Especialistas comparam Telemedicina brasileira com a de outros países do mundo

A Telemedicina já é uma realidade em muitos países, inclusive no Brasil. Em alguns lugares, há uma capacitação específica para o médico lidar com o modelo de assistência

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A Telemedicina já é uma realidade em muitos países, inclusive no Brasil. Em alguns lugares, há uma capacitação específica para o médico lidar com o modelo de assistência.

E para comparar experiências ao redor do mundo com a realidade brasileira, a Associação Paulista de Medicina e o Transamerica Expo Center promoveram o Warm Up São Paulo – evento de aquecimento ao 2º Global Summit Telemedicine & Digital Health, que acontece de 2 a 5 de junho de 2020.

O encontro, realizado em 30 de agosto na sede da APM, contou com a presença de especialistas reconhecidos e acadêmicos da área. O diretor médico e General Manager da Teladoc, Caio Soares, informa que os Estados Unidos talvez seja o país que lidera em experiências com a prática de Telemedicina, com volume esperado de crescimento de quase 100% em volume de consultas não presenciais este ano, comparando com 2018. “É uma onda de adesão ou transformação cultural/comportamental bastante significativa da população americana”, destaca.

Na outra ponta, a China também apresenta iniciativas de dimensão significativa na prática de Medicina virtual. “Porém, lá existe uma dificuldade técnica interessante: a internet é controlada pelo governo e a banda varia de acordo com as questões sociopolíticas do momento. Então, se há uma greve, uma paralisação em quaisquer cidades, há corte ou diminuição violenta da conexão disponível para a população. Apesar de ter um ambiente tecnológico, essas questões interferem no desenvolvimento de empresas chinesas ou na ida de outras ao país. Por outro lado, iniciativas desenvolvidas e lançadas na China estão começando a vir para a nossa realidade e, sem perceber, já usamos várias delas”, esclarece Soares.

Na Inglaterra, houve um avanço grande no processo legislativo, aproximando-se da realidade norte-americana. No Canadá, também houve liberação às consultas virtuais, assim como na Espanha e em Portugal. “Na Alemanha, ainda não está 100% regulamentada, algumas limitações são muito parecidas com o processo que vivenciamos”, acrescenta o especialista.

Protagonismo médico e participação do paciente
“Vejo a Telemedicina como um momento crucial para o protagonismo da carreira médica. No entanto, infelizmente, na nossa área, desde os primórdios do desenvolvimento tecnológico, sempre nos omitimos do processo, em vez de participar mais ativamente daquelas mudanças que estavam batendo em nossas portas”, reforça o diretor da holding Dal Ben Home Care & Senior Care da Clínica Althea, Rogério Rabelo.

Nessa mesma linha de pensamento, o gerente médico de Telemedicina do Hospital Albert Einstein, Eduardo Cordioli, frisa a importância de participação do assistido na discussão. “Talvez tenhamos que envolver o ator principal dos sistemas de saúde no debate, que é o paciente. Temos que perguntar a ele como vê a Telemedicina. Porque é ele quem decide e tem o direito constitucional de autonomia.”

A facilidade de acesso à consulta, outro ponto importante que, segundo o CEO e fundador da Neomed, Gustavo Kuster, tem que entrar no diálogo. “Muitas vezes, o paciente não quer se deslocar ao consultório do médico. Com a jornada apertada entre ir ao local e esperar para o atendimento, tudo poderia ser facilitado com a tecnologia.”

“A experiência do usuário é essencial para que a Telemedicina vá para frente, não apenas a questão de legislação e financiamento. Se tivermos tudo isso sem foco no paciente, mesmo com a tecnologia adequada, segura, clara e eficiente, deixaremos esse projeto morrer. Portanto, Telemedicina tem como foco conectar pessoas em prol da saúde, profissionais e pacientes”, concorda o diretor executivo do Siate, José Luciano.

O professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Chao Lung Wen defende a coparticipação ativa das sociedades de especialidades, além da obrigatoriedade de formação do médico para lidar com o modelo. “Como para dirigir um carro, você precisa fazer curso em autoescola e ser aprovado com certificação no departamento de trânsito para ter a carteira de habilitação, a Telemedicina também não é algo inócuo. Pode gerar vazamento de dados, ter imprudência, problemas para o paciente. Por isso, a estruturação de cursos para ensinar sobre ética, responsabilidade digital, humanização de cuidados e vários itens é necessária”, avalia.

Por fim, Rabelo e Soares são categóricos ao reforçar que o atendimento a distância através de ferramentas tecnológicas é um caminho sem volta. “Precisamos desmitificar ainda que não é um fenômeno novo, apenas é inovador em algumas das modalidades de prática médica virtual. Não é presencial, mas consegue dar acesso a pessoas que não teriam condições de chegar ao local e diminui o tempo de atendimento em filas. É tornar a Medicina mais humanizada, apesar de não ser presencial”, conclui Soares.

O encontro foi moderado por Antonio Carlos Endrigo, diretor de Tecnologia da Informação da APM e presidente do Comitê Organizador do Global Summit Telemedicine & Digital Health, e por Jefferson Gomes Fernandes, neurologista e presidente do Conselho Curador do Global Summit Telemedicine & Digital Health.

Fotos: BBustos Fotografia