Global Summit Telemedicine & Digital Health: palestras e interação no primeiro dia

Na última quarta-feira, 3 de abril, centenas de pessoas estiveram no Transamerica Expo Center para as primeiras atividades do Global Summit Telemedicine & Digital Health, evento internacional inédito no País e idealizado pela Associação Paulista de Medicina

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Na última quarta-feira, 3 de abril, centenas de pessoas estiveram no Transamerica Expo Center para as primeiras atividades do Global Summit Telemedicine & Digital Health, evento internacional inédito no País e idealizado pela Associação Paulista de Medicina. Ao longo do dia, médicos e profissionais da Saúde e da Tecnologia da Informação, entre outros, puderam acompanhar discussões de altíssimo nível sobre o que há de mais recente em Telemedicina e Saúde Digital.

Em uma das salas, por exemplo, Chao Lung Wen – professor e chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, além de membro do Conselho Curador do Global Summit – falou um pouco sobre metacognição e as características que os profissionais da terceira década do século XXI terão de ter. “Será necessário observar e associar ideias; formular boas perguntas; ter opiniões relevantes; saber sintetizar aspectos significativos; pesquisar e avaliar informações; trabalhar em equipe; identificar problemas e elaborar soluções; além de ter habilidades de comunicação e empreendedorismo.”

Conectando-se com o tema da mesa “Educação em Telemedicina Responsável, Eficiente e Sustentável”, Wen também trouxe alguns detalhes da plataforma educacional Inovalab da FMUSP, que funciona como um hub on-line de conteúdos para ensino. O especialista também tratou de algumas necessidades que as faculdades brasileiras ainda têm para avançar nesse aspecto, como falta de conexões em anfiteatros ou de interligação de laboratórios.

“Precisamos criar modelos educacionais visando 2025 e acabar com o medo que temos da Inteligência Artificial (IA), incorporando-a em nossa educação. Estou pensando em ensinar os meus alunos a usarem a IA para fazer colas de provas, para estimular a aprendizagem”, brincou ao finalizar sua exposição.

Na mesma mesa, György Miklós Bohm, professor da FMUSP, falou um pouco sobre o futuro com a Telapatologia. “Há, já alguns anos, grandes máquinas cognitivas que fazem diagnósticos competentes. Então, o que teremos em um primeiro momento serão patologistas convivendo com robôs. Posteriormente, haverá a total substituição deste profissional, com uma IA lendo a imagem e realizando o diagnóstico”, previu.

Neste espaço, também falaram os especialistas Raymundo Soares de Azevedo Neto, Marcos Loreto e Alexandre Taleb. Eles trataram de temas como os aspectos mais importantes na organização de serviços de Telemedicina, a organização da Telemedicina acadêmica em operadoras de saúde e a inovação em serviços de Telemedicina em Oftalmologia.

HL7
Para os mais técnicos, houve a mesa “Implementando a Interoperabilidade em Sistemas de Informação em Saúde: Os padrões Health Level Seven (HL7)”, ministrada por Renato Sabbatini, vice-presidente do Instituto HL7 Brasil, e Marivan Abrahão, presidente e diretor do Grupo de Trabalho de Terminologias do mesmo instituto.

Ao longo do dia, os especialistas da área médica e de tecnologia se dividiram para tratar de temas como terminologias (CID 10, CID 11, Ciap, Cipe, Loinc, Tuss, etc.), padrões de intercâmbio de dados, padrões de integração do HL7, padrões semânticos e de arquitetura de S-Res, a interoperabilidade baseada em padrões e o futuro dos padrões de informação em Saúde.

Paulo Rogério Rades, que atua no desenvolvimento de produtos para sistema HL7, explicou que os sistemas de informações hospitalares são construídos em camadas. Assim, funcionam sempre bem as partes administrativas, financeiras, de recursos humanos, entre outras, tendo como problema, apenas, a parte clínica. “É aqui que está a dificuldade do intercâmbio de dados para que os profissionais os utilizem em tratamentos”, disse, antes de buscar refletir sobre possíveis caminhos para a integração entre sistemas distintos.

“Hoje, o médico pede exames por um papel ao paciente , que vai ao local e pega o resultado em outro papel e retorna ao médico. É um sistema medieval. Poderíamos fazer isso se o médico que está no hospital tivesse um software que transmitisse uma mensagem eletrônica – que seguisse algum padrão, como o HL7 – para solicitar o exame. E que os resultados fossem devolvidos por algum modo que o médico os visse por um software”, exemplificou Sabbatini, que também é diretor do Grupo de Trabalho de Educação e Capacitação Profissional do Instituto HL7 Brasil.

Hospital Albert Einstein
Houve um espaço inteiro dedicado às atividades programadas pelo Hospital Israelita Albert Einstein, com coordenação do presidente da entidade, Sidney Klajner, e do gerente médico de Telemedicina do hospital, Eduardo Cordioli. As discussões se dividiram em três grandes eixos: “O médico virtualista: desenvolvimento de habilidades necessárias para a nova era da Medicina”; “Exemplos práticos de inteligência artificial e saúde”; e “Exemplos práticos de Big Data e Analytics em Saúde”.

Edson Amaro, responsável pela área de Big Data Analytics do Albert Einstein, afirmou que os maiores desafios de hoje são: construir uma equipe engajada com experiência, energia, talento e tempo, além de ser interdisciplinar e não apenas multidisciplinar. “Não adianta cada um fazer o seu lado, é preciso que todos entendam o que os outros fazem também”, disse.

O especialista completou ao dizer que é desafiador estabelecer a governança e o acesso aos dados, além de criar uma cultura de compartilhamento de dados – o que definiu como uma jornada de longo prazo. “Os dados só têm valor se forem utilizados. Precisamos entender isso e que se formos trazer cientistas de dados de grandes companhias para a Saúde, é necessário que o deixemos fazer a diferença”, declarou Amaro.

O presidente do Albert Einstein finalizou: “Temos que começar entendendo qual a nossa atuação enquanto provedor ou gestor. Qual a missão de nossa organização e qual será a área de atuação para entregar o que está na missão – de forma que o custo seja efetivo e não haja desperdício. Aí sim a Telemedicina, a transformação da Medicina, a big data etc. passam a ser ferramentas, não propósitos”.

Trabalho em grupo
Por fim, houve o espaço de Health Thinking, que teve como mote “Transformando a Área da Saúde por Meio das Tecnologias Exponenciais – Uma Dinâmica para uma Agenda Positiva na Área da Saúde”. A mesa foi coordenada por Wagner Sanchez, diretor de graduação da FIAP e coordenador do MBA Healthtech, e por John Lima, coordenador de graduação da FIAP.

O intuito foi entender como a disrupção digital está intrinsecamente relacionada ao futuro do mercado de Saúde. Também houve a tentativa de distinguir a cadeia de valor do segmento e entender como ele está se transformando de forma acelerada nos últimos anos. Com a dinâmica de Design Thinking, os presentes discutiram o que importa neste cenário para as carreiras profissionais, governos e população, sob a ótica de blockchain, internet das coisas, big data, realidade aumentada e virtual e wearables, entre outras ferramentas.

Assim, os presentes foram estimulados a se dividirem em grupos e a pensarem em soluções para todas as partes da jornada que um paciente enfrenta quando necessita de um atendimento médico. As ideias abarcaram desde a afecção dos sintomas e a recepção do paciente, passaram pela triagem e o atendimento clínico, e foram até a parte de medicação, exames e alta. Os presentes, inclusive, votaram na melhor ideia presente como se fossem investidores que aportariam dinheiro em startups.

A ideia mais votada foi da etapa de recepção de pacientes. Consistia em uma ferramenta para encurtar o tempo da jornada do paciente, eliminando algumas etapas de escolha do prestador e triagem. O paciente que tivesse, por exemplo, um infarto, avisaria os sintomas em um chatbot, que utilizando big data e um possível wearable saberia identificar o problema. A partir daí, o sistema acionaria uma ambulância, que o levaria ao tratamento. A tecnologia de blockchain recolheria a autorização do convênio e direcionaria o paciente ao local mais apropriado de tratamento. Ao chegar, não haveria necessidade alguma de triagem, já que o chatbot já teria informações, que seriam somadas às enzimas recolhidas na ambulância, permitindo que o paciente fosse encaminhado diretamente ao médico, que já saberia de todos os dados.

Fotos: BBustos Fotografia