Ciências Humanas”, destaca o especialista, que também é médico e doutor em Ciências Biológicas (Biofísica).

A atual crise sanitária demonstrou a necessidade de o território nacional possuir infraestrutura adequada, em especial para laboratórios e biotérios com nível de biossegurança adequado. Assim, o País investiu em 14 instituições e 18 laboratórios e biotérios. “É um legado não só para esse enfrentamento, mas para o estudo de manipulação de vírus de alta complexidade das próximas doenças que tivermos.”

Resultados

As instituições atuam em conjunto no desenvolvimento de diagnósticos, tratamentos, vacinas e produção de conhecimento sobre o vírus, contando com pesquisadores especialistas de várias instituições renomadas como Fiocruz, Butantan, USP, Unicamp, UFMG, UFC, CNPEM/LNBio/MCTIC e UFRJ, entre outras.

Entre os ganhos, Marcelo Morales informa que hoje o Brasil exporta ventiladores de tecnologia nacional a outros países. Em relação aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Estado tem participado de todos os projetos selecionados, um destaque para a competência dos pesquisadores brasileiros.

Os investimentos em 15 plataformas de vacina envolvem estudos de imunizantes de ácido nucleicos, subunidades e patógeno inteiro. A ideia, segundo o secretário do MCTI, é que o Brasil tenha competência no futuro para a formulação de insumos farmacêuticos ativos e vacinas de produção nacional, com tecnologia para doenças negligenciadas, como dengue, chikungunya e zika.

“Desenvolvemos com o fomento do Ministério uma nova molécula inédita no mundo, atualmente em ensaios pré-clínicos em animais, mostrando uma potência enorme na exibição da replicação viral. Vamos dar entrada muito em breve na Anvisa e iniciar os testes clínicos. Em resumo, vem um antiviral genuinamente brasileiro com um potencial de ser utilizado para o tratamento dessa virose”, destaca o especialista.

Outros projetos adiantados são a vacina de spray nasal, com carreadores de nanocompostos, produzida com o Laboratório de Imunização do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP – em final de fase pré-clínica e em busca de parceiros na indústria; e a vacina bivalente para SARS-CoV-2, utilizando plataforma do vírus influenza e adenovírus INCT-Vacinas, com o apoio da UFMG, Fiocruz e USP.

A vacina VF-Covid, proteína quimérica múltiplo associada ao Versamune, que tem a capacidade de ativar o sistema imunológico (imunidade humoral, celular e inata), está em fase final pré-clínica concluída, já submetida à Anvisa e em busca de parceiros na indústria.

Os laboratórios de campanha realizaram ainda 261,65 mil testes em universidades, com mais de 2.800 sequências de amostras já realizadas. “As linhagens P1 e P2 e linha britânica foram feitas pela rede em todo o território nacional. Ou seja, quando se fala da linhagem P1, identificada em Manaus e no Rio de Janeiro, foi descoberta pela Corona-Ômica”, explica Morales.

O secretário destaca que a rede não encerrará as atividades com o fim da pandemia, pelo contrário, os estudos permanecerão no sentido de enfrentar viroses emergentes e reemergentes posteriores. “Estamos colhendo os frutos agora com a produção pela Rede Vírus de kits sorológicos, diagnósticos e testes rápidos, aplicados em laboratórios de campanha.”

Participações

O evento foi coordenado pelo 7º diretor Distrital da APM, Marcos Cabello dos Santos, e teve também a participação do presidente da Associação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes.

“É um momento muito oportuno ter um filho de Bauru [Marcelo Morales] hoje como referência em tecnologia no nosso País. É impactante também colocar a importância do Ministério junto às universidades e associações. O mais relevante do trabalho que vocês estão desenvolvendo é poder trazer para o público essas ações porque, muitas vezes no nosso dia a dia, ficamos distanciados do que estão desenvolvendo”, agradeceu Cabello.

Na mesma linha, Fernandes enalteceu as estratégias desenvolvidas pelo MCTI, na figura de Marcelo Morales. “É o exemplo da pessoa certa no lugar certo. Tem competência pela sua história, trajetória e pelo que já construiu. No momento de grande insegurança da população e de grande polarização, de pessoas sem noção no que falam, precisamos de seriedade e a figura do professor Marcelo.”

Por fim, Amaral reforçou que Ciência se faz com pesquisa e bons pesquisadores comprometidos. “Marcelo, o seu valor enquanto médico e pesquisador pode ser medido pelos resultados de suas pesquisas e publicações. E você se excede na sua capacidade de agregar pessoas, realmente eleva exponencialmente a capacidade de produzir e trazer frutos tão importantes.”

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