Tertúlia acadêmica recebe Nelci Zanon, da ABMM

Na última quarta-feira (11), a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) e a Associação Paulista de Medicina (APM) realizaram mais uma tertúlia acadêmica, sobre “Cirurgia fetal: consensos e controvérsias”.

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Na última quarta-feira (11), a Academia de Medicina de São Paulo (AMSP) e a Associação Paulista de Medicina (APM) realizaram mais uma tertúlia acadêmica, sobre “Cirurgia fetal: consensos e controvérsias”.

Antes do início da apresentação, José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM e da AMSP, apresentou a palestrante convidada Nelci Zanon, neurocirurgiã pediátrica, presidente do comitê de Neurocirurgia pediátrica e presidente eleita da Associação Brasileira de Mulheres Médicas (ABMM).

A cirurgiã trouxe em sua exposição uma agenda de fatos da cirurgia fetal a serem discutidos, desde seu surgimento, princípios fundamentais e as avançadas práticas realizadas atualmente.

“Parte do nosso trabalho é encontrar o porquê as pessoas adoecem e, com isso, atuar para evitarmos que a doença se instale. Nunca é tarde para lembrar que devemos manter a ética à ciência e moral, para que nosso resultado beneficie não só o paciente, mas também as famílias e a futura comunidade científica, que irá nos seguir e aproveitar parte do que aprendemos em nossa caminhada”, iniciou.

Diante do cenário enfrentado atualmente, Nelci debateu uma citação do famoso biólogo e filósofo britânico Thomas Huxley (1877), que disse: “Aprenda a escrever para o que é certo.”

“No momento em que circulam informações desencontradas, é importante continuarmos do lado da verdade quando não a temos, e buscá-la para ser divulgada e compartilhada para o bem de todos”, reflete.

História da cirurgia fetal

Na década de 1960, aconteceu a primeira intervenção em feto humano, tratando uma Hidropsia com infusão abdominal de sangue. “Entre 1970 e 1980, a Universidade de São Francisco já iniciava as cirurgias fetais em humanos, na área de neurocirurgia, envolvendo Hidrocefalia e Teratoma Sacrococcígea. Apesar dos avanços, somente nas últimas três décadas realmente aconteceu uma expansão da cirurgia fetal, com o desenvolvimento de aparelhos de ultrassom, técnicas para histerotomia aberta e acessos minimamente invasivos”, explica.

Na especialidade, as duas patologias mais envolvidas são a Hidrocefalia e a Melomeningocele. E embora a Hidrocefalia já estivesse presente no primeiro encontro internacional da sociedade de medicina fetal em 1982, até hoje não se tem todas as respostas sobre a condição. “Ela é muito prevalente, segundo estudos, estima-se que tenhamos 100.000 novos casos de nascidos vivos com a doença, a maioria deles em países de baixa e média renda, ou seja, América Latina, Ásia e África”, salienta.

Segundo a especialista, é cada vez mais comum casos de Hidrocefalia Fetal e Ventriculomegalia chegarem no consultório médico com a mãe gestante apresentando alterações no ultrassom, com muita angústia e ansiedade. “O primeiro papel do profissional é tranquilizar a mãe em relação à Ventriculomegalia Fetal, pois metade dos casos ficam estáveis e apenas 15% progridem. E a intervenção na Hidrocefalia Fetal ainda não está comprovadamente superior à derivação do ventrículo peritoneal pós-natal, mesmo em trabalhos recentes”, complementa.

O estatuto do embrião também foi um tema relevante abordado pela cirurgiã, que se refere à questão da proteção moral e jurídica a conceder ao embrião humano em diversos contextos (aborto, procriação assistida medicamente, experimentação etc.), e influencia o comportamento e o tratamento direcionado aos seres humanos. Por isso, quanto mais elevado o estatuto do embrião, mais sólida deve ser a justificativa para a realização de alguma intervenção.

“Toda cirurgia fetal tem riscos, tanto para a mãe quanto para o feto, por isso, os riscos e benefícios devem ser pesados em cada circunstância e caso, para que o benefício supra os riscos. Quanto mais preservamos esses direitos legais, mais iremos proteger a vida humana desde o seu início, independentemente de onde consideramos que este início aconteça”, ressalta a cirurgiã.

Neurologia

A Mielomeningocele é a principal doença com indicação neurocirúrgica e evidências que suportem a indicação de cirurgias fetais. Ainda é importante causa de morbidade e mortalidade preveníveis, podendo ser evitada com a ingestão de vitaminas antes da concepção. No Brasil, a prevalência é estimada entre 1,4 a cada 10.000 nascimentos. “O País trabalha bem na prevenção da Mielomeningocele, pois tivemos a fortificação das farinhas em 2004. Segundo estudos, tivemos uma diminuição de 22,8% dos casos”, destaca.

Outro ponto importante levantado pela palestrante foi sobre o diagnóstico realizado por ultrassom obstétrico, que monitora o desenvolvimento do bebê, avalia a placenta e o líquido amniótico. No Brasil, se tona cada vez mais frequente tanto na rede privada quando no SUS.

“É um grande desafio você constituir uma equipe de cirurgia fetal, nossos egos às vezes são limitantes. A prematuridade necessita de uma excelente UTI neonatal, e apesar de a cirurgia aberta ser mais difundida, a Fetoscopia está como a mais promissora no momento. A prevenção é o compromisso de todos nós, não só no Brasil, mas também no mundo”, finalizou.

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